quarta-feira, 5 de novembro de 2008

conto de fadas


Ando meio assim, sei lá, sem inspiração. Então para o blog não ficar tão desatualizado, transcrevo um conto de fadas que recebi no meu email:

Era uma vez uma bela moça que pediu um garoto em casamento:
- Você quer se casar comigo?
Ele respondeu:
- NÃO!
E o moça viveu feliz para sempre, não teve filhos, viajou, conheceu muitos outros garotos, fez plásticas, não lavou louça nem fez jantar, visitou muitos lugares, sempre estava sorrindo e de ótimo humor, nunca lhe faltava pretendentes, ia e voltava a hora que queria, saia pra jantar com as amigas sempre que estava com vontade e ninguém mandava nela.
O garoto, ficou velho, careca, barrigudo, engordou, broxou, se fudeu e ficou sozinho....

FIM

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

DEUS NÃO É ARQUITETO, URBANISTA E NEM DESIGNER...

Era uma vez uma biblioteca de Arquitetura e Urbanismo linda, loira, de olhos azuis, pisos brilhantes e caramelizados, livros de arte e arquitetura com capas e conteúdos ma-ra-vi-lho-sos, com funcionários chiques e atenciosos enfim, tudo na mais perfeita ordem. Mas, a perfeição atrai a inveja e o mau olhado e como tudo que é bom dura pouco...
Tudo começou nos idos do ano 2006 depois de Cristo - que Deus o tenha - quando a Vânia resolveu cuidar da sua vida e nos deixou. Ela sair da biblioteca tudo bem, o problema estava em conseguir alguém, tão eficiente quanto, para ocupar a sua vaga e numa instituição pública como a USP, isto significa uma longa batalha de pedidos, faxes, ofícios telefonemas e reuniões com diretores, reitores e/ou chefes de departamento de pessoal.
Foi ainda em 2006 que instâncias superiores resolveram criar um novo curso noturno na FAU, o Design. Só esqueceram que para a biblioteca funcionar a noite precisa contratar mais funcionários e para isto acontecer, deve-se criar mais vagas o que significa uma longa batalha de pedidos, faxes, ofícios telefonemas e reuniões com diretores, reitores e/ou chefes de departamento de pessoal.
Por conta deste novo curso, até que conseguimos 3 técnicos para trabalhar 6h/dia sem muito chororô. E a bibliotecária que ocupou a vaga da Vânia teve que cumprir horário noturno para atender às pesquisas noturnas, portanto, o setor antigo da bibliotecária que foi cuidar da própria vida, ficou a ver navios, barcos, pórticos, fotos etc etc e tal.
Em setembro de 2007, a diretora da biblioteca foi convidada a assumir um posto mais alto na sua carreira, lógico que prontamente atendeu ao pedido da Reitora, com a promessa de uma vaga, assim de mão beijada, sem precisar de batalhas e faxes, ofícios telefonemas e reuniões com diretores, reitores e/ou chefes de departamento de pessoal.
O tempo passou, passou, o verão findou, veio o outono, inverno, outro verão, outono, inverno e agora a beira da primavera de 2008 cadê a vaga? Que vaga? Hein? Anh? Quem falou em vaga?
Neste meio tempo, uma outra bibliotecária nos deixou, não por vontade própria. É que recebeu uma chamada de Deus e quem pode com este arquiteto?
Em junho deste ano, maldito, diga-se de passagem, a bibliotecária “noturna” nos deixou por outras razões que prefiro não comentar.
Vai daí as bibliotecárias que sobraram passaram valer por duas, três até quatro, é que para tudo continuar a funcionar como antes: linda, loira, caramelizada, somos o que éramos e o que as outras, que se foram, eram. Entenderam? Não?
Não precisa entender, só que se um dia você esbarrar numa bibliotecária descabelada, stressada, com sapatos trocados, trocando alhos por bugalhos, pode ter certeza que trabalha na FAU.
Decididamente DEUS NÃO É ARQUITETO, URBANISTA E NEM DESIGNER...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Hamlet


Estive lá! Quase dormi. 3 horas sentada, não é mole.
mas vale a pena.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Aleluia! Ela veio!

Segunda-feira cheguei à biblioteca lenta e com os pensamentos embaralhados, acho que é por causa do famigerado aquecimento global, sem imaginar o que estava por vir....
Às nove horas da manhã me dirigi a copa, como de costume e passando pelo Setor de Projetos topei com a Bete. Sim a Bete chegou! a Bete veio! Veio balançar e sacudir a poeira dos livros.
A princípio achei que era uma miragem, que meus olhos estavam confundindo alguma aluna com a figura da Bete, ou pela vista turva devido a falta de chuva em São Paulo, mas aí ela emitiu um som:
- Cheguei!
Pensei alto:
- Deus começou a olhar para nós!! Ai Jesus!
Felizes com a sua chegada, demorou mais veio, festejamos com um bolinho e café na copa. Enfim mais dois braços para guardar livros, mais duas mãos para digitar o que for preciso, mais uma boca para comer os biscoitinhos na copa! E depois dos blábláblás, das fofocas, dos comentários do fim de semana, nos perguntamos:
- Quem vai ficar com a Bete?
Suspense.....
A Rosilene já estava lá, toda serelepe, mostrando o seu setor, o de Projetos. A Mônica precisando urgente de alguém para por a sua prole em dia (explicando a prole: Índice de Arquitetura Brasileira e o cadastro da Produção (in)científica).
Eu preciso de um ser pensante para tombar as doações, que andam caindo na minha mesa feito bala perdida dos morros do Rio de Janeiro.
A Turma da Dina, isto é, do atendimento, sabe, aquele povo que fica no balcão sempre sorrindo, engolindo sapo, abelha, mosca, pois quem encosta o umbigo lá, “tem sempre razão” , mestre ou aluno? nem piou.
A Edla, a bibliotecária turista e chiquééérrrimaaa, que já está indo viajar logo logo, nos deu um golpe de mestre usando a sua arma poderosa: desceu do salto Cordoban, abriu a sua bolsa da Fendi e de lá tirou a sua arma! E com um Tsssss vaporizou o nosso ar com o seu Chanel n.5, nos paralisando feito estátua e impedindo qualquer reação ao seu próximo golpe fatal:
- Bete, você é minha! Sente-se aqui que vou chamar a Regina para te ensinar o serviço, pois ainda tenho que fazer umas comprinhas virtuais.
Quando o efeito do perfume passou, depois daquele quem sou eu, onde estou? Nos demos conta que era tarde demais a Edla já havia a cooptado, pra não dizer seqüestrado.
Mas como nós trabalhamos em equipe e sabendo do breve embarque da chiquéérrimaaa rumo ao United States, é bom que a Bete assuma o serviço, antes que sobre mais serviço para a Mony.
De qualquer forma, vai um soneto:
Bete.
Esteja onde estiveres.
Tu és bem vinda.
ALELUIA!!!!!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

De olhos abertos

Era uma vez, num futuro quase próximo, no Japão, uma japonesinha neta de uma japonesa bibliotecária da FAU.
Certa vez a japonesinha, vendo o robô doméstico da sua mãe atarefado fazendo uma torta de kiwi e manga, teve a brilhante e antiga idéia de levar um pedaço da torta para a sua super-moderna avó. Ela sabia que a vovó adorava transformações em sua pessoa. Conheceu toda a evolução da anciã através das fotos daquele antigo orkut. Como também era amiga dos cinco netos da Let´s ( que ainda não tem nome, mas que serão cinco, ah! isso serão) conhecia também antigo blog da Let´s, onde estava repleto das estórias da avó.
Aí ela avisou a mãe que ia levar o pedaço do doce para a Neusa lá na FAU, mãe concordou com a condição que não parasse no caminho.
– Ok, mamy, respondeu a filha.
Pegou a sua nave espacial infantil e voou do Japão para o Brasil rapidinho, mas chegando em São Paulo, viu que o trânsito estava parado e resolveu fazer um pit-stop em Copacabana, no Rio de Janeiro. Era a hora do rush da manhã e poderia esperar até às 10h, quando a vovozinha costumava tomar café com as colegas da biblioteca.
Esticou a toalha na areia e ficou admirando as águas poluídas do Atlântico. Deu um tempo, tomou água de côco, conversou com um surfista, que definitivamente não será o Lobo Mau desta estória. Às 10 horas, colocou o capacete e o macacão prateado, itens essenciais para pilotar naves espaciais infantis e rumou para São Paulo. Em dois minutos chegou ao destino.
Como já era conhecida na Biblioteca, entrou sem cerimônias perguntando pela querida vovozinha. A Regina que ainda estava no balcão de empréstimo, de barba branca de molho, avisou que provavelmente ela estaria tomando café.
Ao chegar à copa, todo mundo fez festa:
- Olá! Como vai? – disse a Rita
- Como está linda a sua neta! Comentou a Araci
- Ah, há! Trouxe docinho para a vovó? Emendou a Mony.
Respondeu um arigatô para aquele povo escandaloso. Acanhada foi se chegando perto da avó e falou baixinho, mal de família ou da etnia?
- Vovó pra que este decote tão grande?!
- É pra ventilar melhor o pescoço, respondeu a Neusa.
- Pra que este cabelo de espanador?
- É para arejar as idéias.
- Pra que este salto tão alto?
- É pra subir na vida.
- Pra que esta plástica nos olhos?
- É para abri-los e enxergar looongeeee!!!!!!
- Será que também posso abrir os meus?É que assim o mundo parece pequeno.
A Neusa deu um sorriso e explicou para a neta que ainda era cedo e também era por isso que os japoneses transformava toda nova invenção do Ocidente, num mesmo objeto na versão micro.
- Então tá-né-vó. Come a torta que tenho que voltar pra casa.
E lá se foi a japonesinha feliz da vida, almoçar sushi e peixe cru no Japão.

Falta-me fé

Hoje visitei o meu dentista e mais uma vez lhe perguntei: É hoje?
- Não, não será hoje e nem mês que vem.
Senti uma dor no peito e uma angústia por ainda não poder comer torresmos.
Contudo, desta vez ele foi bonzinho, deu algumas explicações, que no fundo eu já sabia.
Como escrevi em Valei-me Santa Apolonia, o dentista não que acabar com o seu brinquedinho. O raio do dentinho, que para mim já desceu tudo o que tinha que descer, para ele ainda não. A cada mês o maldito desce milímetros e como ainda faltam alguns outros milímetros...quiçá no Natal poderei ceiar sem percausos.
Bem que a Vilani avisou: vai durar seis anos!
Decididamente falta-me fé, então vou seguir os conselhos da Araci (outra amiga de trabalho) e mentalizar todo o poder do meu pensamento, tipo o filme O Segredo, para esta longa caminhada da estética dentária terminar e eu poder engordar!!!!!

Salve, Salve São Barnabé

Não sei por que (des)cargas d´água o diretor da FAU decidiu disponibilizar para todas as funcionárias, um único, mísero e fedorento banheiro.
No final do ano passado, veio o ofício da diretoria comunicando a mudança imediata e sem choro nem vela para São Barnabé, o Santo protetor dos funcionários públicos.
Diante da democracia, sem consulta às bases, esvaziamos nossos armários particulares, cheios de pastas e escovas de dente; escovas e pentes de cabelo; batom, sombras, sabonetes, sabonetinhos, toalhinhas, absorventes, perfumes, potinhos, papel higiênico para uma emergência mais sólida, enfim, mil coisas e coisinhas, para os homens dos serviços gerais carregarem nossos arquivos, armários e/ou guarda-roupa para a nova moradia.
Assim, num espaço claustrofóbico de 6 x 5m2, com três latrinas, portas sem trincos, sem janelas, duas pias e paredes pintadas de vermelho-sangue e azul-petróleo (as cores primárias da arquitetura moderna brasileira) aboletamos 2 armários cinzas que somam-se 20 portas, um armário de madeira pintado de branco, com 10 portas e por fim, um guarda-roupa marrom. Considerando que cada portinha de armário é ocupada por duas pessoas ou mais, calculo umas trinta usuárias para três míseras privadas.
É lógico que esta quantidade de armários impede a boa circulação, teve um dia que calculei mal a passagem e bati a cabeça na quina da porta, vi estrelas, por sorte estava sozinha e não paguei mico.
A hora do almoço é um sufoco, faz fila para usar as três latrinas, fila para escovar os dentes, quando há serviços de cabeleireiro das moças atualizando as chapinhas aí o ar fica insuportável! O ar parado e quente do secador deixa a paisagem nebulosa e irrespirável, mas mulher que é mulher suporta qualquer dor ou qualquer provação pela vaidade.
A primeira hora da manhã, quando as faxineiras ainda não passaram por lá, a melhor opção é o banheiro da rodoviária mais próxima...! Papeis higiênicos transbordam dos lixos, nem Berlusconi resolveria este problema. Sabe aquela coisa de matar aula no banheiro? Neste, nem pensar.
Como a ventilação é inexistente, na falta de janela para o ar circular, fizeram um puxadinho: um cano que exausta o cheiro para o lado de fora bem em cima da porta de entrada/saída.
A história nos ensina que os banheiros surgiram por volta de 2.500 A. C., dentro das pirâmides para tornar a eternidade dos faraós mais agradável.
Em Roma:“ Nos banhos públicos aconteciam reuniões, encontros, conversas e acordos que impulsionavam tanto a política como as artes e as ciências...”
Mas foi na Idade média que identifiquei na nossa atual situação:
“A Idade Média, muito apropriadamente chamada de Idade das Trevas, protagoniza o total sepultamento dos hábitos de higiene. A Igreja, poder político e cultural absoluto, abominava os banhos tratando-os como "Orgias Pecaminosas". Nos castelos... os "banheiros" eram escuros, pois, acreditava-se que no claro as moscas e demais insetos se aproximavam e transmitiam doenças...”
Aí veio o século XX mudando o nome para toilette e arquitetos de interiores especialistas neste nobre cômodo, transformando-os num espaço de descanso e saúde!. Quem nos dera!
Como não somos faraós, políticos e nem milionárias, só nos resta rezar para São Barnabé.
Salve, salve meu Santo protetor!

domingo, 29 de junho de 2008

Janelas vizinhas

De repente a gente descobre que a nossa vida está sendo invadida por olhares estranhos. Não de câmara de segurança, que já nos acostumamos, mas de olhares vizinhos, vizinhos das janelas do meu apartamento. Onde quer que eu vá, meu quarto, quarto da minha filha, sala, sempre haverá a possibilidade da minha intimidade estar sendo invadida por um olhar. Um olhar azul? Verde? Castanhos? Olhares jovens? Olhares idosos?
Numa distância de uns 200 metros, creio, pois não sei quantificar ao certo a distância, alinha-se um prédio baixo de 4 andares, com duas sacadas voltadas para o meu prédio. A pesar de eu estar no sétimo andar, a impressão que tenho é que estamos alinhados frente a frente.
No terceiro andar mora um gordo, que todas as manhã sai na sacada, acho que é para sentir o clima e decidir a roupa que vai vestir. O seu interesse porém, não é a minha janela, pois sempre o vejo com o rosto voltado para as janelas das Ligas das Senhoras Católicas, onde moram moças de fino trato.

Todas as manhãs sofro na minha decisão do “com que roupa eu vou”.
Depois do meu café da manhã de pijama e ler o jornal, tomo o banho e inutilmente vou calculando a roupa, os sapatos, o casaco, a bolsa, o batom, bijous e perfume que vou colocar, porém invariavelmente o que planejo não combina com o humor do dia. Aí começa o meu desespero, os minutos se passam, o rádio vai repetindo as horas e me pego afobada pondo e trocando a calça por uma saia, a camiseta por uma blusa, o sapato por um tênis, troco tudo de novo e as roupas vão saindo do guarda-roupa e sendo empilhadas na cama já desarrumada. A minha ira cresce, pois o quarto cada vez mais vai ficando uma zona.
Quando chego a um acordo da roupa e dos sapatos com o estado de espírito do dia, perco mais alguns minutos enfiando o que restou das peças não escolhidas no guarda-roupa. Batom, perfume, trocar de bolsa? NÃO! Nem pensar, isto significa mais minutos perdidos na minha vida. Um amigo meu, sugeriu que abrisse a janela, que a luz do dia facilita a escolha da roupa. Mas com o meu vizinho gordo, abrir a minha veneziana, nem pensar! Sei que o seu interesse não sou eu afinal, já passei dos quarenta e nada mais está firme como nos meus 20 e 30 anos, mas mesmo assim, não em sinto segura seria como a sua respiração no meu cangote. Talvez trocar a lâmpada por uma mais forte, melhor seria comprar roupas novas.

Hoje é sábado, saí da cama às 8.30 h. e ao levantar a minha veneziana, constatei que as portas das sacadas do apartamento do gordoto ainda estavam fechadas. Dormindo?, pensei. Hoje é sábado e geralmente acordamos mais tarde.
Tomei o meu café, lavei a louça, voltei à sala e as portas continuavam fechadas. “a balada foi boa ou o gordo é dorminhoco?”.
Voltei aos meus afazeres de sábado: lavar roupa, arrumar armário, falei com minha mãe pelo telefone que me alertou que já era hora de fazer o almoço. Instintivamente olhei para o prédio vizinho. Tudo fechado, inclusive o segundo andar, no primeiro nunca vi ninguém. Gordo viajou? E a moçada do segundo, onde estarão? Lembrei então, que neste andar, moravam duas moças e um rapaz que costumavam ficar de roupas íntimas pela casa com as portas escancaradas até durante a noite. Saber que eles andavam de cueca e calcinha a qualquer hora do dia não é culpa minha, afinal eles é que deixavam as portas abertas, é também o que me fez deduzir que o apartamento deve ser um forno e que por isso, o gordo saia na sacada todas as manhãs para refrescar o corpo e não para devastar as janelas das moças de fino trato.
Mas onde estarão os três pelados? Era divertido ver a moçada pela janela, era como assistir um filme sem fala da vida cotidiana. Um big brother gratuito. Certa noite, uma sexta-feira, dia de balada, eu estava trabalhando no meu micro e ao dar uma pausa para o pensamento fluir, percebi os três indo e vindo de um cômodo ao outro. Por vezes, alguém sumia por uma porta ao fundo. Fiquei olhando para tentar descobrir o que acontecia. Até aquele momento não sabia quem morava lá. Podia ser uma república de moças e o cara estava visitando.
Será que vai rolar uma festa? Tem uma no telefone... estão combinando um programa ou um convidado está perdido? O rapaz some uma moça mexe na cômoda, faz o gesto de colocar o brinco na orelha. A outra desliga o telefone... passa para o outro cômodo e fala com a amiga, o rapaz reaparece... vão os três para o cômodo da esquerda e abrem a porta, creio que de saída. Uma volta e pega a bolsa. Beijam-se como uma despedida. O casal some e fica uma moça. Ué? Ela não vai para a balada? Volta e pega o telefone. Ah, rá! está combinando um programa com outra pessoa, desliga e some, mas não apaga as luzes. Volto a me concentrar no meu micro. Minutos e horas se passam, quando a minha curiosidade volta o meu olhar para o segundo andar as luzes estão apagadas, mas a s portas continuam abertas. Elas não têm medo de bicho entrar, de uma baratinha voadora invadir o seu espaço? São umas loucas!

Somente hoje me dei conta que a turma não está morando mais no segundo andar. No meio da tarde vi as portas abertas e percebi que o apartamento estava vazio. Havia dois rapazes, será que serão os novos moradores? Acho que estão fazendo faxina ou pintando o apartamento, não deu para perceber ao certo. Ficarei de olho, amanhã chegarei a uma conclusão, tudo dependerá se as portas estarão abertas. O gordo ainda não voltou.

domingo, 15 de junho de 2008

Valei-me Santa Apolônia!



15 de julho de 2008.
Pelos meus cálculos só faltam 41 dias ou 984 horas, para o dentista tirar o este maldito aparelho das minhas arcadas. Sobrevivi aos últimos 689 dias da minha pacata vida, passando fio dental com agulinha de plástico, que para quebrar a monotonia, às vezes era azul, outras amarela ou branca. E devido a minha idade avançada, tipo muito-pós-adolescente, não podia esquecer os óculos para enxergar os “entre-dentes” no espelho.
Nos últimos 47 meses, passei por maus bocados, como minhas amigas haviam precavido:
Comer beterraba: deixa tudo vermelho;
Comer hot-dog: o pão mole incrusta nos ferrinhos;
Comer folhas verdes: cola em lugares nunca dantes imaginados, na história deste país;
Depois do “aperto” mensal que o dentista dá: ficamos uma semana na papinha, sonhando com um bom naco de torresmo, ou uma torrada para os lights.
Como eu disse em 2006, o dentista previu dois anos e tratamento no máximo! Contudo, minha amiga Vilani vaticinou: eles sempre falam dois anos e ficamos seis. Arre égua, ai, ai, ai. Ando desconfiada que a coisa pode se alongar, pois nas últimas consultas sempre pergunto:
- E aí, é hoje que você vai tirar o aparelho?
- Qual é a previsão?
E ele sempre responde com um ãh, hã, um sorriso, um riso, uma gargalhada e desconversa, falando do tempo, da política ou da falta de grana.
Todos os dias, analiso a minha situação dentária e concluo que os objetivos já foram alcançados, isto é, descer um dente, empurrar os superiores para o lado esquerdo e para trás, fechando o buraco deixado por um dente, o tal que em 2006, meu irmão bravamente arrancou. Digo bravamente nos dois sentidos: heróico e raivoso.
Às vezes penso que o sadismo nato de todo dentista, faz o meu não querer terminar o tratamento. Como pode querer acabar com o seu próprio brinquedinho? Deve ser prazerosos encaixar borrachinha por borrachinha em cada bráquete, passar o fio de aço, torcer com o alicate, cortar e apertar até o paciente grunir de dor e ainda perguntar de está doendo! Este prazer meticuloso, concluo, chega as raias da sodomia. Se não aperta um aparelho ortodôntico, nos tortura com o motorzinho, arranca um dente com o buticão (este nome sempre me assusta), suga nossa alma com o sugador de salivas, sem falar quando quer que o paciente discuta a situação política país de boca aberta.
Agora só me resta rezar para Santa Apolônia abreviar este meu sofrimento, nas próximas 984 horas, é óbvio e que este tratamento chegue ao fim em 26 de julho de 2008, quando completa-se dois anos de via férrea em meus dentes.

Amém.

Nota: Santa Apolônia fez parte de um grupo de virgens martires que padeceram em Alexandria no Egito, durante um levante local contra o Cristianismo antes da perseguição de Décio. De acordo com a lenda, durante sua tortura teve ainda todos os seus dentes violentamente arrancados ou quebrados. Por esta razão, é popularmente considerada como a padroeira dos dentistas e daqueles que sofrem de dor de dente ou outros problemas dentais.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Apol%C3%B4nia

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Os Anjos no Céu

Depois de um longo sono tranqüilo, sem apnéia, sem chuva na cama, Emily abriu os olhos. Não reconheceu nada a sua volta e aflita foi logo pensando alto:
- Onde é que estou? Pra onde vou? Será que hoje é dia do meu rodízio e perdi a hora de novo?!
Levantou-se das nuvens em que estava deitada e encontrou um belo café da manhã, repleto de papo-de-anjo, chás, leitinhos, chocolates, tudo o que podemos imaginar. Sem cerimônias Emily deitou e rolou nas guloseimas. De barriga quentinha, espreguiçou-se e notou um lindo portal de ouro a sua frente, com um senhor gordinho olhando para ela:
- Seja bem vinda dona Emily!
- Pode me chamar só pelo nome, mas ki ki é isso aqui? Onde é que estou? Pra onde vou? Pra esquerda ou pra direita? Cadê a Edla? Cadê a Mony? E a Célia, Let’s, todo mundo! Céus kikiéisso aqui?
O gordinho de barba branca, vestido de santo, respondeu:
- Calma! cara amiga, você está no céu e esse povo vem depois, agora você encontrar outras amigas por aqui.
- Céu? Fazendo o quê? Como é que vim parar aqui?
- Ai meu Deus! Todo mundo faz esta pergunta quando chega aqui...
E antes de terminar a frase, o santo foi interrompido pela sua secretária:
- Emily! Você chegou! Estava morrendo de saudades!
- Dora! Quanto tempo! Também morri de saudades, mas me explique onde estou?
- Pô Emily, no céu! E você não sabe quem também está aqui...a Sonia e...
- Bom, já que você já está integrada com os anjos do céu, deixou-a nas mãos da minha eficiente secretária, a Dora, para explicar como é que as coisas funcionam aqui – interrompeu o Santo.
- Ki ki é bem? Não escutei.
O Santo caiu na gargalhada, balançando a barriga:
- Ô meu anjo, aqui no céu ninguém tem defeito de nascença e nem doenças. Você escutou muito bem.
- Pódeixar São Pedro que explico tudo, interveio a Dora puxando a Emily através do Portal para entrar definitivamente no céu.
De olhos arregalados e boquiaberta, exclamou:
- Noooossaaaa!!! Aqui é mais bonito que o céu do Líbano!
Nisso ela escuta uma voz amiga:
- Emily! Tu chegou! Me conta, como vai o povo da FAU?.
- Sônia! Que saudades...Estou feliz por encontrar vocês aqui, não vou me sentir solitária. Mas me contem o que a gente faz aqui no céu? O café da manhã estava divino!
A Dora e a Sonia entreolharam-se e caíram na gargalhada: aqui tudo é divino e maravilhoso!
- Meninas, o que vocês andaram fazendo por aqui, durante esses anos?
- Bom, depois da experiência de secretariar o Antônio Henrique Amaral, Deus me incumbiu a tarefa de auxiliar todos os Santos, ou seja, São Pedro, São Paulo, Santo Antônio, São Expedito, enfim, todos.
- Nossa Dora e você dá conta?
- Afê, tiro de letra, isso não é nada. Lembre-se que construí a minha própria casa em Piquete, trabalhei com a Granja, com Antonio Henrique e a Norma. Os Santos são santos perto de todo esse povo. O único que dá mais trabalho é Santo Antônio, está difícil arrumar homem para tanta mulher solteira.
- É pensando assim, você tem razão. E você Sonia, que anda fazendo?
- Bah tchê, tu não imagina, logo que cheguei aqui abracei a causa dos Anjos Sem Nuvens. Foi lindo! Todos aqueles anjinhos barrocos caminhando e cantando. O anjo Gabriel foi quem representou os anjos na Comissão Celestial das Nuvens.
- Ele é porreta, interrompeu a Dora.
- Eu só orientei como tinha que reinvidicar as nuvens, contei a minha experiência, sabe? Aquelas maravilhosas greves da USP, as passeatas no Palácio do Governador, na Paulista, as bombas de gás lacrimogêneo, você sabe, né?
- Sei, sei, mas aqui também tem isso.
- Nãããooo... Aqui tudo é light, divino e maravilhoso. Depois te conto os detalhes.
- Tem biblioteca aqui? Será que posso trabalhar lá? – perguntou a Emily, ansiosa.
Mas um anjo-barroco-mensageiro, cortou a conversa trazendo um convite para a Emily. A Dora olhou e sorriu:
- Esse programa você vai adorar!
- Ki ki é isso? Um convite para um recital do Tom Jobim! Acompanhado por Mozart em pessoa! Ai, aiai, aiai, sem dúvida estou no céu!
- Então, Emily, esta será a sua função aqui no céu. Organizar recitais, ninguém melhor que você para trazer as atualidades da terra.
- Esqueça as bibliotecas, isso pode esperar a Let’s, que quando chegar vai processar tudo num piscar de olhos e não precisa se preocupar com espaço, que é divino, maravilhoso e infinito! Retrucou a Sônia.
- E nem descartar, explicou a Dora.
- Então gente, mostrem o céu!
- Com prazer, responderam as duas em coro, e aqui não tem problema de goteiras e desconforto ambiental.
- Ai que maravilha! Divino!

E assim, nossas três amigas foram felizes para a eternidade.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Será que ela virá?

Sensibilizado com a escassez de pessoal na biblioteca da FAU, o senhor diretor prometeu uma funcionária eficiente para cobrir esta falta, buraco, ou melhor, rombo de funcionários! Ninguém menos que a Bete da Comissão de Graduação.
Conheci a Bete no banheiro, entre uma escovada de dentes e outra, e parece ser daquelas pessoas que eu gosto, a mil! Cheia de energia e é de gente assim que precisamos na biblioteca. Bom, pelo menos este escatológico banheiro das funcionárias da FAU, está me servindo para a conhecer novas pessoas.
Então, recebemos a informação que ela assumiria o seu posto em janeiro. Nos planejamos para recebê-la de braços abertos e sorrisos largos, mas era época de férias e ficou para o mês seguinte.
Fevereiro chegou com toda a força do verão e com ele, a nova notícia: a Bete precisa ficar na Comissão, pois é época de atender as transferências, equivalências, blábláblá, blábláblá. Sem saída, acatamos a nova ordem e continuamos a fazer novas carteirinhas, a emprestar, a guardar livros, revistas, projetos, slides, cds, dvds, enfim, a rotina de uma biblioteca com ou sem funcionários.
Aí veio março com suas águas fechando o verão e nós aqui, afogadas em livros e carteirinhas, com a vã esperança da breve chegada da Bete, como quem fica olhando o céu noturno a espera de um disco voador e se não existe disco voador, conclui-se: a Bete não veio.
Abril. O verão acabou e o outono chegou trazendo apenas o frio. Nos agasalhamos e enchemos nossos corações de mais esperança de que mais um calor humano viria esquentar o nosso desconforto ambiental. Mas ainda não era a hora da Bete:
- Ela precisa fazer uns acertos finais na Comissão de Graduação.
Em maio o frio apertou, acendemos uma vela para esquentar o ambiente e rezar pra Deus Nosso Senhor enviar a Bete de qualquer maneira.Parece que Deus tentou acender uma luz no fim do túnel e surgiu uma nova chama de esperança. É que uma funcionária de outra unidade veio para a biblioteca, a cedemos para a Comissão de Graduação com o intuito de a troca ser imediata. Ela pela Bete. A funcionária foi e nós ficamos de mãos vazias: A Bete não veio. Desta vez tinha que “treinar” a nova substituta.
Sem saída e com a porta de emergência trancada, nós aqui na biblioteca continuamos a emprestar e guardar livros, revistas, projetos, slides, cds, dvds, enfim a rotina de uma biblioteca, com ou sem funcionários.
Junho.
- Agora vem.
- Será que virá?
Alguém cantou: e no balanço das horas tudo pode mudar....
A última notícia que obtivemos, no banheiro, é claro, é que definitivamente a Bete não vem em junho e em julho estará de férias, será que no mês do cachorro louco ela vem?
Esgotado(a)s da esperança/sem esperança, espera/não espera, vem/não vem, só nos resta lembrar o Cazuza:
“Bete Balanço, meu amor, me avise quando for a hora...”

(dizem por aí que quem espera sempre alcança).

quarta-feira, 4 de junho de 2008

O Espanador japonês

A Neusa é uma caixinha de surpresas. Já me deu um susto quando pensei que seu casaquinho tamanho gigante ambulante era um puf roxo de rodinhas. Depois customizou o puf tornando-se uma cama-sexy-redonda. Agora nesses tempos de beleza pura, fez um upgrade em suas madeixas de gueixa, transformando-se em mais bibliotecária loira de raízes negras e para ficar mais fashion, espeta tudo pra cima.
Está certo que a Eliana saiu, a Dina escureceu o cabelo e a Edla em breve se tornará uma turista profissional, mas não será por falta de inteligências loirísticas que esta biblioteca não vai mais funcionar.
A Neusa sempre me prega peças. Outro dia estava eu, nos fichários, sim esta biblioteca ainda tem fichários com fichinhas de 12 x 7 cm....e vejo uma penugem igual a de um espanador, andando sozinho pela beirada do outro lado do móvel. A primeira vista pensei que era a faxineira limpando as gavetinhas, mas ele continuou andando e falando (de novo)
- Bom dia Let´s
Olhei pra trás, pros lados e não vi ninguém. Sabe aquele segundo que o tico e o teco funcionam? Concluí: é o espanador que está falando!
Depois de oito anos de FAU nada mais me assusta, tranqüila porém desconfiada, respondi bom dia, esperando para ver quem era a dona da voz e daquele espanador ambulante. Ufa! Era somente a Neusa.
E lá veio ela sorrindo:
- Então Let´s, e o carro novo?
- Ah! O carro é outra estória.

A janela sem a moça

Aquela janela da FAU que em 2002, tinha a moça que via o tempo passar, o entulho cair, agora está vazia. Não é domingo, ora pois, mas a moça sumiu de lá. É que os tempos mudaram e a nossa Rita da Fita, não usa mais fita no cabelo e nem pita mais, não pita porque não quer, não se entope de nicotina porque uma pneumonia quase a leva desta para melhor.
Mas a vida continua e as frondosas árvores do estacionamento da Matemática continuam sacudindo seus galhos ao vento, a poeira continua entrando na sua sala, os alunos continuam passando lá embaixo, só o entulho não cai mais afinal, a reforma acabou.
Foi a força do destino que fez a cabrocha namoradeira de cabelos lisos e passos apertadinhos, lembrar que já era avó. Este destino fatídico manifestou-se cruelmente através do seu querido neto: num dia plácido de céu azul, às margens da rua do Lago ela saiu correndo atrás do neto, não se sabe se estava brincando de pega-pega ou se queria salvá-lo de um possível acidente, só sei que devido a este ato tresloucado, pensando que ainda podia sair por aí saltitante, seu tendão gasto, não tanto pela idade mas sim pelos sambas sambados durante a sua existência, rompeu-se num TREK.
Dá para imaginar o auê que foi na biblioteca? Leva a Rita para o hospital, leva o ponto para ela assinar, um diz-que-diz danado: se ela pode, também quero! Três meses sem ela! Nem preciso dizer que o controle dos livros, que estavam no restauro, foi-se por água abaixo, melhor dizendo: foi-se FURNAS abaixo.
Depois da operação deram três meses de licença, três meses em casa de cama, num bem-bão de dar inveja. Sem ter o que fazer ficou pensando na vida, revendo seu passado, reformulando o futuro e com tanta caraminhola na cabeça, surgiu a nova Rita sem fita e de vida saudável: não fuma, devido à pneumonia; não usa mais plataforma, devido às seqüelas do acidente; ganhou uns quilinhos na cintura, também seqüelas da mordomia; adotou os cabelos rebeldes, pela rebeldia da moda (acho que é preguiça mesmo) e o samba?
- Ah! Isso não largo, não!
Mas continua sempre sorrindo, sempre simpática me fazendo rir muito em nossos cafés matinais. E o que eu mais prezo nela, nesta sua nova vida saudável, é aquela latinha redondinha abarrotada de bolachinhas, uma “ dilicia!”

terça-feira, 3 de junho de 2008

Meu carro zero!

Enfim a novela terminou: depois de idas e vindad à concessionária para perguntar preço e financiamento, fazer contas e mais contas, assaltar cofrinho, ufa! Comprei meu primeiro carro zero. E como todo pobre mortal ou vice-versa, isto é, uma mortal paupérrima, pagarei em 5 anos. Toda uma infância!
Deixei pra trás um kadett 1.6, ano 95 e peguei um Fiesta 1.0, 0, veja bem ZERO KM todo equipado: direção hidráulica, ar,travas, alarmes, luzes e luzinhas.
Agora só falta o som que parcelarei em breve.
Mas êta que o carro não sobe ladeira!! Tem que pegar embalo senão não vai. Ainda estou me costumando.
Já batizei: raspei a roda na guia no segundo dia de uso. bela bosta.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Minha homenagem a Emily

Fazia apenas oito anos que eu conhecia a Emily, não posso dizer que foram intensos, mas foram anos de aprendizagem, alegrias, companheirismo e boas caronas!.
A partir de 2002, quando me tornei a cronista da biblioteca, ela passou a ser a minha fonte de grandes inspirações, pois era um chafariz de caricaturas, no bom sentido.
Aquele jeito meio aéreo, de não sei se fico ou se vou, aquele “repete bem”, “fala de novo, não escutei”, quando invariavelmente não sabia onde havia estacionado o carro (mas isso, eu também).
Lembro quando o Rodson pediu demissão, o furdunço que foi. E o seu passeio de balão pelos céus das arábias, de morrer de inveja, seus programinhas culturais que me contava nas segundas. Arre égua! Ce não sabe o tamanho do soco no estômago ao saber da infeliz notícia.
Agora sentirei falta não só da tia Sumaya, como principalmente da Emily.
Isto não é uma crônica, mas um desabafo, pois não sei chorar, da minha tristeza e consternação por ela ter me largado aqui, assim, sozinha sem saber pra onde ir, sem bolo nem café, um tchauzinho pelo menos. Nem nos deu a chance de uma visitinha.
E agora? Como é que eu fico?
Bom, que os céus receba mais um anjinho barroco, meio estabanado....

20/5/2008

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Dia das mães

O meu dia das mães rendeu! lavei a geladeira, roupas e o chão da cozinha.
O almoço resumiu-se a 4 " pastel" sem chopps que dividi com a minha filha.
mas fiz uma boa ação, quem compra 4 pastéis ganha mais 1, como sabia que não aguentaria comer 3, dei um para a menina que trabalha na barraca das cebolas.
Depois do trampo doméstico, assisti ao filme El passado, com aquele rapazinho bunitinho Gael Garcia.
Descanço merecido para o dia das mães.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Depois de Campos do Jordão


Depois de 35 anos, continuamos amigas...
Eu, Rosa e Maína em 2008.
foto da Maína, por isso que está ótima....

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Trilhos


Trilhos no meio da cidade de São José dos Campos (1985)

Reformas


Reforma no telhado do meu prédio, em 1985.
Na época, fiz uma curso de fotografia.

da minha janela


1985
Da minha janela não via o Cristo Redentor.
Via a praça na Vila Madalena.
A noite via as luzes da ladeira da química na USP.
Hoje só vejo prédios e mais prédios.

Campos do Jordão- 1973


Minha primeira excursão escolar. Meu primeiro ano no Instituto São José, colégio de freiras! Não sei porque tirei esta fotos, essas meninas ainda viriam a ser minhas melhores amigas no colégio e algumas ainda são.
Agachadas com a mão na água: Angela, Rosa e Maína.
De pé: Jane, Du e Marcia.

domingo, 27 de abril de 2008

vazios

20 dias sem alimentar meu blog!
É o vazio daqui de dentro.
Vazio de idéias, palavras e imagens.
Então fica assim: tudo parado,
tudo deserto.

terça-feira, 8 de abril de 2008

APARECIDA

A mim me parece que eu não apareço,
parece até, que não tenho parentesco.
Que não pareço com a mãe,
que se parece com a Aparecida.

Padecida e parida,
por um Deus que nunca aparece
quando padecendo, precisamos,
mas que se parece com o filho.

A Maria, com a filha, ela queria que se parecesse,
mas a filha mais parece a Madalena,
- toda plena...

A que a vós lhe parece esta voz?
À alma que basta parecer,
padecer para crer,
que um dia vai parecer
ser o filho aparente.


julho/ 2000

quarta-feira, 26 de março de 2008

Mandei um email

Mandei um email
para o seu endereço,
mas ele veio
partido ao meio,
com chocolate de recheio
que comi no recreio.

Repartir com o parceiro,
sentado ao lado esquerdo
meio torto, meio inteiro.

Do morango vermelho
que espirrou no espelho,
desenhei um escaravelho.

Descubra o meu meio
e me diga por inteiro,
o chocolate, ao que veio
e o morango, de recheio?



julho 2000

Estórias infantis - 4 - Sofia na floresta

Num dia muito quente de verão, Sofia e o primo Zequinha estavam brincando no jardim da vovó, mas como a vovó estava atrasada com o almoço, pediu-lhes que fossem ao fundo do quintal buscar temperos para fazer uma comida bem gostosa. Atendendo ao pedido e com uma cestinha na mão foram colher louro e salsinha.
Mas a vovó alertou-os para que tomassem cuidado com o buraco que havia no muro e que não passassem por ele.
Chegando ao fundo do quintal, enquanto Sofia colhia os temperos, Zequinha perguntou curioso:
- O que será que tem do outro lado do muro?
- Não sei, mas a vovó avisou para gente não passar.
Mas um passarinho posou no chão, olhou para um lado, olhou para o outro e piando e dando pulinhos atravessou o buraco. Zequinha, tentando pegar o passarinho, também atravessou o buraco.
- Zequinha, volte aqui! - gritou Sofia seguindo os dois.
Já do outro lado, os dois ficaram de boca aberta, admirando a bela floresta que havia lá.
- Nossa! Que lindo - disse Zequinha.
- Quanto passarinho - respondeu a prima.
- Olha um coelho!
- Um macaco! Um tatu! Quantas flores!
Os dois primos, distraídos foram andando pela floresta, admirando e olhando tudo ao redor, até que avistaram uma casa linda feita de chocolate, biscoito, bala de goma, sorvete e brigadeiro.
- Olha só que legal Sofia!
Ela, passando a língua nos lábios e as mãos na barriga, concordou dizendo: - Ai que fome...
E os dois começaram a tirar pedacinhos de chocolate da casa para comer.
- Bom, né?
- Delicioso, respondeu Sofia, abrindo a porta com uma mordida na maçaneta.
Foram entrando devagarinho e com tantos doces a sua volta não puderam conter a alegria e gritaram:
- Quantos doces maravilhosos!
- Ah, porque a nossa casa não é assim?
- Seria muito legal.
Mas uma voz esquisita perguntou :
- O que vocês estão fazendo aqui na minha casa?
Era uma bruxa, pequenina, enrrugadinha que segurava uma bengala.
- Nada... É que a gente estava passando e deu uma fomeee... Respondeu Sofia, tentando sair de fininho
- Fome é? Resmungou a bruxa aproximando-se dos dois.
- Huumm! A menina tem uma bochechinha rosada e é bem fofinha, mas a menina como é magro! Sabe que eu também estou com fome? Mas primeiro é preciso engordar este menino.
Puxou o Zequinha pelo braço trancando-o dentro de uma enorme gaiola.
- E você menina, vai me ajudar arrumar a casa. Pegue uma vassoura e vá varrer o quintal.
Sofia obedecendo à bruxa começou a varrer o chão.
- Por que a menina está triste? - perguntou uma voz.
Sofia olhou em volta e não viu ninguém.
- Quem está falando?
- Sou eu, a vassoura mágica.
A menina deu um pulo para trás e, assustada, largou a vassoura, que não caiu!
Deu um vôo rasante em torno dela e disse assim:
- Não tenha medo. Sou sua amiga. Essa bruxa é muito chata. Fez esta casa de doces e depois acha ruim quando as crianças comem. Pode?
Sofia perguntou aflita:
- E você, gosta de criança? Pode me ajudar a sair daqui?
- Claro que sim ! Vamos, suba nas minhas costas que te levarei até a praça da sua avó para pedir ajuda.
Sofia não pensou duas vezes. Pulou em cima da vassoura e saíram voando, num lindo passeio por cima da floresta, furando as nuvens do céu.

Na praça, os amigos já estavam aflitos com o desaparecimento dos dois, pois já fazia tempo que a vovó estava procurando por eles.
De repente, Alan olhou para o céu e viu alguma coisa voando:
- Vejam lá em cima! O que será aquilo?
- É um avião - gritou o Alexandre.
- Não, é o super-homem !
- Acho que é a super-mulher - emendou Camila.
- Não! É a Sofia - berrou a Ana Clara.
VRUUUMMM.... A vassoura deu uma volta sobre a cabeça de todos e aterrissou na praça.
Todos correram ao encontro delas perguntado ao mesmo tempo:
- Onde você esteve?
- Cadê o Zequinha?
- Que vassoura é está?
- Calma, calma amigos. Acontece que preciso de ajuda , o Zequinha está preso na casa de doces da bruxa, no meio da floresta, do outro lado do muro. Mas não sei como poderemos ir todos até lá...
- Eu tenho uma idéia, falou a vassoura.
- Ela fala?! Interrompeu a Laurinha assustada. Mas a vassoura continuou a falar:
- Vou chamar todas as vassouras mágicas da floresta e assobiou bem forte e fininho.
Surgiu então, um monte de vassouras mágicas no céu. Sobrevoaram a praça e aterrissaram. A turma da rua bateu palmas de alegria e subiram nas costas delas.
- Todos prontos?
- Sim, estamos !
- Então segurem firme que vamos voar !!!! Num vôo lindo, maravilhoso! IAHOOOO!!!!
E todos levantaram vôo em direção à casa da bruxa. Chegando perto, as vassouras foram aterrissando uma a uma e as crianças descendo.
- Meu Deus ! Essa casa é uma delícia... Disse um
- Eu quero uma bala de goma, disse o outro.
E sem esperar por nada, todos avançaram como formigas nos doces, sorvetes, brigadeiros. Comeram a janela, a porta, o telhado...
A bruxa que estava no fundo do quintal procurando a Sofia, veio correndo resmungando:
- Mas o quê é isto? Que criançada gulosa, seus pais não lhes dão doces, não? Parem com isto !
Giovana com a boca lambuzada de sorvete de morango, virou-se e disse:
- Nós só vamos parar quando a senhora soltar o nosso amigo.
- Vocês vão é ficar com cáries nos dentes ! Praguejou a bruxa.
- Engano seu, disse Alan, pois nós sempre escovamos os dentes após as refeições, mesmo que obrigados, falou baixinho...
Quando a bruxa ia reclamar de novo, o Zequinha saiu da gaiola.
- Ah, ah, ah, enganei o bobo na casca do ovo. A bruxa é muito boba, comi o cadeado, um brigadeiro muito gostoso, e a porta se abriu. Ah, ah, ah...
A criançada caiu na gargalhada e saíram correndo, montaram nas vassouras mágicas e voaram de volta para a praça.
- Tchau bruxinha !!!
- Obrigada pelos doces!!
A bruxa ficou lá embaixo, sacudindo a bengala no ar resmungando não sei o quê.
Mas antes, Sofia colheu uns temperos mágicos na floresta.
Ao chegar de volta à praça, Sofia despediu-se da vassoura mágica:
- Muito obrigada, vassourinha. Sem vocês não conseguiríamos salvar o meu primo.
- Não foi nada, aquela bruxinha merecia uma lição. Bem agora precisamos voltar para as nossas bruxas. Adeus a todos.
Então, todas as vassouras mágicas levantaram vôo juntas, parecendo um bando de passarinhos voando no céu azul, desaparecendo entre as nuvens brancas.
Sofia e Zequinha despediram-se dos amigos e correram para a casa da vovó, que fez um delicioso almoço com os temperos da floresta.
- Cléa ! Disse o vovô - hoje você acertou no tempero, está tudo uma delícia!
- Graças a Sofia e ao Zequinha que trouxeram os temperos.
Os dois primos se olharam, riram, pois só eles sabiam do segredo dos temperos mágicos.

Leticia-1998

terça-feira, 25 de março de 2008

Estórias infantis - 3 - O ovo da Galinha

Certa vez, Sofia e sua mãe foram passar um fim-de-semana na fazenda do tio Beto e da tia Silvia. Lá tinha piscina, parquinho de madeira e um enorme campo de futebol.
Pela manhã, bem cedinho a Sofia e seus primos, tomavam o leite quentinho que o tio Beto tirava das tetas da vaca Rosinha depois, todos iam ao galinheiro dar milho às galinhas e pegar ovos para a tia Silvia fazer um belo omelete.
Sofia e a sua amiga Ana Clara estavam brincando de balançar na rede, quando o primo Pedrinho chegou correndo e falando rápido:
- Sofia, Ana Clara, venham ver uma coisa lá no galinheiro!!!
As duas pularam da rede e foram correndo para ver a novidade.
Entraram no galinheiro e os primos Conrado e João, mostraram para as meninas uma enorme galinha bonita chocando um ovo.
- O que é que tem essa galinha? - perguntou a Sofia.
- Ela está botando ovos de ouro! - respondeu o João.
- E daí? Disse a Ana Clara.
- É ouro! Podemos ficar ricos, emendou o Conrado.
- Podemos trocar o ouro por brinquedos, chocolates, sorvetes e um monte de coisas - completou o Pedrinho.
Sofia arregalou os olhos azuis e disse: Eu quero canetinhas coloridas para desenhar.
- Eu quero uma boneca que chora - pediu a Ana Clara.
- Mas os nossos pais não podem ficar sabendo - disse aflito o João - senão eles vão gastar todo o ouro para pagar o aluguel, a escola, a natação e não sei mais o quê...
Conrado continuou:
- E depois vão continuar falando que não há dinheiro para comprar um tênis novo.
- E as crianças da fazenda? Também vão ganhar brinquedos?
- É lógico, Ana Clara - respondeu a Sofia - mas como faremos para esconder o ouro?
- Tenho uma idéia, vamos escondê-la no nosso quarto, assim só nós cuidaremos da galinha - sugeriu Pedrinho.
Todos se olharam desconfiados, mas aceitaram a proposta.
Pedrinho pôs a galinha debaixo do braço e a levou para o quarto dos meninos, escondendo-a debaixo da cama.
- Pronto, aqui ela estará segura, agora vamos brincar lá fora e depois do almoço a gente vem ver quantos ovos ela pôs - ordenou Pedrinho.
Todos concordaram e saíram para brincar. Os meninos foram jogar futebol e as meninas correram para o parquinho.
Na hora combinada, as cinco crianças encontraram-se na porta do quarto e entraram um a um, bem devagar para não assustar a galinha.
- Nooosssaaaa!!! Que cheiro de cocô! - reclamou a Sofia, fechando o nariz com os dedos.
- Huuuummmm!!! - fez Pedrinho, enquanto olhava debaixo da cama.
- O que tem aí? - perguntou Conrado.
- Cocô, só cocô, não tem ovo não.
- Não acredito! Falaram todos juntos, atordoados sem entender por que a galinha não botou mais ovos.
Ana Clara, que é muito sensível e amiga dos animais, sugeriu:
- Acho que a galinha está triste, tadinha. Ela está sentindo falta de seus pintinhos e das suas amigas galinhas.
- Era só o que faltava, reclamou o Conrado.
- Acho que a Ana Clara tem razão - completou Sofia, com o dedinho no queixo - é melhor devolvê-la ao galinheiro.
- Não! Gritou João - vamos tentar mais um pouco, ela ainda pode botar um ovo de ouro!
Mas a galinha começou a cacarejar de tristeza: có, có, có...
- João, você não percebe que a galinha não bota mais ovos de tanta tristeza?
- A Ana Clara está certa - disse Conrado - vamos levá-la de volta e contar para os nossos pais, assim ela volta a botar ovos e o ouro pode ser dividido com mais pessoas.
Mesmo contrariado, João abraçou a galinha e toda a turminha o seguiu até o galinheiro. Lá a galinha cacarejou de felicidade, correu, ciscou, bateu asas contente com a sua liberdade.
E com todo o ouro que a galinha botou, a tia Silvia e o tio Beto fizeram uma enorme festa de São João, com fogueira, quentão, pipoca, guaraná e muita quadrilha pra todo mundo dançar.
Os pais, além de pagar a escola, a natação e não sei mais o quê, compraram bastantes presentes para os filhos.
Só esqueceram de contar para as crianças, que o ovo não era de ouro, era de galinha caipira, que bota ovo bem amarelinho.

“A GALINHA DO VIZINHO
BOTA OVO AMARELINHO.
BOTA 1, BOTA 2,BOTA 3,BOTA 4,BOTA 5,BOTA 6,BOTA 7,BOTA 8,BOTA 9,BOTA 10”


Leticia de Almeida Sampaio - 1999

Estórias infantis - 2 - O Mau humor da Júlia

Naquele dia, Júlia acordou com o pé esquerdo.
Levantou meio emburrada, meio torta,
esfregando os olhos e nem se olhou no espelho.

Não deu bom dia para o papai,
ligou a televisão,
espatifou-se no sofá
e suspirou um ai.

A mamãe chamou para tomar café.
Júlia respondeu:
- Tá bom...
E comeu todo o mamão em pé.

Na casa da vovó
puxou o cabelo do primo,
pisou no rabo do gato
e até quebrou um copo.

No almoço fez bico.
Empacou que nem bode na estrada
e não comeu nadica de nada.
No lanche, comeu uma banana
e choramingou que queria ir embora.

Aí veio uma dor de barriga.
Correu para o banheiro,
sentou na privada e depois gritou:
- Mãeeeeee !!!! Já acabei.

A mãe limpou o bumbum e disse:
- Nossa quanto cocô!
Acho que foi ele que deixou você de mau humor.

Júlia riu da idéia da mãe e lhe deu um beijo.
Correu para o colo da vovó e pediu gelatina.
Brincou com o primo
e deu um banho no gato na pia.

Agora ela estava feliz.
O mau humor foi embora com o cocô.
E pensou assim:
- Minha mãe tem cada idéia...


Leticia 23.02.99

Estórias infantis - 1- Uma gotinha

Havia uma gotinha na ponta de uma folha da árvore. O vento soprou e balançou a folha que fez a gotinha cair numa poça d’água.
Lá, ela encontrou várias gotinhas amigas que se deram as mãos e começaram a cantar:
Roda, roda, roda,
Pé, pé, pé,
Roda, roda, roda,
Caranguejo peixe é!
O sol apareceu bem forte esquentando o dia. As gotinhas, com o calor, subiram lá para o céu. E como lá encima faz muito frio, as gotinhas se juntaram uma bem pertinho da outra para ficarem bem quentinhas e formaram uma grande nuvem branca.
O vento frio, que vem do pólo sul, começou a soprar forte trazendo uma nuvem gorda e cinza.
Ela veio vindo, veio vindo e BRUUMMM!!!! Bateu na nuvem branca.
O vento soprou mais forte e BRUUUMMM!!!...A nuvem cinza bateu de novo na branca.
E de tanto trombar uma na outra, as gotinhas foram caindo, caindo na terra como chuva.
Molharam tudo: o parque, a areia, os carros, as casas, as ruas e as pessoas.
A nossa gotinha amiga caiu num riacho pequenino, no alto de uma montanha.
Junto com milhares de outras gotinhas, formaram um rio de água transparente, e foram escorregando entre pedras, pedrinhas e pedronas.
Caíram numa enorme cachoeira, deslizaram entre florestas matas e gramas até caírem no mar.
No balanço das ondas, a nossa amiga gotinha, chegou à beira da praia, onde dá pé para gente pequena.
E onda vem, onda vai, PIM! a gotinha bateu na perna da menina.
Onda vem, onda vai, Ai! Bateu no pé do menino.
Onda vem, onda vai, Ui! A gotinha pulou no nariz da menina.
A mãe da menina chamou:
- Filhaaa!!! Vamos tomar sorvete?
Ela voltou correndo para o guarda-sol enxugando o nariz.

Leticia Sampaio, 1998.

quinta-feira, 20 de março de 2008

minha metrópole


Rua Amália de Noronha em 1986.

maestro


palhaças


Carnaval.
A Rosa, Lígia e eu.
Bons tempos....

O BIGODE DE DALI


Inspirada em Salvador Dali

terça-feira, 18 de março de 2008

Escada


Estátua


engraçadinha...

oprimindo


oprimida
deprimida
a menina

ponto de equilíbrio


fome

esta ficou inacabada.
sem palavras

mão de Deus


Bons tempos que eu tinha tempo para fazer colagens....

domingo, 16 de março de 2008



ficha técnica:

texto: Gero Camilo

direção Cristiane Paoli Quito

elenco: Gero Camilo e Caco Ciocler

Fui ontem e gostei muito, principalmente do ator Gero Camilo que dá um show. Já o Caco, talvez por ser global ou tímido, deixa a desejar, mas não estraga o espetáculo. Gosto de peças sem cenários, pois permite a imaginação voar. Pena que acabou hoje, nem dá para fazer propaganda ou assistir de novo.

Estrada

Esta é a minha primeira colagem: 1976

Aos 16 anos queria ser artista plástica, mas como não tinha (e nunca terei) o dom para o desenho, optei pela colagem para brincar com imagens.

Lembro que a fiz sem prentensão alguma, mas depois de mostrar aos meus irmãos mais velhos, foram tantas as interpretações, que me assustei e me animei.

Dos meus pais, só tinha a reclamação que estava desperdiçando papel bom.... conflito de gerações.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Outros Blogs

Resolvi adicionar links a dois blogs que gosto muito.
O dopiomcj é da minha amiga Maína, que trabalha com imagens, arte final, web e acho que por isso, seu blog é farto de fotos lindas e vídeos interessantes. todo dia dou uma espiadinha pra ver as novidades.
O outro, do meu primo Paulo, médico e linguístico (será que é assim que se escreve?) muito bom para dicas de cinema, livros, discos e viagens.
Leiam e comentem o blog deles...

quarta-feira, 12 de março de 2008

1- A senha do meu micro

Não sei porquê inventaram de por senha nos micros da biblioteca. Tempos atrás a senha, que nem me lembro mais, era uma palavra comum, tipo de gente civilizada: Let´s, Biblio, XPTO. Mas as senhas tempos em tempos, expira e temos que trocar. Vai daí, quando prazo da senha começa a vencer, o micro começa a dar a mensagem: sua senha expira em 15 dias, quer modificar agora? Eu clicava no NÃO.
No dia seguinte: sua senha expira em 14 dias... cliclava NÃO.
Sua senha expira em 13 dias, 12 dias, 11 dias.... até que numa sexta-feira não teve jeito e mudei para MERDA. Quando foi na segunda-feira seguinte, dia do meu rodízio, dia em que estou sonolenta e etc.... digitei a senha anterior, aquela de gente civilizada, e deu SENHA INVÁLIDA.
Merda! Eu disse, e aí pimba! Lembrei da nova senha e conclui que era a melhor de todas: i-nes-que-cí-vel. Passou meses e o micro voltou dar a mesma mensagem: sua senha expira em 15 dias, 14 dias 13 dias.... mudei par BOSTA e deu certíssimo. Também não esqueci.
Acontece que ontem expirou de novo e na correria, digitei BOSTA para a nova senha (eu já tinha mudado meses atrás para MERDA) e não prestei atenção na mensagem e entendi que devia digitar a anterior. Digitei MERDA, pediu para repetir e acho que digitei BOSTA.
Hoje, cheguei alegre e feliz na biblioteca, ligo o micro e estava lá piscando: digite a sua senha. Digitei BOSTA. Senha inválida. Digitei MERDA. Senha inválida. Putz! Pensei, não é merda e nem bosta, que merda eu fiz? Misturei a merda com a bosta, digitei MBOSTA não deu, bosta com merda: BMERDA, não deu.
Aí meu, fudeu, pensei.
Mas agora, graças a superhipermegablaster Vilani, que resolveu o meu problema, voltei para a MERDA

26/02/2008

2 - Beleza pura

Aaahhhh, essa biblioteca da FAU, quantas inspirações ela não me dá?
Cheguei aqui em 2001, era agosto, fim do inverno, mas ainda frio, muito frio e achei chiquérrimo ela usarem luvas de lã sem dedos, para digitar, não preciso dizer que as copiei rapindinho.
Fui conhecendo os meus (quando existiam) e as minhas colegas de trabalho aos poucos. Sou tímida, você sabe, e fui me interando dos jargões e das manias de cada um, seus tipos, tipinhos e tipões. Tropecei no puf roxo até descobri que era a Neusa, conheci a tia Sumaya através da Emily, por telefone, aprendi tomar chá vermelhinhos com a Edla, fugir da costureira-maluca Lisely, tomar conselhos com Araci, entrar em greve com a Regina, ficar zen com a Célia e a ter cuidado com as insanas mansas, que não são poucas.
E o tempo passou, a biblioteca cresceu, comecei a pegar o jeito, por osmose, e estou descartando feito louca, só não posso me esquecer da Célia, descarta-la jamais! Basta a Reitoria querer mandar embora nossas 69, número tão sugestivo! Mas que na Usp deixam as mulheres a beira de um ataque de nervos.
Contudo, nem tudo são flores e alegrias. De uns anos pra cá a coisa começou a complicar, as emoções se misturam em caracóis e cabelos de medusa, modernamente esticado na chapinha, é claro. Como a maioria aqui é mulher, e sabe cumé ki é, aquela concorrência de quem é mais gostosa, chique e fashion? Aí desembestaram a costumizar as roupas. É um tal de aumentar decotes, fendas das saias até onde Deus permite, sobem e descem barras das saias; compram desesperadamente coleções de colares, até parece que são girafas! É botox dali, tira peito daqui, aspira banha de acolá, trocam receitas de regimes, a Let’s até parece anorexica! A escova progressiva, nem se fala, virou febre: 4 entre as vinte! E a massagem na Matemática? Tem fila!
Creminhos da Avon e Natura para peles oleosas-secas-mista, para cabelos, para estrias, celulites, para qualquer coisa....a Vila fatura!
Mas não pense vocês caros leitores leigos das manhas uspianas, que estas pobres mortais são descontadas no contra-cheque, quando se deitam e deleitam em mesas de operações, não meu bem, tudo respeitando os direitos e deveres celetistas, apresentam um atestadinho do INPS ou descontam os dias daquelas férias vencidas, que ninguém mais se lembra que existiam.
Quiçá no futuro, até teremos nota fiscal eletrônica da Vilani, só para ter o descontinho nos impostos.
Aaaahhh! Como é bom trabalhar aqui. Acho até que, se um morcego resolver dar uma passadinha nesta biblioteca, tem grandes chances de se tornar uma Lady Laura.
Letícia - 29/02/2008

3 - Meia Nove, a melhor idade.

Trabalhar na USP é pior que participar do Campeonato Brasileiro de Futebol, se este é uma caixinha de surpresas, aquele é uma implosão de emoções, que são tantas e capazes de arrepiar os caracóis de nossos cabelinhos com escovas progressivas.
Era uma segunda-feira ensolarada de janeiro, repito, dia do meu rodízio, dia que fico trupicando nos pés e batendo a cabeça de tanto sono. Geralmente sou que nem corno: o último a saber, mas neste dia estava completamente outsider e não percebi o zumzumzum do lado de lá da minha sala.
Aí para saber do acontecido, a Mony teve que me ligar em casa já a noitinha, deixando seus filhos de lado – coitados- berrando pelo jantar! só para contar que as nossas queridas beach-girls e a conselheira para assuntos diversos, vulgo, Emily, Edla e Araci respectivamente, receberam uma carta da Reitoria lembrando-as – e precisava lembrar? – que completarão 70 anos e por conseqüência, serão aposentadas querendo ou não. Foi uma choradeira. Cruzes, eu disse, fudeu.
Foi um tremendo choque, uma falta de ética revoltante, falta de sensibilidade, falta de etceteras, não só porque espalhou para o mundo! que as meninas estão no meia-nove, como também serão praticamente expulsas desta magnífica instituição; como se as nossas super-hiper-mega-blasters girls não tivessem mais utilidades.
Ficamos catatônicos. E agora quem vai nos servir chazinhos vermelhos e rosas? Quem vai nos atualizar com as novidades do mundo fashion? Quem vai comprar revista pensando que é livro? E a tia Sumaya? Como é que fica? Quem vai nos interromper de 5 em 5 minutos: - Ki Ki é bem? Não escutei [aí a gente repete a conversa desde o início, que nem sempre chega ao fim].
E eu, que ficarei sem a minha consultora para dias melhores que estão por vir? Vocês sabem que a Araci é uma ótima conselheira para todos, outros e quaisquer assuntos, principalmente os sexuais. É só mentalizar a coisa que você quer, que pimba! Dá certo. Juro que estou tentando.
A Edla com aquele bronzeado de rica, que pobre não bronzea, tosta; caiu em prantos: quem vai cuidar do meu Kardex? Buááá´. Mas como uma lady já deu a volta por cima. Decidiu esquecer este momento 69 deprê e vai dar um rolê logo ali nos unaites estades.
A Emily, também com o bronzeado ubatubense de gente fina, ficou um pouco mais aérea e não sabia se ia ou se vinha, mas não chorou. E nós não percebemos muita diferença no seu comportamento.
Já a Araci foi mais racional: pôs as cartas na mesa, digo, todos os santinhos que podemos imaginar, fez uma prece pra Deus Nosso Senhor, Nossa Senhora, Santa que desata nós, santo Expedito, São Jorge, Nossa Senhora de Aparecida, ufa! E fez um contato imediato para a filha verificar na reitoria, como é que é esse babado.
Segundo investigações sigilosas, a aposentadoria compulsória é para autárquicos e elas são CLTs e só sei que nesse vai e vem de notícias desencontradas elas estão se fingindo de mortas, no deixa como está pra ver como é que fica.
Porém, esta situação está deveras me preocupando, já levaram a Eliana, até o fim do ano quiçá, irão as três meninas, a Rejane saiu do processamento técnico foi para o empréstimo que já deu no saco e agora foi trabalhar com a Neusa. Daí pra rua é um pulo, cuidado! Nesse troca-troca a Regina saiu de trás e foi pra frente, para perto da porta de saída. Eu to de olho na Fau Maranhão. Desse jeito vamos ter que por a plaquinha:

O último a sair, favor apaguar a luz e tudo leva a crer que será um morcego.

26/02/2008

4 - Tédio

Que tédio!
Não, não vou falar do avião da TAM, já tem muita gente melhor que eu escrevendo sobre o acidente; e sim do tédio, do silêncio, das saudades dos colegas de trabalho.
Aqui, deste lado de cá da biblioteca, estamos eu, vulgo Let’s, a Edla Marie (Maria é pros pobres) e a companheira Regina. A minha mesa fica numa ponta da sala e as duas lá, bem lá longe do outro lado. Só escuto um burburinho da conversa entre as duas e o barulho dos meus cliques e das teclas teclando o teclados.
Que marasmo está aqui!
Por incrível que possa parecer, estou sentindo falta do telefone berrando para a Emily e da músiquinha do seu celular. Há dias não escuto; “TIA SUMAYA!!!” “ALÔ, ALÔ DÁ PRA FALAR MAIS ALTO?”. “AINDA CHOVE NO MEU APARTAMENTO!”. “O SENHOR AINDA NÃO MANDOU A COTAÇÃO”.
Estou sem a minha companheira de café para falar do Jack Bauer (lindo e porreta); trocar figurinhas sobre filmes; para saber as últimas notícias do uol.com.br, do estadao.com.br e outros pontocompontobr....
A Vila, mesmo silenciosa e falando baixinho, ainda produz algumas ondas sonoras.
Da Célia vem o barulho da impressora, principalmente quando as etiquetas “engastalham no rolo da impressora” (#@$&*$*#*#!!!!*&!); o som metálico da tesoura sendo colocada na mesa e o infinheki da fita transparente (durex é pros pobres)
Falta também a Eliana dando os últimos informes dos babados lá de baixo: diretoria, tesouraria, compras e afins.
Até o Katinsky sumiu! Sinto falta do seu bordão: “Ah Rá! Tá todo mundo conversando! Cadê a chefa?”. Até tu, Brutus! Nos abandonou.
E os puxa-sacos? Onde estão? Tô de diretora há 9 dias e ninguém me deu nada, nem um bolinho, uma bolachinha, um pão de queijo, um chazinho, nadinha....
Será que já se acostumaram com o meu estilo light de chefia? Será que terei de endurecer, sin perde la ternura? Esta é a primeira crônica que não termina com a frase: “e fomos comer bolo para comemorar” Fim xôxo, não?
18.07.2007

5 - Ériquinha! (Feliz aniversário)

- ÉRIQUINHA!
É assim que eu a cumprimento quando a encontro sentada no micro, digitando, digitando, com aquele negocinho no ouvido.ÉRIQUINHA! Boa tarde!, não sei porque ela se assusta? Dá um pulo na cadeira e diz: AI! Que susto! É um maior furdunço, só porque falo um pouco alto: É-RI-QUI-NHA!

Lógico que capricho no É da Érica. O diminutivo é um agrado que não sei se agrada, mas acho que combina com a meiguice de sua pessoa.
Mas tudo isso só acontece quando ela aparece, quando não tem trabalho da faculdade, quando está bem de saúde, quando o ônibus a deixa chegar, quando ela acorda cedo, quando, quando, quando, sei lá mil coisas..... É-ri-qui-nha é uma caixinha de surpresas. Todos os dias nos perguntamos:
- Será que ela vem?
E se não vem:
- Será que ela está doente?
Não faz muito tempo foi um auê, aqui no lado de cá da biblioteca. Nossa Ériquinha sumiu uma semana sem dar satisfação. A Célia, a Regina, a Mony, ligavam para o celular e caía na caixa postal, ligavam para a casa e ninguém atendia, ligavam para a mãe e necas de pitibiribas... Aí pensamos o pior:
- Tá no hospital entubada.
- Mas a mãe nos teria avisado.
- Foi seqüestrada.
- Será?
- Liga na ECA!
- Cruzes, nem tanto...
- Ah! Há! Descobri! – gritou a Regina – Ela não vem porque tem um monte de trabalho para fazer.
- Aaaaaaa boooommmm..... fizemos em coro. Mas bem que podia ter avisado, né?

Já avisei para a Ériquinha trocar de profissão, bibliotecária não tem futuro.
Já falei vai ter que agüentar us susuários chatos, vai ter que dar assunto e classificação pra livro que ninguém vai ler e depois vai destombar e descartar; vai ter que procurar livro que ninguém encontra; vai ter que descobrir se, aquele livro de capa colorida tamanho médio em inglês, é o que o professor jura que consultou um dia na sua vida. E mesmo assim, ela insiste em estudar biblioteconomia; pra mim, aquele negocinho no ouvido não a deixa escutar a voz da sabedoria!. Reclamou que só a avisei no último ano do curso, oras bolas, nunca é tarde para mudar.

- Ô ÉRIQUINHA! Eu tô avisando....Mas já que você insiste, persiste e não desiste, vamos comemorar o seu aniversário. Vamos ao bolo!

