quarta-feira, 11 de junho de 2008

Os Anjos no Céu

Depois de um longo sono tranqüilo, sem apnéia, sem chuva na cama, Emily abriu os olhos. Não reconheceu nada a sua volta e aflita foi logo pensando alto:
- Onde é que estou? Pra onde vou? Será que hoje é dia do meu rodízio e perdi a hora de novo?!
Levantou-se das nuvens em que estava deitada e encontrou um belo café da manhã, repleto de papo-de-anjo, chás, leitinhos, chocolates, tudo o que podemos imaginar. Sem cerimônias Emily deitou e rolou nas guloseimas. De barriga quentinha, espreguiçou-se e notou um lindo portal de ouro a sua frente, com um senhor gordinho olhando para ela:
- Seja bem vinda dona Emily!
- Pode me chamar só pelo nome, mas ki ki é isso aqui? Onde é que estou? Pra onde vou? Pra esquerda ou pra direita? Cadê a Edla? Cadê a Mony? E a Célia, Let’s, todo mundo! Céus kikiéisso aqui?
O gordinho de barba branca, vestido de santo, respondeu:
- Calma! cara amiga, você está no céu e esse povo vem depois, agora você encontrar outras amigas por aqui.
- Céu? Fazendo o quê? Como é que vim parar aqui?
- Ai meu Deus! Todo mundo faz esta pergunta quando chega aqui...
E antes de terminar a frase, o santo foi interrompido pela sua secretária:
- Emily! Você chegou! Estava morrendo de saudades!
- Dora! Quanto tempo! Também morri de saudades, mas me explique onde estou?
- Pô Emily, no céu! E você não sabe quem também está aqui...a Sonia e...
- Bom, já que você já está integrada com os anjos do céu, deixou-a nas mãos da minha eficiente secretária, a Dora, para explicar como é que as coisas funcionam aqui – interrompeu o Santo.
- Ki ki é bem? Não escutei.
O Santo caiu na gargalhada, balançando a barriga:
- Ô meu anjo, aqui no céu ninguém tem defeito de nascença e nem doenças. Você escutou muito bem.
- Pódeixar São Pedro que explico tudo, interveio a Dora puxando a Emily através do Portal para entrar definitivamente no céu.
De olhos arregalados e boquiaberta, exclamou:
- Noooossaaaa!!! Aqui é mais bonito que o céu do Líbano!
Nisso ela escuta uma voz amiga:
- Emily! Tu chegou! Me conta, como vai o povo da FAU?.
- Sônia! Que saudades...Estou feliz por encontrar vocês aqui, não vou me sentir solitária. Mas me contem o que a gente faz aqui no céu? O café da manhã estava divino!
A Dora e a Sonia entreolharam-se e caíram na gargalhada: aqui tudo é divino e maravilhoso!
- Meninas, o que vocês andaram fazendo por aqui, durante esses anos?
- Bom, depois da experiência de secretariar o Antônio Henrique Amaral, Deus me incumbiu a tarefa de auxiliar todos os Santos, ou seja, São Pedro, São Paulo, Santo Antônio, São Expedito, enfim, todos.
- Nossa Dora e você dá conta?
- Afê, tiro de letra, isso não é nada. Lembre-se que construí a minha própria casa em Piquete, trabalhei com a Granja, com Antonio Henrique e a Norma. Os Santos são santos perto de todo esse povo. O único que dá mais trabalho é Santo Antônio, está difícil arrumar homem para tanta mulher solteira.
- É pensando assim, você tem razão. E você Sonia, que anda fazendo?
- Bah tchê, tu não imagina, logo que cheguei aqui abracei a causa dos Anjos Sem Nuvens. Foi lindo! Todos aqueles anjinhos barrocos caminhando e cantando. O anjo Gabriel foi quem representou os anjos na Comissão Celestial das Nuvens.
- Ele é porreta, interrompeu a Dora.
- Eu só orientei como tinha que reinvidicar as nuvens, contei a minha experiência, sabe? Aquelas maravilhosas greves da USP, as passeatas no Palácio do Governador, na Paulista, as bombas de gás lacrimogêneo, você sabe, né?
- Sei, sei, mas aqui também tem isso.
- Nãããooo... Aqui tudo é light, divino e maravilhoso. Depois te conto os detalhes.
- Tem biblioteca aqui? Será que posso trabalhar lá? – perguntou a Emily, ansiosa.
Mas um anjo-barroco-mensageiro, cortou a conversa trazendo um convite para a Emily. A Dora olhou e sorriu:
- Esse programa você vai adorar!
- Ki ki é isso? Um convite para um recital do Tom Jobim! Acompanhado por Mozart em pessoa! Ai, aiai, aiai, sem dúvida estou no céu!
- Então, Emily, esta será a sua função aqui no céu. Organizar recitais, ninguém melhor que você para trazer as atualidades da terra.
- Esqueça as bibliotecas, isso pode esperar a Let’s, que quando chegar vai processar tudo num piscar de olhos e não precisa se preocupar com espaço, que é divino, maravilhoso e infinito! Retrucou a Sônia.
- E nem descartar, explicou a Dora.
- Então gente, mostrem o céu!
- Com prazer, responderam as duas em coro, e aqui não tem problema de goteiras e desconforto ambiental.
- Ai que maravilha! Divino!

E assim, nossas três amigas foram felizes para a eternidade.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Será que ela virá?

Sensibilizado com a escassez de pessoal na biblioteca da FAU, o senhor diretor prometeu uma funcionária eficiente para cobrir esta falta, buraco, ou melhor, rombo de funcionários! Ninguém menos que a Bete da Comissão de Graduação.
Conheci a Bete no banheiro, entre uma escovada de dentes e outra, e parece ser daquelas pessoas que eu gosto, a mil! Cheia de energia e é de gente assim que precisamos na biblioteca. Bom, pelo menos este escatológico banheiro das funcionárias da FAU, está me servindo para a conhecer novas pessoas.
Então, recebemos a informação que ela assumiria o seu posto em janeiro. Nos planejamos para recebê-la de braços abertos e sorrisos largos, mas era época de férias e ficou para o mês seguinte.
Fevereiro chegou com toda a força do verão e com ele, a nova notícia: a Bete precisa ficar na Comissão, pois é época de atender as transferências, equivalências, blábláblá, blábláblá. Sem saída, acatamos a nova ordem e continuamos a fazer novas carteirinhas, a emprestar, a guardar livros, revistas, projetos, slides, cds, dvds, enfim, a rotina de uma biblioteca com ou sem funcionários.
Aí veio março com suas águas fechando o verão e nós aqui, afogadas em livros e carteirinhas, com a vã esperança da breve chegada da Bete, como quem fica olhando o céu noturno a espera de um disco voador e se não existe disco voador, conclui-se: a Bete não veio.
Abril. O verão acabou e o outono chegou trazendo apenas o frio. Nos agasalhamos e enchemos nossos corações de mais esperança de que mais um calor humano viria esquentar o nosso desconforto ambiental. Mas ainda não era a hora da Bete:
- Ela precisa fazer uns acertos finais na Comissão de Graduação.
Em maio o frio apertou, acendemos uma vela para esquentar o ambiente e rezar pra Deus Nosso Senhor enviar a Bete de qualquer maneira.Parece que Deus tentou acender uma luz no fim do túnel e surgiu uma nova chama de esperança. É que uma funcionária de outra unidade veio para a biblioteca, a cedemos para a Comissão de Graduação com o intuito de a troca ser imediata. Ela pela Bete. A funcionária foi e nós ficamos de mãos vazias: A Bete não veio. Desta vez tinha que “treinar” a nova substituta.
Sem saída e com a porta de emergência trancada, nós aqui na biblioteca continuamos a emprestar e guardar livros, revistas, projetos, slides, cds, dvds, enfim a rotina de uma biblioteca, com ou sem funcionários.
Junho.
- Agora vem.
- Será que virá?
Alguém cantou: e no balanço das horas tudo pode mudar....
A última notícia que obtivemos, no banheiro, é claro, é que definitivamente a Bete não vem em junho e em julho estará de férias, será que no mês do cachorro louco ela vem?
Esgotado(a)s da esperança/sem esperança, espera/não espera, vem/não vem, só nos resta lembrar o Cazuza:
“Bete Balanço, meu amor, me avise quando for a hora...”

(dizem por aí que quem espera sempre alcança).