sexta-feira, 14 de março de 2008

Outros Blogs

Resolvi adicionar links a dois blogs que gosto muito.
O dopiomcj é da minha amiga Maína, que trabalha com imagens, arte final, web e acho que por isso, seu blog é farto de fotos lindas e vídeos interessantes. todo dia dou uma espiadinha pra ver as novidades.
O outro, do meu primo Paulo, médico e linguístico (será que é assim que se escreve?) muito bom para dicas de cinema, livros, discos e viagens.
Leiam e comentem o blog deles...

quarta-feira, 12 de março de 2008

1- A senha do meu micro

Não sei porquê inventaram de por senha nos micros da biblioteca. Tempos atrás a senha, que nem me lembro mais, era uma palavra comum, tipo de gente civilizada: Let´s, Biblio, XPTO. Mas as senhas tempos em tempos, expira e temos que trocar. Vai daí, quando prazo da senha começa a vencer, o micro começa a dar a mensagem: sua senha expira em 15 dias, quer modificar agora? Eu clicava no NÃO.
No dia seguinte: sua senha expira em 14 dias... cliclava NÃO.
Sua senha expira em 13 dias, 12 dias, 11 dias.... até que numa sexta-feira não teve jeito e mudei para MERDA. Quando foi na segunda-feira seguinte, dia do meu rodízio, dia em que estou sonolenta e etc.... digitei a senha anterior, aquela de gente civilizada, e deu SENHA INVÁLIDA.
Merda! Eu disse, e aí pimba! Lembrei da nova senha e conclui que era a melhor de todas: i-nes-que-cí-vel. Passou meses e o micro voltou dar a mesma mensagem: sua senha expira em 15 dias, 14 dias 13 dias.... mudei par BOSTA e deu certíssimo. Também não esqueci.
Acontece que ontem expirou de novo e na correria, digitei BOSTA para a nova senha (eu já tinha mudado meses atrás para MERDA) e não prestei atenção na mensagem e entendi que devia digitar a anterior. Digitei MERDA, pediu para repetir e acho que digitei BOSTA.
Hoje, cheguei alegre e feliz na biblioteca, ligo o micro e estava lá piscando: digite a sua senha. Digitei BOSTA. Senha inválida. Digitei MERDA. Senha inválida. Putz! Pensei, não é merda e nem bosta, que merda eu fiz? Misturei a merda com a bosta, digitei MBOSTA não deu, bosta com merda: BMERDA, não deu.
Aí meu, fudeu, pensei.
Mas agora, graças a superhipermegablaster Vilani, que resolveu o meu problema, voltei para a MERDA

26/02/2008

2 - Beleza pura

Aaahhhh, essa biblioteca da FAU, quantas inspirações ela não me dá?
Cheguei aqui em 2001, era agosto, fim do inverno, mas ainda frio, muito frio e achei chiquérrimo ela usarem luvas de lã sem dedos, para digitar, não preciso dizer que as copiei rapindinho.
Fui conhecendo os meus (quando existiam) e as minhas colegas de trabalho aos poucos. Sou tímida, você sabe, e fui me interando dos jargões e das manias de cada um, seus tipos, tipinhos e tipões. Tropecei no puf roxo até descobri que era a Neusa, conheci a tia Sumaya através da Emily, por telefone, aprendi tomar chá vermelhinhos com a Edla, fugir da costureira-maluca Lisely, tomar conselhos com Araci, entrar em greve com a Regina, ficar zen com a Célia e a ter cuidado com as insanas mansas, que não são poucas.
E o tempo passou, a biblioteca cresceu, comecei a pegar o jeito, por osmose, e estou descartando feito louca, só não posso me esquecer da Célia, descarta-la jamais! Basta a Reitoria querer mandar embora nossas 69, número tão sugestivo! Mas que na Usp deixam as mulheres a beira de um ataque de nervos.
Contudo, nem tudo são flores e alegrias. De uns anos pra cá a coisa começou a complicar, as emoções se misturam em caracóis e cabelos de medusa, modernamente esticado na chapinha, é claro. Como a maioria aqui é mulher, e sabe cumé ki é, aquela concorrência de quem é mais gostosa, chique e fashion? Aí desembestaram a costumizar as roupas. É um tal de aumentar decotes, fendas das saias até onde Deus permite, sobem e descem barras das saias; compram desesperadamente coleções de colares, até parece que são girafas! É botox dali, tira peito daqui, aspira banha de acolá, trocam receitas de regimes, a Let’s até parece anorexica! A escova progressiva, nem se fala, virou febre: 4 entre as vinte! E a massagem na Matemática? Tem fila!
Creminhos da Avon e Natura para peles oleosas-secas-mista, para cabelos, para estrias, celulites, para qualquer coisa....a Vila fatura!
Mas não pense vocês caros leitores leigos das manhas uspianas, que estas pobres mortais são descontadas no contra-cheque, quando se deitam e deleitam em mesas de operações, não meu bem, tudo respeitando os direitos e deveres celetistas, apresentam um atestadinho do INPS ou descontam os dias daquelas férias vencidas, que ninguém mais se lembra que existiam.
Quiçá no futuro, até teremos nota fiscal eletrônica da Vilani, só para ter o descontinho nos impostos.
Aaaahhh! Como é bom trabalhar aqui. Acho até que, se um morcego resolver dar uma passadinha nesta biblioteca, tem grandes chances de se tornar uma Lady Laura.
Letícia - 29/02/2008

3 - Meia Nove, a melhor idade.

Trabalhar na USP é pior que participar do Campeonato Brasileiro de Futebol, se este é uma caixinha de surpresas, aquele é uma implosão de emoções, que são tantas e capazes de arrepiar os caracóis de nossos cabelinhos com escovas progressivas.
Era uma segunda-feira ensolarada de janeiro, repito, dia do meu rodízio, dia que fico trupicando nos pés e batendo a cabeça de tanto sono. Geralmente sou que nem corno: o último a saber, mas neste dia estava completamente outsider e não percebi o zumzumzum do lado de lá da minha sala.
Aí para saber do acontecido, a Mony teve que me ligar em casa já a noitinha, deixando seus filhos de lado – coitados- berrando pelo jantar! só para contar que as nossas queridas beach-girls e a conselheira para assuntos diversos, vulgo, Emily, Edla e Araci respectivamente, receberam uma carta da Reitoria lembrando-as – e precisava lembrar? – que completarão 70 anos e por conseqüência, serão aposentadas querendo ou não. Foi uma choradeira. Cruzes, eu disse, fudeu.
Foi um tremendo choque, uma falta de ética revoltante, falta de sensibilidade, falta de etceteras, não só porque espalhou para o mundo! que as meninas estão no meia-nove, como também serão praticamente expulsas desta magnífica instituição; como se as nossas super-hiper-mega-blasters girls não tivessem mais utilidades.
Ficamos catatônicos. E agora quem vai nos servir chazinhos vermelhos e rosas? Quem vai nos atualizar com as novidades do mundo fashion? Quem vai comprar revista pensando que é livro? E a tia Sumaya? Como é que fica? Quem vai nos interromper de 5 em 5 minutos: - Ki Ki é bem? Não escutei [aí a gente repete a conversa desde o início, que nem sempre chega ao fim].
E eu, que ficarei sem a minha consultora para dias melhores que estão por vir? Vocês sabem que a Araci é uma ótima conselheira para todos, outros e quaisquer assuntos, principalmente os sexuais. É só mentalizar a coisa que você quer, que pimba! Dá certo. Juro que estou tentando.
A Edla com aquele bronzeado de rica, que pobre não bronzea, tosta; caiu em prantos: quem vai cuidar do meu Kardex? Buááá´. Mas como uma lady já deu a volta por cima. Decidiu esquecer este momento 69 deprê e vai dar um rolê logo ali nos unaites estades.
A Emily, também com o bronzeado ubatubense de gente fina, ficou um pouco mais aérea e não sabia se ia ou se vinha, mas não chorou. E nós não percebemos muita diferença no seu comportamento.
Já a Araci foi mais racional: pôs as cartas na mesa, digo, todos os santinhos que podemos imaginar, fez uma prece pra Deus Nosso Senhor, Nossa Senhora, Santa que desata nós, santo Expedito, São Jorge, Nossa Senhora de Aparecida, ufa! E fez um contato imediato para a filha verificar na reitoria, como é que é esse babado.
Segundo investigações sigilosas, a aposentadoria compulsória é para autárquicos e elas são CLTs e só sei que nesse vai e vem de notícias desencontradas elas estão se fingindo de mortas, no deixa como está pra ver como é que fica.
Porém, esta situação está deveras me preocupando, já levaram a Eliana, até o fim do ano quiçá, irão as três meninas, a Rejane saiu do processamento técnico foi para o empréstimo que já deu no saco e agora foi trabalhar com a Neusa. Daí pra rua é um pulo, cuidado! Nesse troca-troca a Regina saiu de trás e foi pra frente, para perto da porta de saída. Eu to de olho na Fau Maranhão. Desse jeito vamos ter que por a plaquinha:

O último a sair, favor apaguar a luz e tudo leva a crer que será um morcego.

26/02/2008

4 - Tédio

Que tédio!
Não, não vou falar do avião da TAM, já tem muita gente melhor que eu escrevendo sobre o acidente; e sim do tédio, do silêncio, das saudades dos colegas de trabalho.
Aqui, deste lado de cá da biblioteca, estamos eu, vulgo Let’s, a Edla Marie (Maria é pros pobres) e a companheira Regina. A minha mesa fica numa ponta da sala e as duas lá, bem lá longe do outro lado. Só escuto um burburinho da conversa entre as duas e o barulho dos meus cliques e das teclas teclando o teclados.
Que marasmo está aqui!
Por incrível que possa parecer, estou sentindo falta do telefone berrando para a Emily e da músiquinha do seu celular. Há dias não escuto; “TIA SUMAYA!!!” “ALÔ, ALÔ DÁ PRA FALAR MAIS ALTO?”. “AINDA CHOVE NO MEU APARTAMENTO!”. “O SENHOR AINDA NÃO MANDOU A COTAÇÃO”.
Estou sem a minha companheira de café para falar do Jack Bauer (lindo e porreta); trocar figurinhas sobre filmes; para saber as últimas notícias do uol.com.br, do estadao.com.br e outros pontocompontobr....
A Vila, mesmo silenciosa e falando baixinho, ainda produz algumas ondas sonoras.
Da Célia vem o barulho da impressora, principalmente quando as etiquetas “engastalham no rolo da impressora” (#@$&*$*#*#!!!!*&!); o som metálico da tesoura sendo colocada na mesa e o infinheki da fita transparente (durex é pros pobres)
Falta também a Eliana dando os últimos informes dos babados lá de baixo: diretoria, tesouraria, compras e afins.
Até o Katinsky sumiu! Sinto falta do seu bordão: “Ah Rá! Tá todo mundo conversando! Cadê a chefa?”. Até tu, Brutus! Nos abandonou.
E os puxa-sacos? Onde estão? Tô de diretora há 9 dias e ninguém me deu nada, nem um bolinho, uma bolachinha, um pão de queijo, um chazinho, nadinha....
Será que já se acostumaram com o meu estilo light de chefia? Será que terei de endurecer, sin perde la ternura? Esta é a primeira crônica que não termina com a frase: “e fomos comer bolo para comemorar” Fim xôxo, não?
18.07.2007

5 - Ériquinha! (Feliz aniversário)

- ÉRIQUINHA!
É assim que eu a cumprimento quando a encontro sentada no micro, digitando, digitando, com aquele negocinho no ouvido.ÉRIQUINHA! Boa tarde!, não sei porque ela se assusta? Dá um pulo na cadeira e diz: AI! Que susto! É um maior furdunço, só porque falo um pouco alto: É-RI-QUI-NHA!

Lógico que capricho no É da Érica. O diminutivo é um agrado que não sei se agrada, mas acho que combina com a meiguice de sua pessoa.
Mas tudo isso só acontece quando ela aparece, quando não tem trabalho da faculdade, quando está bem de saúde, quando o ônibus a deixa chegar, quando ela acorda cedo, quando, quando, quando, sei lá mil coisas..... É-ri-qui-nha é uma caixinha de surpresas. Todos os dias nos perguntamos:
- Será que ela vem?
E se não vem:
- Será que ela está doente?
Não faz muito tempo foi um auê, aqui no lado de cá da biblioteca. Nossa Ériquinha sumiu uma semana sem dar satisfação. A Célia, a Regina, a Mony, ligavam para o celular e caía na caixa postal, ligavam para a casa e ninguém atendia, ligavam para a mãe e necas de pitibiribas... Aí pensamos o pior:
- Tá no hospital entubada.
- Mas a mãe nos teria avisado.
- Foi seqüestrada.
- Será?
- Liga na ECA!
- Cruzes, nem tanto...
- Ah! Há! Descobri! – gritou a Regina – Ela não vem porque tem um monte de trabalho para fazer.
- Aaaaaaa boooommmm..... fizemos em coro. Mas bem que podia ter avisado, né?

Já avisei para a Ériquinha trocar de profissão, bibliotecária não tem futuro.
Já falei vai ter que agüentar us susuários chatos, vai ter que dar assunto e classificação pra livro que ninguém vai ler e depois vai destombar e descartar; vai ter que procurar livro que ninguém encontra; vai ter que descobrir se, aquele livro de capa colorida tamanho médio em inglês, é o que o professor jura que consultou um dia na sua vida. E mesmo assim, ela insiste em estudar biblioteconomia; pra mim, aquele negocinho no ouvido não a deixa escutar a voz da sabedoria!. Reclamou que só a avisei no último ano do curso, oras bolas, nunca é tarde para mudar.

- Ô ÉRIQUINHA! Eu tô avisando....Mas já que você insiste, persiste e não desiste, vamos comemorar o seu aniversário. Vamos ao bolo!

19/10/2007

6 - Customizando o puf

Lá se vão cinco anos desde que conheci o Puf Roxo e muita coisa mudou no mundo e na terra, que anda por demais aquecida e derretendo os nosso cérebros e nos obrigando a andar quase nus.
Há de convir que o modelito Puf Roxo é para inverno, e como a Neusa não está querendo transformar seu corpinho de Vênus-gueixa em molho shoyo, resolveu customizar o seu Puf Roxo.

Agora quando vou tomar café não vejo mais um alcochoado ambulante, mas uma cama-sexy-redonda-com-espelho-no-teto de salto quinze. O salto é para tornear as suas batatinhas das pernas morenas do sol do cepe.

Ela não contou o seu segredo, mas fazendo uma pesquisa em sites de moda e observando a mudança gradual da nossa colega, acho que encontrei a receita, que repasso a quem possa interessar (principalmente eu)

Receita da costumização:

- Espete o Puf para esvaziar tudo;
- Arranque as mangas;
- Uma bela tesourada no decote da frente e de trás até onde Deus permita;
- Sutiãs aos lixo!
- Joelhos, costas, ombros e colo sempre à vista;
- Ajuste o Puf o máximo que puder ao corpinho;
- Uma maquiagem definitiva;
- Um marido e/ou amante (sei lá, né) que compareça.

E enfim, a cama-sexy-redonda-com-espelho-no-teto, que treme, revira os olhos e suspira em meio aos slides, projetos e monitores está pronta para falar:

- MORRA DE INVEJA!.


07.03.2007

7- Zuleide

Não resisto, deve ser sina fazer da desgraça alheia o riso de alhures. A minha sina de falar dos outros em contos e crônicas já me colocou em maus lençóis e saias-justa, principalmente quando encomendam uma crônica, então vai esta que foi encomendada pela bruxinha Zuleide. Batizei-a com este nome, porque o que anda acontecendo nesta biblioteca só pode ser coisa de bruxinha chamada Zuleide.
Desculpe-me, não faço por mal, antes pelo riso e sorriso da Ira. É que há dias, numa noite caliente de vendaval nestes cantos de Sampa, assucedeu-se uma desgraça: a nossa amiga Luciene ao chegar em seu ínfimo lar, porém aconchegante, quis acender a luz, que não se manifestou. Ajustou então, o olhar à escuridão e qual não foi a sua surpresa ao perceber que o teto da sua sweet home havia despencado corroído por cupins. Inseto ou animal, ou sei lá que classificação dar a este vil personagem, muito comum nesta cidade.
Imagino o seu desespero, desânimo e tristeza ao ver todos os seus pertences em meio ao pó e pedras, quebrados, rasgados e perdidos para sempre. Imagino também o choro desesperado diante de tal catástrofe, e o que uma fumante podia fazer aquela hora, se não sentar-se ao meio fio e fumar, tragar o mundo bestialógico de injustiças? Eu faria o mesmo.
Mas nem tudo estava perdido, pois a Ira num ímpeto de bondade ofereceu-lhe guarida em sua modesta casa, a única condição era agüentar a Ira falando pelos cotovelos. Sem saída, aceitou o convite e lá foi a Luciene de mochila e cuia (a única que sobrou) em cima do seu salto plataforma, aboletar-se na casa da amiga.
Deus não tem culpa se levaram o carro da Lisely, se a carteira da Dina e as tintas da Rita sumiram, se levaram todos os toca-fitas da Lisely (de novo?), se chove na cama da Emily, se a Edla escreve de ponta cabeça, se a Let’s continua fazendo e não pagando promessas, se o teto do quarto da Ira também desabou e se todo mundo abona no mesmo dia.
Por isso concluo: Isso só pode ser coisa da Zuleide!

1/12/2006

8 - Sofia

Acho que já te contei que o dia que você nasceu foi inesquecível!
Tudo começou às 7 da manhã, quando você deu o sinal que queria sair da minha barriga, era a primeira contração, como dizem os médicos, que com o passar das horas foram aumentando e eu, que no início gemia às 4 da tarde urrava de dor. Até que às 18:08 h você veio ao mundo e senti o alívio i-nes-que-cí-vel!. E pensei:

- Pronto saiu. E agora que faço com isso?

O tempo passou, você foi crescendo e meus cabelos brancos também. Não preciso dizer o quanto você é importante na minha vida, quando grito: Sofia de Almeida Sampaio Ribeiroooo!!!, você sabe que só estou pedindo o seu carinho, as suas fofas mãos em meus cabelos e seus beijinhos. Lembra quando te ensinei a mexer no Orkut? E agora é você quem me ensina. E quando você me disse que estava precisando fazer novas amizades e eu perguntei se os 600 amigos do mensager e os 300 que tens no Orkut não bastavam? E respondeste que não. Morro de inveja deste seu dom de fazer amizades.

O que seria de mim se não tivesse quer lavar a louça que deixas na pia, arrumar a pilha de livros da sua escrivaninha, juntar todos os tênis espalhados pela casa, implorar que corte um pouco os cabelos, pedir a licença para usar o computador, ouvir todos os dias os discos do Rebelde e fazer promessas a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, a Nossa Senhora, São Longuinho e ao Santo Expedito que você passe de ano?

Aquela menina bochechudinha, sardentinha de olhos azuis, que batia o pé pedindo leite e pano mudou. Agora você é uma adolescente bochechudinha, sardentinha de olhos azuis que põe as mãos na cintura, bate o pé, e pede nuggets com coca-cola.


E aí me pergunto:

- E agora que faço com ela?

É difícil ser mãe, mas com você é divertido ser mãe. Começou com o médico que te trouxe ao mundo, o seu apelido de Faustão, já dá para imaginar como foi engraçado... A gente ri e dança, briga e faz as pazes, xinga e pede perdão, vamos ao cinema, exposições, feiras das vilas, você é a minha companheira, meu chaveirinho. E aí você pergunta:

- O que faço com essa mãe?

Agora, neste momento que estão lendo esta carta, você deve estar encolhida na cadeira, chorando e pensando:

- Ai que ridículo! Que mico! Tipo assim, minha mãe, falaaa sééérioo, meu. Nada haver. Isso é bizarro é tosco, aí meu Deus!

Mas fazer o quê? Esse é o meu jeito de te amar.

Te amo. Beijos e beijocas da sua crazy mamy

9 - Quando a Let´s resolveu estudar

A Let´s é uma bibliotecária que não faz o tipo engajada na profissão, lê textos da área de Biblioteconomia só quando é preciso, quer dizer, raramente. Como profissional, executa as rotinas necessárias burocráticamente.
E foi depois de vinte anos de sua formatura, que desconfiou que era preciso atualizar-se na profissão, hoje chamada de Ciência da Informação! Bonito nome não?
Entre tantas disciplinas, escolheu uma de nome bem grande : Produção e recepção de informações documentárias no mundo contemporâneo, ministrada por uma professora pequenininha. Mas como tamanho não é documento, chegou à conclusão que tamanho de conhecimento é inversamente proporcional aos centímetros de altura de qualquer pessoa.
As aulas começaram e logo de cara teve que ler um texto sobre metadados, metainformação, Html, xml e formatos de banco de dados. Seus neurônios começaram então, a despertar preguiçosamente, mas era urgente!
A Let´s passou a fazer caminhadas para ver se oxigenava e arejava o cérebro, o tico até que tentou funcionar, mas o teco se fez de morto e como o tico e o teco andam juntos, não surtiu efeito.
Veio em seguida mais dois textos e a professora pediu uma resenha dos três textos. Aí ela já começa a se descabelar: traduzir-entender-resumir-escrever uma resenha numa tacada só. Negligenciou os afazeres da casa, as roupas sujas transbordaram no cesto, esqueceu do mamão da filha, dia sim dia não, comeu pizza ou pão. Mas Deus há de iluminá-la. Pediu a São Longuinho para encontrar as palavras certas e nada, mas tinha que entregar a resenha e escreveu uma coisa pastosa e sem graça. Desculpou-se a si mesma considerando que seus tico-e-tecos ainda estão se espreguiçando de um longo sono de vinte anos.
Na terceira aula a grande mestra distribui os seminários. A Let’s toda empolgada escolhe o primeiro, teria dois feriadões para ler 120 páginas em inglês, pensou: a língua pode ser um obstáculo, mas nada como um bom dicionário. O que não imaginava era o conteúdo daquele negócio.
No primeiro feriadão descabelou-se com a resenha, no segundo jurou que leria tudo, que ilusão brother! Viajou para a cidade onde seus pais moram, toda equipada de textos, dicionários, cadernos, rascunhos, canetas, réguas, marcadores de texto, só não levou o notebook, porque não tem mesmo.
Chegando lá pediu ajuda ao pai, que sabe muito bem a lingua inglesa. Ele leu dois parágrafos e perguntou: “Para que você está lendo isso? “ Explicou que era para atualizar-se na profissão e aos novos paradigmas da ciência. Falou difícil para impressionar e ele soltou um huumm.. leu mais um pouco:
- Puxa, que coisa complicada, mas pra que isto? Resolveu explicar o que era thesauro, mas pelo menos isso a Let´s sabia.
Diante da constatação que teria que se virar sozinha, meteu a cara no texto. Mas a sua mãe começou a contar as suas dores da osteoporose. A filha atenciosa tentou faze-la ver que precisava estudar, mas a progenitora respondeu: “Você veio aqui para cuidar de mim e não para estudar”.
- Putz mãe, você está com o pé quase na cova e eu ainda tenho mais quarenta anos pra sobreviver, preciso estudar!!! Não adiantou e teve que preparar o almoço.
Mais tarde, recebeu a visita do sobrinho que morou nos Estados Unidos por um ano. Correu para mostrar o texto e pedir a tradução da palavra aboutness, que não tinha entendido e estava em todos os parágrafos das cen-to-e-vin-te-pá-gi-nas. “
- Tia ness é a substantivação da palavra.
-?!
- Pra que você está lendo isso, tia?
Sem comentários....
A esta altura, o dia da apresentação estava chegando. Revoluções cerebrais iniciam um turbilhão, os neurônios tentam recuperar informações no bakground do Id, o Ego desconfia que aí tem coisa, os avós do tico e teco começam a dar sinais de vida, as conexões ainda estão mal feitas, curtos-circuitos relevantes explodem, o tico sacode o teco, a Let´s joga os cabelos pra lá e pra cá para ver se o cérebro pega no tranco, engata a primeira, mas a bateria ainda está fraca e o recal é zero.
Num ato de loucura, expulsa a filha do computador para formatar as idéias e organizar o seu sistema de pensamento. Passa a noite digitando e escreve uma massa amorfa desconexa. Lê, não gosta, pensa em milhões de hipóteses para falar no dia seguinte. Pensa: vai dar certo, vai tudo correr bem só tenho que falar do aboutness, do indexador inconsistente que entendo muito bem, do usuário orientado, ainda que eu continue desorientada, da relevância, da informação, dos dados, da recuperação, dos sistemas. Ufa! Respira fundo e vai dormir.
No dia seguinte constada que não tem leite e nem mamãozinho para o café da manhã.
- Filha, hoje só tem pão, esqueci de comprar comida.
- Tá bom mãe, mas o micro é meu, hoje a noite, né?
Chega a maldita hora do seminário e a Let´s vai lá pra frente, na mão o seu roteiro e o coração em disparada. Tenta explicar o maldito aboutness e percebe que todo mundo já sabe, tenta mudar de assunto e vê na feição da platéia alguns desinteressados e em outros, olhares como querendo dizer: “você não está falando nenhuma novidade, mas apoiamos, vamos lá Let’s o seminário vai dar certo”
A voz falha, a mão treme, se perde. O tico cai duro o teco congela, o cérebro congestiona, como São Paulo na segunda-feira de pânico e a Let´s joga a toalha. Sai de cena, cai o pano, cai a ficha, cai o tico e o desgraçado do teco, que nem levantou, continua se fazendo de morto.
E desde então, a professora a lembra que precisa se esforçar, tem que ler, escrever e teorizar em cima da teoria dos metadados dos sistemas de informação, para recuperar a informação ao usuário orientado pelas bibliotecárias desorientadas e inconsistentes, as time goes by, em formatos xml, html, marc, Dublin Core, that no one can denay.
Well, it´s still the same old story, este sistema to be retrieval or not to be retrieval, that´s the question!

21.05.2006.
Música acidental: As time goes by

10 - Paramentada de aparelho

Cena: Eu de boca aberta, óculos de grau, em frente ao espelho do banheiro, passando fio dental en-tre-ca-da-fer-ri-nho-do-den-te.
- Puxa, meus dentes nunca ficaram tão limpos!
Primeiro escova com a escova dura, depois passa fio dental, com uma agulha de plástico.
- Difícil é achar o buraco da agulha....Hããã, foi.
Depois do fio, usa-se uma escova macia, depois aquela de tufo e por fim bochecho com anti-bactericida bucal.
- Como arde essa coisa!!!
- Arre égua! Ufa, acabou, preciso descansar.

Preciso de toda esta parafernália só porque agora, depois dos quarenta, tascaram-me um aparelho nos dentes, para tapar um buraco de um dente extraído. Risco na minha folhinha cada dia passado, como o dentista prevê dois anos e já se passaram 25 dias, portanto só faltam 705 dias para tirar este maldito aparelho.

Esta triste estória começou quando o dentista, muito atencioso e simpático explicou tintin por tintin como consertaria o buraco da minha arcada dentária e que por isso, teria que usar o aparelho por dois anos. Apesar de não conseguir imaginar como seriam os próximos 730 dias da minha vida, achei divertido, como toda criança que quer colocar aparelho. Fiquei animada com a possibilidade da minha fisionomia mudar. Você algum dia pensou mudar as suas marcas de expressão de lugar com um simples aparelho? Nem eu.
Mas quando contei para as minhas amigas a novidade, comecei a desconfiar que a coisa não seria tão divertida assim. A primeira a me animar disse: é sempre assim, o dentista fala dois anos e você fica seis.
A segunda avisou: não use o transparente, pois é arriscado principalmente quando você comer uma beterraba.
A terceira: reserve meia hora de sua vida a cada escovada. Fiz as contas: quatro vezes por dia: duas horas.
Outras opiniões: O bom que emagrece. Geralmente optamos por não comer só de lembrar que temos que escovar os dentes.
Nos primeiros dias tudo dói, aí quando você se acostuma, o dentista vai e crau, aperta e tudo volta a doer.

Voltei no dia combinado, não muito animada, mas aceitando o meu destino cruel. Em quarenta minutos o profissional cascou-me os ferrinhos. Fechei os lábios e já comecei a sentir o incomodo e saí do consultório matutando: Ah! Elas exageraram, não está doendo nada....
Contudo, ao chegar em casa com a barriga roncando, mirei o pãozinho francês e dei-lhe uma bela mordida. Dei não, tentei, pois foi aí que vi as estrelas brilharem na parede da cozinha e pude humildemente aceitar os avisos dos colegas.
- Arre! Não é que elas têm razão! Isso dói! Meu Deus agora faltam 729 dias e 22 horas para tirar essa coisa!!!!

Passado o susto dos primeiros quinze dias, adotei algumas táticas do programa Fome Zero: muito sorvete, Toddynho no lugar do pão de queijo-e-café; purê em vez de batatas fritas; pão quadrado no lugar do querido francês (esta é a pior parte!). Pipoca, só em casa. Prato ideal: arroz com carne moída, nada dói e a pasta desce pela glote na boa.

Outro dia arrisquei comer alface cortada em tirinhas, tive que chupar como tivesse comendo macarrão e por não conseguir triturar os alimentos, aquela coisa verde grudou na garganta e não descia. Tossi, engasguei, bebi água, muita água e aí foi. Ufa. Não como mais folhas verdes.
Mas há o lado bom: emagrecemos e os dentes ficam limpos: quando come, sai correndo para escovar os dentes; se estiver com preguiça de fazer o ritual dentário, simplesmente, não come e passa fome.
Por outro lado, quem tem filho pré-adolescente, como eu, ainda corre o risco de escutar a máxima: Mãe, adulto de aparelho é ri-dí-cu-lo!
Ao vigésimo-quinto dia aparelhada, já sinto minhas calças caírem, estou fechando a boca, a limpeza está jóia, melhor que nos meus últimos 46 anos, mas tenho o retorno marcado para a próxima semana, quando provavelmente o dentista vai olhar, vai falar:
- Huuummm, tá bom, ta jóia! Vai jogar aquela aguinha que espirra pra todo lado e dar o famoso aperto e eu, pobre de mim....voltarei a me alimentar de todynho, suquinho, leitinho, pãozinho mole, sopinha e outros inhos molinhos, só para não revirar os olhinhos de dor.


20/08/2006

11- Extraindo um cérebro

A minha saga de problemas dentários vem de longe, desde criança freqüento dentistas.Lá pelos idos dos meus lindos 15 anos, obturei umas 20 cáries, duas em ouro! Anos passaram, canais e coroas foram executadas, placa de bruxismo, limpezas, extração do sizo, tudo ou quase tudo foi feito em minhas arcadas.
Mas agora no alto dos meus quarenta e seis anos uma coroa caiu, provisoriamente deu para colar de novo, mas segundo o diagnóstico do meu irmão, dentista, seria necessário fazer um implante, então formou-se um pool de profissionais dentários para discutir o meu caso. Primeiro uma radiografia. Verificaram que não tenho osso para um implante, uma ponte? Também não, pois aquele dente que poderia segurar o falso é pequeno demais. Por que meus dentes haveriam de colaborar e facilitar a nossa vida? Não, tinha que complicar.
Aí pediram uma documentação, sem imaginar o que era, lá fui eu ao laboratório de radiografia. Passei a manhã tirando raio-X, fotografia de todos os anglos do meu rosto, boca aberta, boca fechada, de frente, de lado, boca arreganhada, molde e sei lá mais o quê.
O resultado foi encaminhado diretamente ao pool, que discutiram, analisaram e chegaram a magnífica conclusão: arranca o que sobrou do dente e coloca um aparelho.
Como não tenho medo de dentista, recebi a notícia numa boa. Arranca e coloca aparelho. Tudo parecia que seria uma cirurgia simples: anestesia, um corte na gengiva, o buticão, balançar o dente, afrouxar a raiz, um puxão e pronto, extrairia o dente, ou melhor, o pedaço que sobrou.
Cheguei na hora marcada, às 13:30 horas de uma quarta-feira. Sentei na cadeira, o dentista abaixou o encosto, de modo que fiquei deitada olhando ora o teto, ora as janelas. Uma sala clara e bem iluminada pelas imensas janelas, que mesmo deitada, podia ver o sol brilhar à minha esquerda num mês de julho atípico, fazia calor mas lá dentro o ar era fresco. Eu, paramentada de babador e guardanapo na mão, ele, de luvas cirúrgicas, óculos, preparando os instrumentos na bandeja; verifica a seringa da anestesia, mas percebo que são vários tubinhos, respirei fundo e pensei: vamos lá, coragem é só um dente, tudo acabará logo.
Uma picada ali, outra aqui, mais uma, outra no céu da boca, que dói pra burro. Fecho os olhos e tento pensar em outra coisa e idealizo umas férias em Cancun, que se esvai na primeira tentativa do dentista.
Sinto empurrar o dente para cima e para baixo, pro lado e uma lágrima de dor escorre.
- O quê que é? Vai chorar agora?
- Não, não, pode continuar, não é nada....
Mais um pico de anestesia e sinto a mandíbula indo para a esquerda e o maxilar para a direita, minhas atms reclamam, fico em silêncio, não podia levar mais uma bronca.
- Merda, não podia arrumar um dente mais fácil de tirar?
Não ouso responder, afinal de boca escancarada só podia rezar e rezei, rezei para todos os santos, fiz promessas a São Longuinho, à Nossa Senhora de Aparecida e nada.
O dentista fica de pé e muda de posição, com um instrumento que penso ser, uma chave de fenda, empurra o dente e sinto a costura do encosto da cadeira penetrar em meu cérebro.
- Caracoles! Não vai sair? - reclama o dentista
As horas passam, mais anestesia, sinto o sol queimar as minhas pernas, já devia ser três da tarde e a luta continua, meu irmão. Ele forçando o maldito dente, o maxilar quase caindo, a cabeça prensada na cadeira, tufos de gazes, anestesia, buticão, chave de fenda, chave inglesa, suas mão esmagando as minhas bochechas e? e nada, não queria sair.
Escuto o barulho do famoso motorzinho de dentista.
- Tá partindo para ignorância, pensei e rezei, é claro.

Lembro da dor do parto da minha filha. Dizem que é a pior dor que se pode sentir, mas pelo menos podemos gritar e xingar quem nos deixou naquela situação, inclusive toda a equipe médica que nos assiste, mas num consultório é só você de boca aberta sem poder falar nada e o dentista equipado de todos instrumentos de tortura.
O sol enfraquece, ele xinga mais um pouco, solto um suspiro profundo de cansaço, era uma luta quase vencida por um mísero pedaço de dente. Suplico que martele, mas ele responde que não pode fazer isto.
O crepúsculo, que não era dos deuses, tinge o céu de vermelho. E a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar... já dizia o Raulzito, anuncia o fim da luta às cinco e meia, hora de Brasília:
- Até que enfim! Ruge o dentista. Está aqui o maldito!
Olho para aquele pedaço infame de osso, tão pequeno sem saber se sentia alegria, ódio ou a felicidade de um parto, mas ele era como um filho indesejado, não quis saber dele, não quis guardá-lo como lembrança.
Senti então, os pontos sendo dados rapidamente, nem pedi outra anestesia, pois queria que aquela tortura acabasse logo, assim como ele. Cirurgia finda, voltou a cadeira em posição normal para que o sangue voltasse a circular em meu corpo e eu não desabasse ao levantar.
Dispensada corri para o elevador onde haviam dois homens e uma mulher. Me sentido um extra-terrestre com o rosto inchado, me justifiquei daquela situação:
- Está na cara que estou saindo do dentista, né?
A mulher deu um sorriso...
- E olha que é meu irmão!
- Nooossaaa, imagine se não fosse?
- Pois é, acho que vingou todos seus traumas de infância. É que eu tirei o seu posto de filho caçula quando nasci.
- Deve ser....
Térreo. Saí correndo para o carro e um choro compulsivo e descontrolado veio à tona. Dirigi de volta para casa. Meus pais vieram me receber à porta, pensei que fosse uma calorosa recepção, afinal nunca fazem isto, mas devido o adiantado da hora, quase 7 da noite, meu pai, meu querido e bom velho pai, me pergunta:
- você trouxe o jantar e o pão de amanhã?
Minha mãe equilibrando-se na bengala, só coração de mãe podia responder isso:
- Sampaio..... vá à M....
Agora, estou com aparelho nos dentes, mas isto... será uma outra história...

Letícia 29/07/2006

12 - Homenagem ao meu Rei.

Estou deveras triste, pois o meu rei, o meu muso, a minha fonte de inspiração, o Rodi se vai. Vai nos deixar e agora? quem vai encher o meu carrinho de livros, que quando estou prestes a esvaziá-lo, vem e diz:
- Ó, estes são compras.
- Estes têm produção científica.
- Estes estão pedindo com urgência.
- Este, não cabe no armário.....
E assim por diante, sempre com uma desculpa para encher o meu saco, ops, o carrinho. Mas às vezes o meu rei é um doce, me trás, junto com uns livrinhos, um bombom para adoçar a minha vida...
Mas só ás vezes!!!

Pois é, aquele baianinho que um dia largou o sol e a vida lenta de Salvador e veio de mala, cuia e papagaio, para tentar a sorte na apressada São Paulo, se deu bem, de tombador de livros virou um mestre filósofo ou será um filósofo mestre? Sei lá, pergunta pra ele.
Trabalhou por anos numa biblioteca obviamente cheia de mulheres, feito um paxá no seu harém, ainda que este harém não fosse lá essas coisas.

E foi nos primeiros dias de janeiro de 2006, ano do cachorro! que o Rodison chegou para a Emily e disse:
- Emily, ó, assim.. é que, então, eu fiz um concurso para professor...
- Que?! Peraí – arrumou a mesa, fechou todas as janelas do windows, desligou o celular, olhou para aquele ser pensante que a aguardava e disse: - Pode falar.
- Então, como eu estava falando, prestei um concurso ...
- Como? Concurso? De quê?
- Con-cur-so para ser pro-fes-sor no Es-ta-do...- falou meu rei, pau-sa-da-men-te tentando ser o mais suave possível com sua chefe, mas não adiantou muito.
- Mas então você vai nos deixar? Vai pedir demissão, peraí a gente pode ver com a Eliana, ou no DP, ou com o diretor, ou na Reitoria, para não perder o seu FGTS!

Com toda a paciência e a pressa baiana que Deus lhe deu, ele continua:
- É o que estou tentando lhe dizer...e...

Emily se agita, levanta da cadeira e solta um Ai Meu Deus! Não posso ficar sem você!
- Quem vai tombar? Quem vai destombar? Quem vai te substituir? Quem vai me agüentar? Quem vai controlar as compras? Quem vai preencher os pedidos? Quem vai atender o telefone? Quem? Quem? Quem vai?

E continuava agitada, anda pra lá e pra cá, toma um copo d´água, chama a Eliana:

- Eliana! O Rodison vai embora!
- Edla! o Rodison vai ser professor!
- O Rodison vai nos deixar!
- E agora Rodison? Como é que vai ser?

Estava para ter uma síncope cardíaca, um piti dos bons, então, ele suspira um suspiro profundo e diz:

- Diante de tantas perguntas as quais não sei se vou poder responder, assim, então, você Emily, tem que entender. As coisas mudam, a vida muda, as pessoas mudam e eu, não sei, é a vida. Um dia a gente está aqui, noutro ali, qualquer ser pensante é dialético e eu sou um ser pensante. Penso, logo existo e eu existo, sabe? estou aqui, Emily.... em carne e osso, ao vivo e a cores, sabe? assim, então, quero dizer, que todo este tempo que trabalhei aqui foi ótimo (frisando bem o óóó) as pessoas são ótimas, trabalhar com livros é ótimo, mas a minha vida está mudando, eu estou mudando, as coisas mudam. Veja bem, durante anos a minha aparência foi mudando, eu tinha cabelo, por exemplo, no meu interior agora sei nadar, mudei de casa e agora vou mudar de emprego. Então, assim. Ta.

Parou um pouco para respirar. A Edla só foi capaz de responder : É tudo muda....e continuou lendo o email da filha dos Estados Unidos, que mandou uma nova foto da Sofia.
A Emily continuava sem som. A Célia sem palavras, a Eliana bebendo água, a Vila atendendo ao telefone e a Regina sorriu e disse: É isso aí companheiro!

Meu rei olhou para o relógio:
- Então gente, vou tomar café.

E se foi deixando o seu pequeno harém boquiaberto com as suas profundas palavras.
E eu só fico aqui pensando, quem é que vai por ordem naquelas malditas doações.

Ah! Meu rei! Me deixe não.

Letícia 30/01/2006

13 - O dia que a Let’s pirou ou piorou

Era uma vez uma Let’s tranqüila que trabalhava no seu mundinho de processamento de uma famosa biblioteca. Classificava os livros que queria, do jeito que queria. Inventava mais trabalho para ela e também para outros setores.
E assim caminhou a sua humanidade por cinco aprazíveis anos.
Mas eis que um dia uma superbibliotecária veio convidá-la para mudar de setor, (para substituir outra super), sabe aquele Puf de rodinhas? É, foi ela quem a convidou! propôs novos trabalhos, novos desafios, uma nova era na sua vida-besta. Os olhinhos da Let’s brilharam! E ela pensou, pensou, pensou: era um novo desafio, vou ou não vou, eis a questão!
Ela foi.
No começo tudo parecia um paraíso, a Neusa foi ensinando, a Rosilene dando as dicas, a Ira rindo.... No início, o rítmo de trabalho era nem lento e nem super-rápido, era quase rápido, porém a Let’s foi agüentando o tranco e achando que a vida era aquela beleza....
Mas como nem tudo são flores e nem paraíso, o povo do setor de projetos começou a mostrar a sua cara. Começaram pisar fundo no acelerador e a rodinha zuuummm ia pra lá e pra cá e a Let’s foi entrando no furacão, vulgo Puf roxo, rodando no centro do tornado, em meio a tempestades de usuários, projetos, cds, vídeos, mapas e tudo o que havia ali. Os cabelos começaram a arrepiar.
E a Neusa com aquele jeitinho manso de falarbaixinhorapidinhoquemonitornão
podeveremailvocênãopodenavegartemquetrabalhartemquechegarnahoratemquesercompetentetemquefazerexposiçãoindexarprojetovideocdmapafotografiaosaltofazendotoctoctocmontacdhomepage-respira-tomaáguacafécháfazxixivoltapramesanãorespiraatendedesaprende
stresspira - respirafundo- e BUM!
A Let’s pifou!
A Rosilene correu para acudir, abanava, trouxe um remedinho:
- Ira ajuda aqui...
Ira rindo: - Ajuda aqui, hehehe.
- Levanta um pouco a cabeça.
- Levanta a cabeça, hehehe, a Valéria já fez isso comigo....
Não pode continuar, pois a chegada das três Marias causou um alvoroço, a Mony-Maria foi logo gritando:
- Vocês estão loucas?! Não mexe no corpo, ninguém mexe até o bombeiro chegar.
Edla-Maria dá um palpite:
- Deve ser a escoliose ou a lordose mas parece mais esclerose, isso aconteceu com uma amiga minha.
- O quê? O que você disse?
A Edla vai abrir a boca para explicar o acontecido para Emily-Maria, mas é interrompida:
- Peraí, deixar eu aumentar o volume do meu aparelho.
- EMILY! A LET´S PIFOU.
- Quê? Peraí, ainda não sintonizei direito, quem fez isso com ela?
A Mony bufa, a Edla desiste de explicar e vai para a copa preparar um chazinho rosa, neste momento a Satiko entra na copa e pergunta:
- Huuummm, o que você está fazendo.
- Um chá rosa pra Let´s que pifou.
- Chá? Huuummm. Olha a caixinha, cheira, põe o óculos e vê o preço!
Cruzes você pagou tudo isso? Lá em Atibaia tem chá rosa, verde, amarelo, azul, todas as cores, bem baratinho...
E a Let´s continua lá, estatelada no chão esperando socorro. Os outros colegas de trabalho estão voltando do almoço e aos poucos vão se aglomerando em volta daquele corpo largado e arrepiado no chão amarelo-frio.
A Lisely tem um choque ao adentrar pela porta de vidro e deparar-se com a cena inusitada, solta sua voz de menina-direita-de-colegial-de-alguma-Nossa Senhora:
- Coitada, como vocês a deixam assim? Agacha e arruma a roupa, escova os cabelos arrepiados
- Pronto agora sim, pode chamar o bombeiro.
A Célia pega um almofadão estampado, não o Puf é claro, acende um incenso, senta ao lado do corpo e começa um ritual reikeano energizante.
- Deus manda fazer sexo só para procriar, mas acho que o caso dela é urgente pra relaxar, aconselha a conselheira irmã Araci.
- Que sexo nada! Se ela tivesse três gatos, quatro cachorrinhos, cinco peixes, um papagaio, umas tartarugas e fizesse piquete não estava aí estatelada. Resmungou a Regina.
Da janela a Rita grita: Ô Let´s vem fumar um cigarrinho aqui na janela, que esse piti passa!
Mas o Rodison não se conforma:
- Ah, se fosse comigo... eu nem deixava isso acontecer, porque as coisas não são assim, tem muita coisa fora de lugar na minha mesa, na minha casa, na minha cabeça, mas sabe, sei lá, isso é uma absurdo!
A Eliana ao passar pelo Projeto em direção à copa, vê aquele tumulto e pergunta: o que acontece? A Rosilene tenta explicar, a Ira ri, todos falam ao mesmo tempo, mas a Mony põe um ponto final falando mais alto e resume a história dizendo que o bombeiro logo chegará.
- Bom já que está tudo resolvido, je suis desolée, e como aqui não é lugar para tumulto, dispersem, deixem as duas resolverem o problema. Elas que se entendam.
E dirige-se para a copa acompanhada da Vila, que também arrisca mais um palpite para a situação:
- Acho que ela precisa comprar um produto da Avon ou da Natura, pode ser também um calcinha. Qualquer coisa, contanto que compre.
A Dina não viu nada porque ainda não chegou, a Rejane não se interessa pelo tumulto porque já sobrevive num, oito horas por dia.
Mas eis que chega a causadora do piti da Let´s, a chefe supersônica-atômica-Neusa. Entra calmamente na sala, guarda a bolsa, engata a primeira,a segunda pula pra quinta e atendeumalunofalacomaRosileneemprestaumCDescaneiaumafotoolhaaquilonochão e cai na gargalhada:
- Coitada! A Let´s pifou e o trabalho nem começou!
Aquele corpo estatelado, arrepiado, estendido no chão, que pensava em levantar-se, ao escutar as palavras sábias do conhecimento milenar japonês, achou melhor não arriscar mexer nem os cílios, era mais prudente esperar pelo o bombeiro.
Quem sabe ele a tirava daquela enrascada e valesse a pena a troca.
Mas ainda falta um personagem!
Prof. Katinsky chega beijando todo mundo e dando as alfinetadas;
- Ah, ha! Ninguém está trabalhando, tá todo mundo aqui conversando.
Mas antes que alguém lhe dê uma resposta ele emenda:
- Tem café? Tem bolo?
Alguém responde:
- Tem professor, o bombeiro chegou, a Let’s melhorou e vamos festejar.


Letícia 30/8/2005

14 -Vocabulário descontrolado [versão 2.1.]

(atualizada a pedido do termo geral, i.e., Vânia)

Vânia, termo relacionado a João que é relacionado ao Computador.
Termos específicos: Bia e Renan.
Bia, termo relacionado de Renan e específico da Vânia e João.
Renan, específico da Vânia e João, relacionado com a Bia.
Vânia: usada para trocar fraldas, buscar filho na escola, fazer compras no Macro, organizar festa dos filhos, distribuir convites, montar um vocabulário, pegar no pé da Iracema (a mão não pode porque está ocupada com as garrafas térmicas), em casos específicos e de urgência, pode também ser usada para substituir a diretoria.
Vânia, mestre em terminologia*, ciência que coloca palavras numa ordem estranha, hierarquizada numa tal árvore, i.e. uma palavra debaixo da outra, relacionada com outras, específicas ou gerais de outras, com definições quando for preciso.
Vânia, que deixou muita bibliotecária de cabelo em pé para fazer um tal vocabulário controlado, ou seja, colocar um montão de palavras e/ou termos numa árvore terminológica**, i.e., aquilo que expliquei anteriormente.
Let’s, relacionada com ninguém, geral da Sofia. Termo descontrolado que está tentando explicar terminológica e semioticamente o termo proposto no início do texto, ou seja, isto é, a Vânia, mas como ultimamente anda sem fundamentos informacionais, acha que o texto acima tá bom demais e terminará o assim:
CQD (como queríamos demonstrar)
É o fim!


Letícia 23/09/2002
* leia-se: Mestre em Análise Documentária
** leia-se: Árvore hierárquica

15 - Super Vila contra o malvado Mario Bross

Era uma vez a Vila (e o Betinho também). Não se pode falar de um sem falar do outro.
Vila-e-Betinho, Betinho-e-Vila, dois em um, um em dois, vice-versa ou versa-vice, dá no mesmo. Mãe e filho, filho e mãe. Tão silencioso que às vezes, nem percebemos que os dois estão na sala. Por acaso, você já escutou o Betinho falando bom dia? Ou mesmo a voz dele? Eu também não.
Foi numa dessas manhãs frias de primavera-inverno-verão paulistano, que escutamos um GLUF, POF! Um barulho de alguma coisa engolindo alguma outra coisa, mas não demos bola, e os micros travaram, até aqui, tudo normal.
Eu, impaciente, apertei o botão e pof, desliguei e religuei o micro na marra, Mony passou um anti-vírus, Emily afoita só perguntava:
- Gente! O que estava acontecendo? Olha aí o meu micro travou de novo!
O Rodison na sua baianice, foi dar uma voltinha, Edla só falava: geeenteee, maaais ooo queeee eestáá acoonteceeendooo??? E foi tomar um chazinho vermelinho
A Rejane deu um grito! Vila! Ô Vila! Cadê a Vila? E andando depressinha no seu passo apertadinho correu toda a biblioteca a procura da Vila e nada.
Foi aí que todos deram por falta da Vila e do Betinho ou Betinho e Vila? Tanto faz a ordem, pois não altera o produto.
A Vânia, que estava passando pela sala, parou, pôs as mãos nos bolsos da calça e falou na maior tranqüilidade. Vocês já perceberam que toda bibliotecária daqui é tranqüila?
- A Vila está dentro do micro! Olha ela lá! Está dando tiro no super Mario para salvar o Betinho.
Todos correram para frente da tela do super-avião-micro da Mony e foi um auê:
- Olha ela lá!
- Sai daí, Vila!
E lá ia a Vila pulando foguinhos, atirando em monstrinhos, ganhando e perdendo vidas, saltando pontes, correndo de espadas, facas e mais monstros.
(Um parêntese: para dar mais emoção, vocês leitores, imaginem em suas cabeças ou ouvidos aquela musiquinha chata de todo joguinho: tchun, tchun, tchun. Os mais velhos, que não conhecem essas musiquinhas lembrem-se da música do Canal 100, parará pá pá pá, pá, parará pá pá pá pá... que tá bom demais!. Fecha parênteses.)
Aí começamos a torcer pela Vila:
- Sobe! Desce! Não, não, mais para a direita, agora vira, para a esquerda! Esquerda, nããooo!
- Xiii, perdeu vida...
- Vai de novo, olha o monstro atrás!
Mas tínhamos que abreviar esta aventura, ajudá-la a salvar o Betinho e terminar esta estória logo! Mas como faríamos? Ninguém ali era bom nesses malditos jogos e corríamos o risco de matar a Vila antes do tempo.
Tínhamos que matar todos os monstrinhos de uma vez só. A Vila, pra lá de cansada, veio até a tela do micro, botou o carão na super tela do avião-micro e gritou:
- Só há uma maneira de vencer a todos, coloquem uma música mais insuportável que esta que está tocando.
Música? Mas qual? A Emily sugeriu Bethoveen, o Rodison a Betânia, a Lisely uma valsa, a Dina um pagode e assim ficamos discutindo qual seria a melhor ou pior música que a de um jogo de computador. Mas a Ira, santa Ira! Apareceu com o Cd É o Tchan. (disse que era da neta....huumm, sei não...) Foi uma gritaria e entusiasmo geral, salva de palmas, batidinhas nas costas da Ira, etc e tal...
Mony, mais que depressa colocou o Cd no seu super-avião-micro.
Nem monstrinho agüenta!
“Segura o tchan, amarra o tchan e tchan, tchan, tchan....”
Todos os monstros estatelaram-se no chão, as pontes pararam de se mexer, os jacarés serviram de pedras para saltar nos rios e a Vila pode chegar ao fim e salvar o Betinho das amarras do Super Mario Bross!
Os dois saíram de lá de dentro do micro, meio sujos e cansados, porém felizes.
(Acho que o Betinho levou uma bronca,mãe é mãe, né?)
E Ueba!!! Isso merece um bolinho com café e chazinho vermelinho.

Leticia 24/09/2002

16 -Chá das cinco

Estamos em algum lugar do passado misturado com o futuro.
Eram 5 horas da tarde, uma linda mesa havia sido posta para servir o chá das 5. Sobre a toalha de linho branco, estavam as pratarias e o jogo de louças inglesas para servir o chá de jasmim, docinhos, bolinhos e camafeus. A futura diretora da biblioteca estava recebendo alguns ilustres convidados em sua casa, como por exemplo, um tal de Artigas, o Ramos de Azevedo, Raminho para os amigos, uma moça Lina, o Oscar e o jovem Othake.
Entre uma mordida e outra, um gole e outro, a nossa anfitriã soltou o verbo:
- Meu caro Artigas, já que o senhor ainda está desenhando a futura sede da Faculdade de Arquitetura, gostaria de dar umas opiniões, afinal em 2002, estarei como diretora da biblioteca e precisamos discutir alguns pontos....
Mas ela foi interrompida pelo amigo comunista, Oscar:
- Ao meu ver, está faltando um pouco de irracionalidade e imaginação, por exemplo, umas curvas femininas, uns peitinhos, umas ancas...
- Bah! Replicou Raminho. E o anfiteatro? O que você pretende com aquilo? Mais parece um porão!
O senhor Artigas não se conteve:
- E o seu teatro? da platéia não se enxerga nada! Quer coisa pior...
- Para mim está faltando uma cor, que tal um roxo ou lilás? E o nome da Faculdade em neón! Ficaria bárbaro - sugeriu o japonezinho Othake.
- Peraí gente, reclamou a bibliotecária, também loira e possivelmente econômica, estamos aqui para discutir coisas práticas e não as curvas e cores. E voltando-se para o autor do projeto: quero te avisar, pense bem como farás o banheiro para funcionário, pois sei o muquifo que será, um horror!
- Minha cara futura diretora, antes de mais nada, podes me passar os petit-fours? E continuou: agradeço os palpites, mas a minha intenção neste prédio é que qualquer tipo de manifestação seja ouvida em todos os cantos, qualquer som, qualquer palavra...
- Sim! A amplidão da liberdade! interrompeu Oscarzinho.
- Um vão mais que livre. - pensou a senhora Lina.
- Quero lembrar também que o prédio não oferecerá nenhum conforto térmico, aliás será uma enorme geladeira e nos obrigará a usar luvas de dedos de fora para trabalhar. A gente fica parecendo mendigo de filme europeu, outro horror!
Os convidados arregalaram os olhos! E Ela continuou:
- E tem mais, acho bom o senhor aumentar a área da biblioteca, afinal todos os projetos que vocês farão eu terei que dar conta da preservação, principalmente o seu, meu querido amigo Ramos.
- Mas o projeto já está pronto! E foi aprovado em todas as instâncias, não posso mudar mais nada.
- Então mude o sol de lugar, sugeriu Othake com um riso irônico.
Acontece que todas aquelas opiniões já estavam deixando o Senhor Artigas nervoso, ele pediu licença para ir ao banheiro e durante este período os outros convidados continuaram a confabular, criticar e a fazer tititi. Ao retornar o Artigas pediu silencio:
- Meus caros amigos, enquanto estive fazendo as minhas necessidades, cheguei a seguinte conclusão: vou inverter o prédio, assim o sol incidirá na biblioteca, pensarei num banheiro decente, na fachada colocarei uma escultura em néon cheia de curvas. Então até logo que tenho muito a fazer.


Se este encontro memorável aconteceu ninguém sabe.
Se aconteceu, o arquiteto não acatou nenhuma sugestão.
Se não aconteceu, teria sido bom se tivesse acontecido. Deu pra entender?

Letícia 1/10/2002

17 - Descartando setembro

Não era 11 de setembro, mas era setembro..... Primavera? Dia quente de sol? Chuva? Sei lá meu! Não lembro como estava o tempo lá fora, só lembro que aqui dentro, o tempo estava fervendo!
Quando cheguei na biblioteca ela já estava trabalhando. É óbvio que já estava lá, pois sempre chego depois...
Com toda a sua aflição, fazia tudo ao mesmo tempo: atendia aos telefonemas, reclamava do micro que não funcionava, falava com as colegas de trabalho, selecionava e descartava os livros... huuummm...acho que foi isso que a fez ter um piti.
Aquela manhã de setembro, nenhuma torre caiu, nenhum Carandiru foi inaugurado, nenhuma multidão foi assassinada, somente um colega desapareceu misteriosamente.
A Emily estava nos dias, no dia do descarte e nós sabemos que ela é um arraso nesta arte e como!
Logo cedo a Emily se pôs a executar a tarefa: pegava um livro, abria, via a ficha de empréstimo e pensava: - esse livro nunca saiu, descarte.
- Esse aqui saiu só em 1996... e este então? Em 88!
E ZAP! Como o Zorro que passava a espada no estômago dos inimigos, a Emily passava a espada do descarte nas estantes.
- Descarte, descarte, descarte.
E o Rodison, como o heróico Sancho Pança, foi obedecendo à suas ordens e separando os livros.
O dia foi passando e a gente começou achar que ela estava exagerando, mas ninguém tinha a ousadia de falar que não era preciso limpar o acervo daquele jeito.
E a Emily na empolgação foi descartando, foi descartando... ao final do dia 80% do acervo estava no chão para doar à alguma biblioteca.
- Ufa! Missão comprida. Rodison! Pode levar tudo lá para dentro para descartar...
Mas ele não respondeu.
- Rodison! Rodison? Cadê vocêêê???? Gente o Rodison sumiu!
Foi uma polvorosa, cadê o Rodison? Onde ele se meteu? E todos nós começamos a chamá-lo, a procurá-lo, até que alguém ouviu um pedido de socorro lá loooonngeeee, bem baixinho...
- Socorroooo..................
Alguém gritou :
- Achei o Rodison! Ele está aqui no 711.4098611293827364!!!!! está embaixo de tudo!!
- A Emily descartou o Rodison!
- AAAhhhh, Emily, ele ainda serve pra alguma coisa...
Ela tentou se explicar:
- Gente! O Rodison não! Eu me enganei, ele fica, põe na estante de novo!
Tiramos o nosso querido baianinho dos escrombos livrescos, não era um Trade Center, mas chegava perto, diante da cara amassada e do corpo amarrotado do nosso heróico ajudante de descartes.
Nada como um café da Iracema para recuperar as energias do Rodison, afinal só ele não foi descartado, o resto foi....


Letícia 20/09/2002

18 - Sem Norte nem Sul (Katinsky)

Naquele dia ele não chegou com pressa. Deu bom dia, mas não deu o beijo e foi logo perguntando para a Regina:
- A Eliana está aí?
- Deve estar na sala dela.

Ele entrou na biblioteca e foi em direção a sala da Eliana, mas para chegar lá, tem que passar por várias pessoas. Disse apenas bom dia, não beijou ninguém e perguntou:
- Cadê a Dina?
- Deve estar na mesa dela, professor.

Fez meia volta e quando estava saindo da sala, encontrou a Vânia e perguntou:
- A Lisely já chegou?
- Já e deve estar na sala dela..

Neste momento a Eliana chegou:

- Bom dia, professor. A Regina me disse que o senhor estava me procurando e...
- Eu? Não.
- Ele está procurando a Dina, disse a Rejane.
- A Lisely, falou a Vânia.
- Quem? Eu? Procurando quem? Onde?

É, parecia que havia algo de estranho no ar. Naquela manhã o Katinsky não havia beijado ninguém e não doou nenhum xerox para Emily tombar.
Todas entreolharam-se com uma interrogação no rosto, perguntando uma a outra o que se passava. Mas a Rejane esperta notou que estava faltando alguma coisa no Katinsky

- Ô professor, acho que está faltando alguma coisa no senhor....
- O que? Faltando o que? Eu estou aqui, inteiro e...
- Huumm, deixe me ver...
- Não, não está faltando nada em mim.
- Já sei! A bússola, cadê a sua bússola professor?

Só então descobrimos o que estava faltando nele e porque usa a bússola dependurada no pescoço: sem ela ele fica totalmente desorientado.
Nesse momento a Regina veio ao nosso encontro trazendo a bússola e dizendo que alguém havia entregue no balcão de empréstimo.
Assim que a colocou no pescoço, tudo voltou ao normal: saiu distribuindo beijinhos e sacou um folheto do seu bolso, fez mais uma doação, pediu para a Rejane scanear alguma coisa, solicitou um xerox para a Dina e foi discutir a reforma da Fau Maranhão com a Eliana
.
Se demorasse mais um pouco para a bússola aparecer, era bem possível ele inventar um puf roxo de rodinhas, como uma nova cadeira do Katinsky.

Leticia 5/10/2002

19 -Peça em 14 Cenas indecorosas

Cena 1:
Dia de pagamento. Todos felizes. São 14:30 h, todos já almoçaram e passaram no banco, estão com dinheiro vivo. Agora estão trabalhando e conversando.

Cena 2:
Rosilene passa nas mesas com papel e caneta na mão. Vai parando em cada mesa e pedindo dinheiro:
- Oi, tudo bênhe? São R$ 1,50 de cada aniversariante, o total é R$ 6,00, tá? – fala com a maior naturalidade, sem vergonha alguma de pedir dinheiro aos seus colegas.
Uns pegam a carteira, outros abrem a gaveta, um ou dois levantam-se para buscar a bolsa no banheiro. Àqueles que dizem que não tem trôco, ela responde:
- Tem problema nãão, eu tenho troco...
Ou:
- Depois eu volto com o trôco, tá? Mas tem que pagar agora, já.
Cena 3:
Ela na mesa contando o dinheiro e guardando num envelope e depois na gaveta.

Cena 4:
A Rosilene tomando remédinho natural para gastrite.

Cena 5:
A Rosilene cobrando um CD de um usuário.


Cena 6:
Ela tomando remédinho natural para dor nas costas

Cena 7:
Rosilene fazendo um lanchinho: comendo uma frutinha.

Cena 8
Tomando um remedinho natural para tendinite.

Cena 9:
Carregando projetos prá lá e prá cá.

Cena 10:
Tomando um remedinho natural....

Cena 11:
Conversando com a chefe com uma expressão de confessionário.
A chefe escuta o novo “probleminha de saúde” com uma paciência oriental.

Cena 12:
Tomando um remedinho natural

Cena 13
Encomendando por telefone, um vidrinho de remedinho natural que vai acabar e ela não vive sem ele....

Cena 14
Rosilene voltando do banheiro e falando:
- Até manhã, témanhã, témanhã.... tchau, tchau, tchau....E sai correndo para pegar carona.....

Leticia 24/09/2002

20 - A moça na janela

Ela é a moça da janela, a moça que pita um cigarro na janela só pra ver o tempo passar.Depois do seu cafezinho, acende o seu cigarrinho e fica ali, com o olhar perdido entre os galhos das árvores frondosas e o prédio da matemática.
Entre uma tragada e outra, admira o entulho cair do telhado da FAU. Entre uma baforada e outra, admira os carros estacionados, estudantes passando lá embaixo, a poeira levantando, entrando através da janela e sujando toda a sua sala.
Como num quadro do Almeida Júnior, ela nos lembra como era bom ficar na janela pitando e jogando conversa fora.
Antigamente toda moça da janela queria arrumar um namorado, ver o movimento da rua ou ver a banda passar; se já tinha passado dos trinta, estava na janela para tomar conta da outra moça da janela que estava lá para arrumar um namorado ou ver um elefante do circo passar.
Mas a nossa Rita da Fita já deve ter namorado e continua namorando muito nessa vida e está na janela só para se entupir de nicotina e fumacinha e ver o lixo passar.
Sempre sorrindo, sempre simpática a Rita com seus lisos cabelos presos na fita, passa pela biblioteca com seu passo arroxadinho e rebolante dentro da calça jeans apertadinha, que faz chequi-chequi, em cima do seu salto plataforma, com seu decote ousado e provocante de causar inveja a qualquer garota de Ipanema. É a coisa mais linda que os alunos da FAU já viram passar.
A Rita da Fita também é do samba, não perde uma festa na faixa. Toda noite a cabrocha desabrocha tresloucada riscando todo salão, sua a blusinha justa, dá um show de arrepiar os cabelos das moças de Santana.
E no dia seguinte, ninguém diz que a Rita está trabalhando feito um zumbi de tanto sono da noite não dormida.
Mas um dia a Rita não veio trabalhar. A moça não apareceu na janela, as árvores ficaram tristes, o entulho não caiu, ninguém passou lá embaixo, o estacionamento ficou vazio. Tudo ficou parado à espera da moça do quadro do Almeida Júnior. Era domingo, ora pois!
Letícia 3/10/2002

21 - MONY! Me proteja, amém

- Eu já disse, tô fora!
- Tá fora nada, todos já ganharam as suas crônicas e aventuras, porque você a rainha hilária- Clinton ficaria de fora? Nananina não! Sei que corro um sério risco de vida, mas sou ariana e adoro mexer com fogo, principalmente se fôr de uma sargitária.
É ruim, hein? Imagine se não vou contar o que vi e vivi ao seu lado?
Certo dia de sol, chuva, calor e frio paulistano, cheguei à biblioteca, mais especificamente à minha mesa e vi a Rejane confabulando com a sua querida caveira:
- To be or not to be bibliotecária? That’s the question. Meu querido pepê, (apelido do seu Santo Expedito) preciso de grana!
Assisti àquela cena mas não dei um pio, me finji de morta, que não vi e nem escutei nada, afinal, para se falar com a Rejane, antes precisamos saber qual é a fase da lua em que se encontra, que são as seguintes:
Lua cheia: quando está de saco cheio de todo mundo, não olha pra sua cara e nem ao menos lhe diz bom dia.
Lua minguante: quando ela te diz oi, pela manhã.
Lua crescente: quando dá bom dia e durante o dia fala apenas o necessário.
Lua nova: quando dá bom dia, fala um pouco mais, te convida para um café e pode até fazer uma piada com você.
Neste dia percebi logo que era a fase da lua cheia:
Dei-lhe um bom dia e ela respondeu hum, observem que é apenas um “hum” e não “hum, hum”, ou seja dois “huns” . Em seguida arrumou a mesa e no seu passo apressadinho e apertadinho se mandou para o acervo.
Mas eu precisava falar com ela e fiquei matutando como chegar sem levar uma chamuscada. Chamo-a de Re? Reja? Ou Rejane? É melhor o nome certo... bom até aqui tudo bem, e depois? Como falar o que tenho a dizer? Ai meu Deus! Ô Santo Expedito me ajude! O dia foi passando e eu ficando com aquilo na garganta.
À tarde, convidou a Célia para tomar um café, chamou o Rodison de Rodi, a Mônica de Monyy, Edla de Edlaaa, Vila de Vilaaa, assim com a última sílaba acentuada, percebi então, que já estava mudando de fase, indo para a lua nova. Suspirei fundo e tomei coragem, imprimi esta crônica e entreguei a ela.
Agora só me resta rezar a todos os santos para não sair daqui, chamuscada, triturada, massacrada.
- Monyyyyy!!! Me proteja!


Letícia 7/10/2002

22 - Cuidado: ao pó retornarás!

Mônica Arruda Nascimento. Nome forte, de peso e ela faz jus ao que lhe pertence.
Uma dica: não pise no calo dela, pois se um dia você pensou em ter um, ela já cortou o seu dedo e jogou pela janela.
Monyfau para os íntimos, Mony para os mais ainda. Assessora para assuntos gerais, específicos, profissionais e compras. Se você não sabe qualquer coisa, pergunte a ela e terás a resposta na hora.
Isso aconteceu no mês de setembro, é setembro, o mês que quase foi descartado, mas também é o mês do inferno astral da Monyfau (ainda não sou tão íntima assim).
Lá estava ela pilotando a supertela do seu micro que mais parece um avião. A Edla contando as últimas viagens, a Emily pedindo socorro porque o micro pifou, a Let’s enchendo o saco com a produção científica, a Rejane escutando no último volume o seu rock pauleira, o Rodison reclamando da vida, a Vila, bem a Vila pode fazer o que quiser que ninguém escuta, a Dina radiando os últimos acontecimentos. Parecia tudo tranquilo, tudo normal, mas isso é o normal.
Mas a Mony no inferno astral não é normal. Se normalmente ela está com a macaca, imaginem a macaca no inferno! Sai da frente que atrás vem a Monyfau.
Não sei por que cargas d’água um infeliz aluno veio reclamar da produção científica, pode? Reclamar alguma coisa com a Monyfau? Ele estava pedindo para ser massacrado, entortado e reduzido à pó.
E como boa cristã que ela é deve ter pensado na frase: se viemos do pó ao pó retornaremos. Desfiou o rosário, falou, gesticulou, bradou, botou os pingos nos is e o coitado no lugar a que lhe pertencia: a de simples aluno:
- Que vá reclamar para a vovozinha dele! Hora vejam só, se estou aqui para escutar uma coisa dessas. Me poupem!
E agora! Pensamos. Quem vai ter a coragem de sacudir a Mony? Se só ela foi capaz de trazer a Lisely daquele transe! Confabulamos mil hipóteses:
- Que tal um café?
- Não, acho melhor um bolinho...
- Uma água com açúcar.
- Hii, isso não resolve.
Mas desta vez foi a Edla quem nos tirou do sufoco:
- Já sei, peraí, vocês vão ver.
E lá foi a Edla em direção à Mony com toda a calma que Deus lhe deu. Ficamos ali espreitando a sua reação e com receio do que poderia sobrar para nossa loira colega. Mas a Edla sabia o que estava fazendo:
- Mony?.....o que você acha da gente ir naquela loja de sapatos na hora do almoço?
Fez-se um tremendo silêncio. A Mony estava pensando, registrando a pergunta. Ela parou de falar com o coitado do aluno, virou-se para a Edla e respondeu:
- Sabe que é uma boa idéia? Estou mesmo precisando completar a minha coleçãozinha de sapatos. Que legal! Será o número 239, mês que vem completo 240 sapatinhos...
Enquanto ela falava com a Edla, pegamos o garoto pelo cangote e sugerimos que se mandasse imediatamente se não queria retornar ao pó.
E tudo voltou ao normal, a Let’s enchendo o saco, a Rejane escutando um sonzinho, o Rodison reclamando e o resto na copa comendo uma bolachinhas, pães, doces, bolinhos, etc, etc...Ah! e o café da Ira!
A Imelda que se cuide!


Leticia 20/09/02

23 - A Costureira maluca

Lisely, moça fina, criada num dos melhores colégios de São Paulo. Desde cedo aprendeu a cozer, cozinhar, bordar, tocar piano, recebeu a mais fina educação que uma tradicional família paulistana pode oferecer aos seus pimpolhos. Jamais diz um palavrão e se o diz, parece um elogio em seus lábios ( ela é tão fina que a palavra boca não cairia bem nesta frase)
Casou-se com um rapaz de fino trato, bom partido, como mamãe queria.
Tornou-se bibliotecária, mas escolheu dentro desta profissão, trabalhar com restauro e higienização das obras raras e/ou despedaçadas.
Uma das suas atividades é costurar umas malditas pastinhas contendo xerox de textos malditos - viu como é bom aprender a costurar desde criança? E a Lisely adooooraaaa costurar. Costura pasta, costura livro, costura lombada, costura envelope, costura etiquetas, costura, costura, costura.
Num dia lindo de sol, verão, calor, daqueles dias que o vapor sobe do asfalto e tudo treme, sabe? Sim, aqueles dias torrificantes tropicais de sol escaldante em que as nossas cabeças pesam, dilatam-se tanto que as idéias parecem que estão espremidas no cérebro. Pois é, foi num dias desses que aconteceu algo de estranho na FAU:
A Lisely chegou um pouquinho atrasada, com os cabelos molhados e ainda por pentear e começou a trabalhar.
Passou a linha no buraco da agulha, deu um nó e começou a costurar as pastinhas. Como eu precisava de uma dessas malditas pastinhas, me encaminhei à sua sala, mas no caminho encontrei algumas colegas voltando de lá com a boca estranhamente fechada.
Dei bom dia para a Iracema, ela respondeu hum, hum. Dei bom dia para a Neusa, recebi a mesma resposta, encontrei a Rosilene e o mesmo aconteceu, a Rita, a Satiko, a Vânia, todo mundo me respondia Hum, hum!?
- O que se passa? Perguntei a mim mesma....
Quando entrei na sala da Lisely encontrei uma bibliotecária transformada: com a agulha e linha na mão, a vi costurando a boca de mais uma colega!
Pedrifiquei-me.
Com aquela voz suave, me convidou para sentar:
- Oi, Let’s, senta aí que você será a próxima, você sabe como eu adoro costurar..
Mas eis que por um milagre chegou a Mony para me salvar. Só ela poderia nos salvar!.
Só a Mônica poderia catar a Lisely, dar-lhe um esculhambo, a sacudir tanto até seus lindos cabelos molhados secarem e a deixa-la mais descabelada.
E foi assim que a Lisely saiu daquele transe de costureira maluca!
Descosturar a boca de todo mundo foi duro, mas deu tempo de comer o bolo de aniversário de alguém.

(Parece um sonho...mas é bom ter cuidado com essas manias da Lisely...)

Letícia 19/09/2002

24 - Mistério de Lótus

Calma como Krishna, zen feito Buda, esotérica mas não histérica.
Antes de começar o dia, abre o seu livrinho e lê o pensamento do dia e só então, engata a primeira: levanta e vai guardar livros, atividade que, segundo a Célia Zen-Indu, é uma ótima ginástica para os braços e a região do peitoral além de ser uma excelente terapia.
Silenciosa, misteriosa e discretíssima, sabe-se lá o que se passa debaixo dos caracóis dos seus cabelos! Será que fica pensando o quanto a vida é bela? Ou que tudo está uma bela merda? Não. A Célia Zen-Indu, dentro dos seus vaporosos vestidos, vestidinhos e vestidões indianos, não chega a ser uma Poliana, mas não pensaria numa coisas dessas. A vida é uma merda só para os pobres mortais privados do contato com o além: o além-mar, além-terra, além-céu.
Hoje o seu estilo é zen, mas tem cara que já foi da pá virada. Em cada fase da sua vida deve ter sido hippie, punk, cult, patricinha ou bicho-grilo. Fez loucuras na juventude que até Deus duvida, mas agora entoa o Om (coisas de Zen-Budista), acende incenso, lê tarô, estuda astrologia, cromoterapia, Feng-shui, Yoga, Florais e medita em posição de Lótus.
Para mim a Célia Zen-Indu é um mistério, como o Mistério de Lótus, que eu também não sei o que é e por esta razão esta crônica vai ficar assim, curtinha, pois não sei o que falar do seu misterioso silêncio.
Quem sabe se eu meditasse, acendesse um incenso, guardasse livros, lesse as cartas de tarô ou o que está escrito nas estrelas? Quem sabe assim eu poderia dialogar com o seu silencio, poderia entender o mistério.
A única coisa que tenho certeza é que ficar muito tempo na posição de Lótus, doem as pernas.

Posição de Lótus: sentada de pernas cruzadas, mãos sobre os joelhos, polegar unido ao indicador. Faz-se isso para isolar-se do mundo, senão fisicamente, pelo menos em pensamento e conseguindo a proeza de praticamente em nada pensar.
Letícia 4/10/2002

25 - A economia da loira

Edla, linda e chiquérrima em seus modelitos rosinha, verde-água, azul clarinho, sapatinhos coloridos e bicos finíssimos. Mãos delicadas e reluzentes de tanto ouro.
Fala mansa, gestos contidos, nunca perde a classe quando contrariada, enfim, a lady do Butantã. Não! não é das cobras que estou falando é do bairro, e qual é a mulher que não solta um veneninho???
Ótima economista, se ela acha que a assinatura de uma revista é cara não compra e c’est fini.
Certa vez um professor doutor, provavelmente diretor de alguma coisa e presidente de alguma comissão, qual professor não é isso tudo? Encasquetou que queria uma assinatura de uma revista caríssima e carrérima para a biblioteca.
A Edla com toda a calma, loirisse e boa educação que Deus e a mamãe lhe deram, tentou persuadir o doutor que era im-pos-sí-vel assinar. Mas ele teimava que aquele título era importante e ela respondeu:
- Não assino.
Ele: -assina.
Edla : - Não assino.
- Assina.
- Não assino.
- Assina!
- Não assino, não assino e não assino e c’est fini!
O doutor babou, mas teve que ceder aos encantos da loiríssima-inteligentíssima e educadíssima bibliotecária-madame.
“Tá pensando o quê? Até o Praaaadoo anda na linha, que dirá um reles doutor!”
- Vou fazer pipoca!
Obs: esse é o único problema da nossa colega, quando inventa de fazer pipoca no microondas da biblioteca, o alarme dispara, aueis! (Always)

Letícia 23/09/2002

26 - Ira (não é pecado)

Iracema, jovem avó do samba, sirigaita magra de dar inveja a qualquer Gisele, falava pelos cotovelos que nem a Emília do Sítio tinha vez.
Mas coitada, boa pessoa, gente fina, era responsável pelo café da biblioteca. Na verdade, só percebíamos sua falta quando, por motivos justos! (um porre da gafieira que ela foi antes de ontem) não comparecia ao trabalho.
Bom era quando a Ira não irada perdia a voz, conseqüência da cervejinha gelada da sexta-feira e do sereno do domingo, quando de fato, dormia para recompor as suas energias.
Mas a Iracema não cuidava só do café, nããoooo, também tinha de cuidar dos slides, atender atenciosamente aos professores e o melhor de tudo: guardar livros. Esta última tarefa era a que mais gostava, enquanto carregava livro pra cá e pra lá, conversava com eles.
Primeiro olhava a classificação: 724.981 Ar78... e pensava:
- Huummm, senhor Artigas, acho que vou colocá-lo nesta estante, não, é melhor colocar do lado do Niemeyer, assim vocês podem trocar figurinhas. E pof, ficava o A misturado com o N.
- Senhor Rino Levy....deixe-me ver...que tal ficar com o Lloyd? Ele é legal, gente fina mesmo. E pof!
- Ah, ha! Meu querido Othake ! Hoje você vai ficar aí no carrinho. Não estou legal, sei lá..., num tô afins...acho que vou parar por aqui.
E assim a Ira zanzava entre as estantes guardando livros, conversando com os arquitetos até a hora de tomar o café.
Numa quarta-feira de muito frio, uma bibliotecária bisbilhoteira, intrometida resolveu buscar o café. Foi na copa, lavou as garrafas térmicas, três! Pode uma coisa dessas? E quando estava saindo da biblioteca, deu de cara com a Iracema.
A bibliotecária gelou, mas com um ar de superior disse:
- Vou buscar o café, estou louquinha para fumar umzinho.
Iracema, na sua boa paz, respondeu:
- Que ótimo! Agora toda quarta posso chegar atrasada e o meu cargo de cafetina fica para você!
A partir deste dia, o que Cristo passou era fichinha diante da penúria da bibliotecária intrometida. Iracema crucificou-a, carimbou-a, slidou-a, scaneou-a para sempre a cafetina das quarta-feiras.
Haja samba no pé!

Letícia 18/09/2002

27 - A bibliotecária sem senso

Ser bibliotecária não é fácil. Ainda na faculdade, um professor disse que o bibliotecário(a) tem que ter bom senso - o que será que ele queria dizer com isto, meu deus?
Há pouco tempo um engenheiro, só podia ser esta raça boba, nos comparou a um bombeiro, não no sentido de segurar a mangueira, mas da boa ação, de se estar sempre solícita, de tentar de todas as maneiras resolver a questão de um cliente/usuário/consulente/pessoa e sei lá mais que nome dar a essa pobre criatura.
Conheço uma bibliotecária que tem todas essas qualidades e mais um pouco. Resolve tudo, acha tudo e mais um pouco, despenca a estante na maior naturalidade.
Certa vez vi um pobre rapaz/consulente/usuário/cliente/aluno/etc e tal, perguntar sobre um determinado arquiteto. Ela mais que depressa o levou aos terminais e em vez de ensiná-lo a entender a base de dados, ela mesma fez a pesquisa (era mais fácil e rápido) anotou os números e foi na estante. O rapaz a seguiu. A bibliotecária pegou uns três livros e jogou nos braços da criatura. Depois, o levou aos catálogos, afinal, lá poderia encontrar mais algum livro e eureka! Ela estava certa! Anotou os números, foi à estante e pegou mais quatro livros e jogou em seus braços.
Usando uma metáfora, laçou o rapaz até a sua mesa e fez mais uma pesquisinha no índice de arquitetura, em outro índice internacional e em mais outro, encontrou uns dez artigos.
- Bom , temos algumas revistas aqui que já vou pegar, mas essas outras posso pedir os textos via internet, você quer?
Antes de dar chance ao menino para responder...
- Vou pedir, não custa nada mesmo, né? Pera um pouquinho. E clica aqui, clica ali, solicitou o envio imediato dos textos via internet.
O cliente/usuário/consulente tentava dizer que já estava prá lá de bom o que ela havia conseguido. Mas ela no seu afã de atender da melhor maneira possível, usando o bom senso, a cintura, a mangueira, ops, mangueira não! Foi pegar as revistas da biblioteca.
Enquanto isso, ele aproveitou para dar uma escapadinha, carregou os livros até uma mesa , bem longe ao da dela! Para não ser encontrado e mais que depressa procurou o que lhe interessava para tira um xerox e sumir dali, antes que aquela bibliotecária maluca lhe trouxesse mais textos.
Mas não adiantou. Logo ela o encontrou:
- Então, as revistas estão aqui, mas eu achei mais um livro que pode ser legal.
Com um sorriso amarelo, o garoto agradeceu:
- Acho que tudo isso já está bom demais.
- Mas você não quer mais?
- Não, assim está bom....
- Mas eu posso achar mais textos...
- Agradeço muito, mas está bom
- Olha, você fica aí, que vou telefonar para uma amiga minha, que pode me dar mais uma dica.
- Não, não precisa se preocupar tanto, assim está bom.
- Tem certeza? Não quer mais um pouquinho, eu acho!
- Tenho certeza, tudo isso já está bom.
- Então tá.
E ela se afastou pensando:
- Pô esses cara me pedem ajuda e depois desistem no meio da pesquisa, vai entender...
Enquanto pensava, foi interrompida em seu trajeto entre as estantes por outro aluno/usuário/cliente/consulente e sei lá mais o quê:
- Por favor, você é a Dina?
- Sim sou eu.
- É que eu queria tudo sobre o Niemeyer
- Tudo? Você tem certeza que você quer tudo, mesmo?
Ele fez que sim com a cabeça e ela matutou:
- Oba! Essa pesquisa é das boas! E esse não me escapa!


Leticia 1/10/2002

28 - COMPANHEIRA GATA

Para ela, companheiro é companheiro, companheira é companheira, greve é greve e se for geral, melhor ainda.
Foi numa dessas greves na USP, em que pedíamos 101% de aumento - até aquele momento não entendia o porquê do 1% - que conheci a Regina e se revelou uma grande companheira.
Fazia piquete todos os dias, às 5 h. da manhã já estava na porta da Reitoria e não deixava nem o Reitor entrar. Pequenininha e arisca como uma gata, também pudera, com 10 gatos em sua casa, miando com eles todos os dias, acabou ficam igual e aprendendo todas as artimanhas de um miau bem miado.
Diziam até que ela tinha 7 vidas, conclui que era verdade depois que a vi peitando o Magnífico Reitor e conclamando a todos por um salário decente:
Na portaria ela gritava no megafone:
- Companheiros! A luta continua!!. Você aí parado também é explorado!
Lá pelo centésimo dia de greve, o Reitor chegou e viu aquele barraco na porta do seu gabinete, bufou um bafo de alho na cabeça da Regina e ela miou. Tentou ultrapassá-la e ela eriçou o corpo, arrepiou os pelos feito uma gata pronta para o ataque. Soltou um rugido de leão e ela chiou um miau – chissssiiiiiiii ..... e por pouco não pulou no pescoço para esfolar aquela pele branquinha do patrão.
Nós, companheiros e companheiras continuávamos ali, firme ao seu lado, tremendo e temendo com o que poderia acontecer.
Mas, quando chegou um segurança e a gatinha oriental arisca sentiu o cheiro de cachorro, pensou:
- Epa! Sujou! Tô fora.
Apelando para os seus conhecimentos animalescos e orientais, a nossa companheira gata passou por baixo das pernas do Magnífico, correu, zarpou e num salto malabarístico gatuno e kung-funiano foi parar num galho de uma árvore. Mas sem se intimidar com aquela cachorrada, continuou a gritar:
- Companheiros, a luta continua! Você aí embaixo também é explorado... É 101, ôba! É 101, ôba!
Ficamos de olhos arregalados e perdidos com aquela recuada da nossa gata-samurai-companheira e recuamos também.
Assim o Reitor pode entrar em seu gabinete e lá do alto da sua magnificiência nos concedeu 1% de aumento.
Os 100% que a companheirada pedia, ignorou solenemente.
Foi aí que entendi porque pedíamos 101%, pelo menos, recebemos o último dígito.
Toda forma de greve é valida, companheirada

20/09/2002

29 -HAVIA UMA BARATA

Todos nós sabemos, que as baratas estão invadindo a copa da biblioteca da FAU. Toda manhã tem um montão de baratinhas fazendo festa na pia, na mesa, nos pratos e porque não nas garrafas térmicas?! Cruzes, Ira! Isso é pecado!
E não é que a barata mãe foi parar num lugar inusitado? De repente alguém gritou:
- Tem uma barata na careca do Rodison!
Vocês podem imaginar o tamanho do escândalo: toda aquela mulherada gritando de pavor e fazendo cara de nojo. O coitado do Rodison ficou imóvel, estático, estarrecido. Olhava para cima tentando ver aquele bicho pessonhento que lhe fazia cócegas com as perninhas.
Mas a Vila 2 ou a Vila faxineira que estava passando por ali, não teve dúvidas, sacou a sua vassoura e PAFT! naquela reluzente careca. O nosso amigo estatelou-se no chão, a maldita voou e o furdunço aumentou. Algumas de nós subimos nas cadeiras, outras no armário, eu? Aahhh, fui parar no empréstimo!
- Mata ela, Vila! Argh!
- Ela está debaixo dos carrinhos!
E a Vila Paft, paft, socando a vassoura na maldita e nada de acertar...
- AaaHH!!! Ela está debaixo do armário!
- Hiii, está na minha mesa!
- No meu mouse!
- No armário das obras raras!
Alguém sugeriu: - Joga veneno!
- Veneno nããoo!! Gritou a Lisely indignada.
A perseguição continuou, a Vila 2 com a sua arma na mão e o cigarro na outra, dava vassouradas em tudo, voou lixo, papel, canetas, livros e a barata lá, brincando de esconde-esconde. Parece que quanto mais se grita mais a barata engana a gente.
Mas eis que ela foi parar no vidro da janela.
- É agora ! gritou a Vila, toma desgraçada ! E P A F T !!!!!!
A Vila acertou em cheio a maldita pessonhenta. Uma gosminha escorreu, uma perninha despencou no chão, mas o corpo ficou ali, grudadinha no vidro.
Foi um alívio geral e o furdunço foi de agradecimento pelo ato heróico da nossa faxineira. Ela sorriu meio sem jeito e perguntou: E ele? Como está ele?
- É verdade gente! O Rodison! Cadê ele?
No meio da gritaria, do desespero, do pavor esquecemos do nosso baianinho e lá estava ele estatelado no chão. A Emily quase teve uma síncope:
- Gente! O Rodison não pode morrer, quem vai tombar os livros?
Sacudimos, chamamos, berramos e nada. Aí veio a Célia Zen-Indu e disse:
- Calma gente, vamos dar as mãos e fazer silêncio.
Achamos aquilo meio esquisito, mas faríamos qualquer coisa para salvar o nosso colega. A Célia acendeu um incenso e entoou o Om. Ele despertou tranqüilo e perguntou o que havia acontecido, mas um com sangue de barata respondeu:
- Tinha uma barata na sua careca!
- Aaiiiiiii..........acho que vou desmaiar....
- Nããooo!! Gritamos todas juntas. Levanta e vamos comer o bolo !
Aí a Vila 2 engrossou:
- Mas sem deixar cair farelo no chão!

10/10/2002

30 - A conselheira

Araci, a senhora florida do balcão de empréstimo.
Com as suas mãos finas e brancas adora crochetar lindos barrados em panos de pratos e obviamente, vendê-los.
Ótima confidente e conselheira, escuta a todos e com a sabedoria que a idade lhe proporciona e dá valiosos conselhos! Principalmente se for sobre sexo. São conselhos simples e diretos, mas que apazigua os corações sofridos desta biblioteca.
É sempre na hora do café que ela exerce a arte do aconselhamento
Transcreverei aqui, alguns diálogos que já pesquei de orelhada, enquanto tomo também o meu café. Confesso que alguns também me serviram.

- Araci, não sei mais o que fazer? O meu marido me procura todos os dias. Ele só pensa naquilo, eu não agüento mais! Tem dias que digo que estou com dor de cabeça ou vou dormir mais cedo. Mas aí, no dia seguinte, ele acorda feito furacão. O que faço?

