quarta-feira, 12 de março de 2008

10 - Paramentada de aparelho

Cena: Eu de boca aberta, óculos de grau, em frente ao espelho do banheiro, passando fio dental en-tre-ca-da-fer-ri-nho-do-den-te.
- Puxa, meus dentes nunca ficaram tão limpos!
Primeiro escova com a escova dura, depois passa fio dental, com uma agulha de plástico.
- Difícil é achar o buraco da agulha....Hããã, foi.
Depois do fio, usa-se uma escova macia, depois aquela de tufo e por fim bochecho com anti-bactericida bucal.
- Como arde essa coisa!!!
- Arre égua! Ufa, acabou, preciso descansar.

Preciso de toda esta parafernália só porque agora, depois dos quarenta, tascaram-me um aparelho nos dentes, para tapar um buraco de um dente extraído. Risco na minha folhinha cada dia passado, como o dentista prevê dois anos e já se passaram 25 dias, portanto só faltam 705 dias para tirar este maldito aparelho.

Esta triste estória começou quando o dentista, muito atencioso e simpático explicou tintin por tintin como consertaria o buraco da minha arcada dentária e que por isso, teria que usar o aparelho por dois anos. Apesar de não conseguir imaginar como seriam os próximos 730 dias da minha vida, achei divertido, como toda criança que quer colocar aparelho. Fiquei animada com a possibilidade da minha fisionomia mudar. Você algum dia pensou mudar as suas marcas de expressão de lugar com um simples aparelho? Nem eu.
Mas quando contei para as minhas amigas a novidade, comecei a desconfiar que a coisa não seria tão divertida assim. A primeira a me animar disse: é sempre assim, o dentista fala dois anos e você fica seis.
A segunda avisou: não use o transparente, pois é arriscado principalmente quando você comer uma beterraba.
A terceira: reserve meia hora de sua vida a cada escovada. Fiz as contas: quatro vezes por dia: duas horas.
Outras opiniões: O bom que emagrece. Geralmente optamos por não comer só de lembrar que temos que escovar os dentes.
Nos primeiros dias tudo dói, aí quando você se acostuma, o dentista vai e crau, aperta e tudo volta a doer.

Voltei no dia combinado, não muito animada, mas aceitando o meu destino cruel. Em quarenta minutos o profissional cascou-me os ferrinhos. Fechei os lábios e já comecei a sentir o incomodo e saí do consultório matutando: Ah! Elas exageraram, não está doendo nada....
Contudo, ao chegar em casa com a barriga roncando, mirei o pãozinho francês e dei-lhe uma bela mordida. Dei não, tentei, pois foi aí que vi as estrelas brilharem na parede da cozinha e pude humildemente aceitar os avisos dos colegas.
- Arre! Não é que elas têm razão! Isso dói! Meu Deus agora faltam 729 dias e 22 horas para tirar essa coisa!!!!

Passado o susto dos primeiros quinze dias, adotei algumas táticas do programa Fome Zero: muito sorvete, Toddynho no lugar do pão de queijo-e-café; purê em vez de batatas fritas; pão quadrado no lugar do querido francês (esta é a pior parte!). Pipoca, só em casa. Prato ideal: arroz com carne moída, nada dói e a pasta desce pela glote na boa.

Outro dia arrisquei comer alface cortada em tirinhas, tive que chupar como tivesse comendo macarrão e por não conseguir triturar os alimentos, aquela coisa verde grudou na garganta e não descia. Tossi, engasguei, bebi água, muita água e aí foi. Ufa. Não como mais folhas verdes.
Mas há o lado bom: emagrecemos e os dentes ficam limpos: quando come, sai correndo para escovar os dentes; se estiver com preguiça de fazer o ritual dentário, simplesmente, não come e passa fome.
Por outro lado, quem tem filho pré-adolescente, como eu, ainda corre o risco de escutar a máxima: Mãe, adulto de aparelho é ri-dí-cu-lo!
Ao vigésimo-quinto dia aparelhada, já sinto minhas calças caírem, estou fechando a boca, a limpeza está jóia, melhor que nos meus últimos 46 anos, mas tenho o retorno marcado para a próxima semana, quando provavelmente o dentista vai olhar, vai falar:
- Huuummm, tá bom, ta jóia! Vai jogar aquela aguinha que espirra pra todo lado e dar o famoso aperto e eu, pobre de mim....voltarei a me alimentar de todynho, suquinho, leitinho, pãozinho mole, sopinha e outros inhos molinhos, só para não revirar os olhinhos de dor.


20/08/2006

Nenhum comentário: