domingo, 15 de junho de 2008

Valei-me Santa Apolônia!



15 de julho de 2008.
Pelos meus cálculos só faltam 41 dias ou 984 horas, para o dentista tirar o este maldito aparelho das minhas arcadas. Sobrevivi aos últimos 689 dias da minha pacata vida, passando fio dental com agulinha de plástico, que para quebrar a monotonia, às vezes era azul, outras amarela ou branca. E devido a minha idade avançada, tipo muito-pós-adolescente, não podia esquecer os óculos para enxergar os “entre-dentes” no espelho.
Nos últimos 47 meses, passei por maus bocados, como minhas amigas haviam precavido:
Comer beterraba: deixa tudo vermelho;
Comer hot-dog: o pão mole incrusta nos ferrinhos;
Comer folhas verdes: cola em lugares nunca dantes imaginados, na história deste país;
Depois do “aperto” mensal que o dentista dá: ficamos uma semana na papinha, sonhando com um bom naco de torresmo, ou uma torrada para os lights.
Como eu disse em 2006, o dentista previu dois anos e tratamento no máximo! Contudo, minha amiga Vilani vaticinou: eles sempre falam dois anos e ficamos seis. Arre égua, ai, ai, ai. Ando desconfiada que a coisa pode se alongar, pois nas últimas consultas sempre pergunto:
- E aí, é hoje que você vai tirar o aparelho?
- Qual é a previsão?
E ele sempre responde com um ãh, hã, um sorriso, um riso, uma gargalhada e desconversa, falando do tempo, da política ou da falta de grana.
Todos os dias, analiso a minha situação dentária e concluo que os objetivos já foram alcançados, isto é, descer um dente, empurrar os superiores para o lado esquerdo e para trás, fechando o buraco deixado por um dente, o tal que em 2006, meu irmão bravamente arrancou. Digo bravamente nos dois sentidos: heróico e raivoso.
Às vezes penso que o sadismo nato de todo dentista, faz o meu não querer terminar o tratamento. Como pode querer acabar com o seu próprio brinquedinho? Deve ser prazerosos encaixar borrachinha por borrachinha em cada bráquete, passar o fio de aço, torcer com o alicate, cortar e apertar até o paciente grunir de dor e ainda perguntar de está doendo! Este prazer meticuloso, concluo, chega as raias da sodomia. Se não aperta um aparelho ortodôntico, nos tortura com o motorzinho, arranca um dente com o buticão (este nome sempre me assusta), suga nossa alma com o sugador de salivas, sem falar quando quer que o paciente discuta a situação política país de boca aberta.
Agora só me resta rezar para Santa Apolônia abreviar este meu sofrimento, nas próximas 984 horas, é óbvio e que este tratamento chegue ao fim em 26 de julho de 2008, quando completa-se dois anos de via férrea em meus dentes.

Amém.

Nota: Santa Apolônia fez parte de um grupo de virgens martires que padeceram em Alexandria no Egito, durante um levante local contra o Cristianismo antes da perseguição de Décio. De acordo com a lenda, durante sua tortura teve ainda todos os seus dentes violentamente arrancados ou quebrados. Por esta razão, é popularmente considerada como a padroeira dos dentistas e daqueles que sofrem de dor de dente ou outros problemas dentais.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Apol%C3%B4nia