- Minha filha... tem que dar... Este mundo tá cheio de mulher sobrando querendo dar e se você não o satisfizer ele procura outra. Casamento é assim, amizade, companheirismo e sexo.

Outra pessoa pedindo conselhos:

- Ah! Como está difícil arrumar namorado! Se a coisa continuar assim, vou virar freira!
- Que freira que nada! Vai menina, se arruma, sai pra rua, vai passear bastante, vai paquerar. A vida sem sexo não é vida!

Depois foi um rapaz:

- Não sei mais o que fazer para ela olhar para mim! Já fiz de tudo, mandei flores, cartões, me declarei, mas ela não quer saber de mim. Estou sofrendo muito....
- Meu caro amigo, se ela não liga pra você, chute o balde! Desencana, vai procurar outra. Tem tantas meninas por aí solteríssimas e você aí, chorando por causa de uma sirigaita quem nem te dá bola. Arre!

E assim é a Araci, uma viúva alegre, florida, conselheira de sexo e relacionamentos amorosos, leitora voraz da Bíblia e crocheteira.

Podem encomendar um paninho de prato que eu garanto.


Leticia 5/10/2002

31 - O aniversário

Oba! Hoje tem bolo...é o aniversário da Satiko!
Pois é, aquele dia era o aniversário da Satiko e decidimos comemorar oferecendo-lhe um enorme bolo. Como era imenso, media mais ou menos 1,5m de altura e 0,50m de largura, pedimos “emprestada” aquela mesa enorme do setor de projetos e claro, que não houve objeções.
Quando a Satiko chegou, lá pelas 9h., carregando um montão de marmitas e viu toda aquela bagunça e agitação das pessoas arrumando o espaço para a festa, foi logo perguntando:
- O que está acontecendo?
- Estamos arrumando a mesa para o seu bolo de aniversário que vai chegar já já.
- Gentee...mas tudo isso é muito caaarooo...
Ninguém ligou para o que ela disse e continuamos a arrumar a festa: a Lisely costurou as bandeirinhas, a Edla trouxe mais saquinhos do chá vermelinho, a Célia o Buda, a Regina um gato, a Araci um crochê, os monitores os refrigerantes e o resto do povo só a boca para comer.
Nossa! Como pude esquecer: a Ira, aahhh! A Ira? CA-PRI-CHOU trouxe 5 garrafas de café.
A Rosilene animadérrima falava:
- Geentee tá ficando lindooo, mas isso não vai dar certo...
Enfim o bolo chegou, maravilhoso, enorme, pesado, todo prateado que ficamos na dúvida se era um disco voador ou uma super-marmita.
Quando a aniversariante viu aquela enormidade de bolo em cima da mesa não se conteve e boquiaberta disse:
- Gente mas é muito caro, lá em Atibaia eu encontro mais baratinho.
- Mas você não vai pagar nada, isso é presente nosso!
- Aaahhh.. booom, ainda bem. Mas é caro, não?
Decidimos excepcionalmente que o bolo seria cortado ainda pela manhã, afinal não dava para deixar um bolo de 1,5m de altura no setor de projetos até o período da tarde, podia derreter a cobertura e o recheio.
Você deve estar pensando: mas a biblioteca não é uma geladeira? Então porque o bolo derreteria? Já te respondo meu caro leitor, a biblioteca é um gelo no inverno, mas em dias quentes como aquele é de derreter o cérebro e o que dirá kilos de marshmalow!
Então vamos cantar. E em coro as colegas entoaram:
Parabéns pra você, nesta data querida.... E pra Satiko nada! Tudo!! Satiko, Satiko..
E BUM! A tampa do bolo pulou fora! E de lá de dentro saiu o Gil todo suado e derretido do calor, vermelho de vergonha, jogando várias marmitinhas para cima gritando: Viva a Satiko! Viva Satiko! O que seria de mim sem ela em meio a tantas marmitas?
Ela levou as mãos à boca como se levasse um susto, o coração acelerado, os olhos mareados e emocionada com toda aquela demonstração de carinho e companheirismo, ela só conseguia balbuciar algumas palavras:
- Ai gente.. é muito caro...é muito caro... é muito caro...vocês são tudo loucos...é muito caro... Lá em Atibaia é mais barato...isso é muito caro...

E nos fartamos com o recheio do bolo que consistia em:
Arroz, feijão, bife acebolado, couve, farofa, alface, agrião, tomate, abobrinha e cenoura, tudo muito bem temperadinho e baratinho.

Leticia 2/10/2002

32 - Alien, o vigésimo pasageiro

TRUUUM, CRASH, TRASH, PUM PAM PAM.
- Quééé é isso...? gente? Perguntou a Rosilene, com a sobrancelha esquerda erguida em arco.
- Esse barulho vem da sala dos projetos, respondeu a Neusa.
A Rosilene foi até lá. Abriu a porta de-va-ga-ri- nho-o-o-.... e:
- AAAHHHH! Socorro! Tem um bicho enorme lá dentro! E fechou a porta correndinho. Neusa? O que a gente vai fazer?
A Neusa com aquele ar de mãe que ensina o filho a enfrentar a vida:
- A gente, não! Te vira, neguinha. Toma que o filho é teu.
- Mas, mas...
A Michely não acreditando muito e com aquele sorriso nos lábios que nunca sai de lá, disse um dexa que eu ver e entrou. GLUP! O monstro, um alien feito de tubos de projetos, a enguliu.
O Rômulo, na sua santa inocência, estava passando por ali :
- Hahaha, um monstro?aí dentro? Não é possível, hahaha.
Entrou e glup mais um para o estômago do monstrengo entubado
Aí veio o Kleber, tadinho... e a Rosilene esperta o solicitou com um jeitinho:
- Klébeerr, dá pra você entrar lá e matar esse monstro?
- Como assim? Matar como?
- Ah, sei lá. Dá uma direita, um pontapé, vocês homens é que sabem brigar, oras bolas.
E antes que ele respondesse um não, se é que ele é capaz disso, ela abriu a porta e jogou o Kleber lá dentro. Ele deu um grito estarrecedor, mas o bicho não comeu:
- Eu hein! Comer você? Muito magrinho, vai me dar indigestão. Fora daqui.
E o monstro jogou o Kleber de volta, que saiu com as perninhas tremendo e os olhos esbugalhados.
-Uai? Ele não te comeu não, é? Porqueee?? Huum esse monstro está me cheirando arte da Let’s.
- Foi você que me pediu outra estória...
- Mas não assim com um monstro. Eu queria uma coisa mais bucólica ou que nem a da Vila. Poxa vida, né? E fez cara de muxoxo.
Mas a Rosilene não se conformava e solicitou socorro:
- Cadê as bibliotecárias? Cadê a Eliana?
- Está na Maranhão
- A Vânia, a Edla, a Mony, a Dina, a Emily ?
- Ô Rosi... tem ninguém não, a metade abonou e a outra está de portaria, você só tem a Neusa.
- Você como autora é cruel demais. André! Cadê o André?
- Foi buscar o café.
- Então a Gislene..Gisleeneee!!
A Gislene com toda a sua calma se apresentou e disse:
- Vou tentar levar um lero com ele, mas acho que ele quer é você, Rosilene.
E não deu outra, a Gislene foi devorada pelo monstrengo.
Aí chegou o Cheng-noiva, todo de branco e entrou. A Rosilene ficou espreitando a porta, minutos se passaram e nada, nenhum barulho e o Cheng não saía de lá. Quando deu uma hora a nossa personagem principal não se conteve. Bateu na porta e o chamou:
- Cheng, você ainda está aí?
- Estou! Espera um pouquinho.
- Você não acha que está na hora de trabalhar? Já faz uma hora que estás aí dentro conversando e nada, qualé meu? Vamos trabalhar, né?
O Cheng saiu inteiro rindo que só e nos contou que o alien entubado é gente fina e adora a cultura oriental.
- Mas e aí? Esse monstro vai ficar aí para sempre? Eu não entro mais nesta sala, nããoo..
- Você, não sei, mas com certeza o André, a Araci e a Ira estão proibidos de entrar afinal, são eles que pegam o nosso precioso café.
- Qual é a sua Let’s?Você cria este alien entubado, mata todos os monitores, me deixa aqui sozinha para resolver este abacaxi e agora? Como você vai terminar esta estória?
- Calma, Rosilene, isto é ficção e como tudo é mentirinha, vamos fazer de conta que o bicho nunca existiu ou vomitou tudo de volta e estão todos vivos e inteiros. Acho que você não gostou muito desta aventura, mas foi o melhor que pude fazer. FIM!

TRUMM, TRASH, CRASH PAM PAM PUM. É o alien indo embora....


Letícia 8/10/2002

33 - O Puf roxo da FAU

Eu ainda era nova aqui na Fau, fazia mais ou menos duas semanas que estava trabalhando. Era inverno, fazia um frio desgraçado e aqui dentro da biblioteca mais ainda. Fui à copa tomar um café para ver se me esquentava um pouco e ao passar pelo setor de projeto levei um susto!
Vi um puf roxo de salto agulha quinze andando em minha direção... Gelei! , congelei, meu coração disparou.
Em minha cabeça passava mil coisas:
- Será que estou sonhando?
- Um super-homem tenho certeza que não é.
- Aqui na FAU está cheio de artistas... será um novo modelo de design de um puf? Assim, roxo, andando de salto em vez de rodinhas e ainda por cima me diz bom dia!
Tentei sair de fininho fingindo que não era comigo, mas de repente escutei o meu nome.
- Cruzes, o puf sabe o meu nome!
- Bom dia Let’s, tudo bem? – falou o puf
Não tinha como fugir e fui obrigada a me virar em direção aquele novo design, fiquei de frente, a voz não saía. O que eu poderia falar para um puf?
Ufa! O puf não estava mais ali só, a Neusa.
Ainda gaguejando com o susto perguntei para Neusa se ela não tinha visto um puf roxo passando por ali?
Ela, no seu instinto maternal do tamanho de um gigante me respondeu sorrindo:
- Puf? Huummm, acho que você deve estar falando do meu casaco, não?
E o meu coração se sentiu aliviado quando vi um tremendo alcochoado roxo pousado no espaldar da sua cadeira.
Com um sorriso amarelo a convidei para tomar um café.
Isso era só o começo da minha aventura aqui na FAU.


Letícia 19/09/2002

34 - O Tombamento do Rodison

Rodison era um menino pacato, sério, responsável e baiano. Depois da sua infância feliz nas ruas de Salvador resolveu tentar a sorte em São Paulo. Veio de mala, cuia e papagaio. Entrou numa renomada instituição superior para se tornar um grande filósofo, quem sabe um Platão sofístico.
Mas ele precisava arrumar um sustento, uma graninha para manter a sua charmosa barriguinha. Eis que presta um concurso e é selecionado para trabalhar numa biblioteca. Era tudo o que ele queria: trabalhar com livros e mais livros! Um paraíso recheado de mulheres, bibliotecárias com seus lencinhos, fichas e regras. Adão só teve uma mulher e o Rodison estaria cercado de várias!
O seu trabalho era fácil, consistia em tombar os livros, isto é, cadastrar num banco o número de entrada do livro, autor, título etc.
E os anos se passaram.... Rodison lendo Platão, Sófocles, Nietszche, Sartre, Chauí e um montão de livros. Na biblioteca ele ia tombando, tombando, tombando, tombando.
Como Chaplin em tempos modernos, o menino pacato, sério e baiano começou a mudar, não podia ver um livro na sua frente que queria tombar, carimbar, colocar um número!
Certa noite sonhou um sonho maravilhoso!!! A sua biblioteca particular de filósofos criou vida. Platão lhe sussurrou que deveria ser o número um da sua biblioteca, Sófocles escutando, gritou que ele era mais importante e portanto, o primeiro, Chauí chiou e exigiu a ordem alfabética, Nietszche em sua loucura determinou que deveria ser o ano da edição.
O menino baiano se contorcia na cama, resmungava e discutia com seus amigos as várias propostas.
Lá fora a noite chovia a cântaros, trovões e raios! Eis que um deles estourou em sua janela e Rodison despertou suando frio e aflito, correu para a cozinha para saciar a sua sede e ao retornar à sala, olhou bem para os seus livros na estante, sentou numa cadeira em posição de pensador e meditou como um bom filósofo.
- O que será que ele está pensando? Sussurraram os filósofos da sua estante.
De repente Rodison levantou com uma expressão no rosto de alívio, da certeza do que sabia o que iria fazer:
- OK! Vocês venceram! Vou tombá-los!
Foi um furdunço na estante.
- Silêncio! Que vou começar!
E num acesso catártico de Apolo, a catarse dos Deuses, começou a derrubar todos os seus livros no chão e gritava:
- Estou tombando todos vocês, hahaha! Todos ao chão....Tombo um, tombo dois, tombo três.
E assim o nosso menino responsável, sério, pacato e baiano estressou-se na nossa São Paulo.




Letícia 18/09/2002