19/10/2007

6 - Customizando o puf

Lá se vão cinco anos desde que conheci o Puf Roxo e muita coisa mudou no mundo e na terra, que anda por demais aquecida e derretendo os nosso cérebros e nos obrigando a andar quase nus.
Há de convir que o modelito Puf Roxo é para inverno, e como a Neusa não está querendo transformar seu corpinho de Vênus-gueixa em molho shoyo, resolveu customizar o seu Puf Roxo.

Agora quando vou tomar café não vejo mais um alcochoado ambulante, mas uma cama-sexy-redonda-com-espelho-no-teto de salto quinze. O salto é para tornear as suas batatinhas das pernas morenas do sol do cepe.

Ela não contou o seu segredo, mas fazendo uma pesquisa em sites de moda e observando a mudança gradual da nossa colega, acho que encontrei a receita, que repasso a quem possa interessar (principalmente eu)

Receita da costumização:

- Espete o Puf para esvaziar tudo;
- Arranque as mangas;
- Uma bela tesourada no decote da frente e de trás até onde Deus permita;
- Sutiãs aos lixo!
- Joelhos, costas, ombros e colo sempre à vista;
- Ajuste o Puf o máximo que puder ao corpinho;
- Uma maquiagem definitiva;
- Um marido e/ou amante (sei lá, né) que compareça.

E enfim, a cama-sexy-redonda-com-espelho-no-teto, que treme, revira os olhos e suspira em meio aos slides, projetos e monitores está pronta para falar:

- MORRA DE INVEJA!.


07.03.2007

7- Zuleide

Não resisto, deve ser sina fazer da desgraça alheia o riso de alhures. A minha sina de falar dos outros em contos e crônicas já me colocou em maus lençóis e saias-justa, principalmente quando encomendam uma crônica, então vai esta que foi encomendada pela bruxinha Zuleide. Batizei-a com este nome, porque o que anda acontecendo nesta biblioteca só pode ser coisa de bruxinha chamada Zuleide.
Desculpe-me, não faço por mal, antes pelo riso e sorriso da Ira. É que há dias, numa noite caliente de vendaval nestes cantos de Sampa, assucedeu-se uma desgraça: a nossa amiga Luciene ao chegar em seu ínfimo lar, porém aconchegante, quis acender a luz, que não se manifestou. Ajustou então, o olhar à escuridão e qual não foi a sua surpresa ao perceber que o teto da sua sweet home havia despencado corroído por cupins. Inseto ou animal, ou sei lá que classificação dar a este vil personagem, muito comum nesta cidade.
Imagino o seu desespero, desânimo e tristeza ao ver todos os seus pertences em meio ao pó e pedras, quebrados, rasgados e perdidos para sempre. Imagino também o choro desesperado diante de tal catástrofe, e o que uma fumante podia fazer aquela hora, se não sentar-se ao meio fio e fumar, tragar o mundo bestialógico de injustiças? Eu faria o mesmo.
Mas nem tudo estava perdido, pois a Ira num ímpeto de bondade ofereceu-lhe guarida em sua modesta casa, a única condição era agüentar a Ira falando pelos cotovelos. Sem saída, aceitou o convite e lá foi a Luciene de mochila e cuia (a única que sobrou) em cima do seu salto plataforma, aboletar-se na casa da amiga.
Deus não tem culpa se levaram o carro da Lisely, se a carteira da Dina e as tintas da Rita sumiram, se levaram todos os toca-fitas da Lisely (de novo?), se chove na cama da Emily, se a Edla escreve de ponta cabeça, se a Let’s continua fazendo e não pagando promessas, se o teto do quarto da Ira também desabou e se todo mundo abona no mesmo dia.
Por isso concluo: Isso só pode ser coisa da Zuleide!

1/12/2006

8 - Sofia

Acho que já te contei que o dia que você nasceu foi inesquecível!
Tudo começou às 7 da manhã, quando você deu o sinal que queria sair da minha barriga, era a primeira contração, como dizem os médicos, que com o passar das horas foram aumentando e eu, que no início gemia às 4 da tarde urrava de dor. Até que às 18:08 h você veio ao mundo e senti o alívio i-nes-que-cí-vel!. E pensei:

- Pronto saiu. E agora que faço com isso?

O tempo passou, você foi crescendo e meus cabelos brancos também. Não preciso dizer o quanto você é importante na minha vida, quando grito: Sofia de Almeida Sampaio Ribeiroooo!!!, você sabe que só estou pedindo o seu carinho, as suas fofas mãos em meus cabelos e seus beijinhos. Lembra quando te ensinei a mexer no Orkut? E agora é você quem me ensina. E quando você me disse que estava precisando fazer novas amizades e eu perguntei se os 600 amigos do mensager e os 300 que tens no Orkut não bastavam? E respondeste que não. Morro de inveja deste seu dom de fazer amizades.

O que seria de mim se não tivesse quer lavar a louça que deixas na pia, arrumar a pilha de livros da sua escrivaninha, juntar todos os tênis espalhados pela casa, implorar que corte um pouco os cabelos, pedir a licença para usar o computador, ouvir todos os dias os discos do Rebelde e fazer promessas a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, a Nossa Senhora, São Longuinho e ao Santo Expedito que você passe de ano?

Aquela menina bochechudinha, sardentinha de olhos azuis, que batia o pé pedindo leite e pano mudou. Agora você é uma adolescente bochechudinha, sardentinha de olhos azuis que põe as mãos na cintura, bate o pé, e pede nuggets com coca-cola.


E aí me pergunto:

- E agora que faço com ela?

É difícil ser mãe, mas com você é divertido ser mãe. Começou com o médico que te trouxe ao mundo, o seu apelido de Faustão, já dá para imaginar como foi engraçado... A gente ri e dança, briga e faz as pazes, xinga e pede perdão, vamos ao cinema, exposições, feiras das vilas, você é a minha companheira, meu chaveirinho. E aí você pergunta:

- O que faço com essa mãe?

Agora, neste momento que estão lendo esta carta, você deve estar encolhida na cadeira, chorando e pensando:

- Ai que ridículo! Que mico! Tipo assim, minha mãe, falaaa sééérioo, meu. Nada haver. Isso é bizarro é tosco, aí meu Deus!

Mas fazer o quê? Esse é o meu jeito de te amar.

Te amo. Beijos e beijocas da sua crazy mamy

9 - Quando a Let´s resolveu estudar

A Let´s é uma bibliotecária que não faz o tipo engajada na profissão, lê textos da área de Biblioteconomia só quando é preciso, quer dizer, raramente. Como profissional, executa as rotinas necessárias burocráticamente.
E foi depois de vinte anos de sua formatura, que desconfiou que era preciso atualizar-se na profissão, hoje chamada de Ciência da Informação! Bonito nome não?
Entre tantas disciplinas, escolheu uma de nome bem grande : Produção e recepção de informações documentárias no mundo contemporâneo, ministrada por uma professora pequenininha. Mas como tamanho não é documento, chegou à conclusão que tamanho de conhecimento é inversamente proporcional aos centímetros de altura de qualquer pessoa.
As aulas começaram e logo de cara teve que ler um texto sobre metadados, metainformação, Html, xml e formatos de banco de dados. Seus neurônios começaram então, a despertar preguiçosamente, mas era urgente!
A Let´s passou a fazer caminhadas para ver se oxigenava e arejava o cérebro, o tico até que tentou funcionar, mas o teco se fez de morto e como o tico e o teco andam juntos, não surtiu efeito.
Veio em seguida mais dois textos e a professora pediu uma resenha dos três textos. Aí ela já começa a se descabelar: traduzir-entender-resumir-escrever uma resenha numa tacada só. Negligenciou os afazeres da casa, as roupas sujas transbordaram no cesto, esqueceu do mamão da filha, dia sim dia não, comeu pizza ou pão. Mas Deus há de iluminá-la. Pediu a São Longuinho para encontrar as palavras certas e nada, mas tinha que entregar a resenha e escreveu uma coisa pastosa e sem graça. Desculpou-se a si mesma considerando que seus tico-e-tecos ainda estão se espreguiçando de um longo sono de vinte anos.
Na terceira aula a grande mestra distribui os seminários. A Let’s toda empolgada escolhe o primeiro, teria dois feriadões para ler 120 páginas em inglês, pensou: a língua pode ser um obstáculo, mas nada como um bom dicionário. O que não imaginava era o conteúdo daquele negócio.
No primeiro feriadão descabelou-se com a resenha, no segundo jurou que leria tudo, que ilusão brother! Viajou para a cidade onde seus pais moram, toda equipada de textos, dicionários, cadernos, rascunhos, canetas, réguas, marcadores de texto, só não levou o notebook, porque não tem mesmo.
Chegando lá pediu ajuda ao pai, que sabe muito bem a lingua inglesa. Ele leu dois parágrafos e perguntou: “Para que você está lendo isso? “ Explicou que era para atualizar-se na profissão e aos novos paradigmas da ciência. Falou difícil para impressionar e ele soltou um huumm.. leu mais um pouco:
- Puxa, que coisa complicada, mas pra que isto? Resolveu explicar o que era thesauro, mas pelo menos isso a Let´s sabia.
Diante da constatação que teria que se virar sozinha, meteu a cara no texto. Mas a sua mãe começou a contar as suas dores da osteoporose. A filha atenciosa tentou faze-la ver que precisava estudar, mas a progenitora respondeu: “Você veio aqui para cuidar de mim e não para estudar”.
- Putz mãe, você está com o pé quase na cova e eu ainda tenho mais quarenta anos pra sobreviver, preciso estudar!!! Não adiantou e teve que preparar o almoço.
Mais tarde, recebeu a visita do sobrinho que morou nos Estados Unidos por um ano. Correu para mostrar o texto e pedir a tradução da palavra aboutness, que não tinha entendido e estava em todos os parágrafos das cen-to-e-vin-te-pá-gi-nas. “
- Tia ness é a substantivação da palavra.
-?!
- Pra que você está lendo isso, tia?
Sem comentários....
A esta altura, o dia da apresentação estava chegando. Revoluções cerebrais iniciam um turbilhão, os neurônios tentam recuperar informações no bakground do Id, o Ego desconfia que aí tem coisa, os avós do tico e teco começam a dar sinais de vida, as conexões ainda estão mal feitas, curtos-circuitos relevantes explodem, o tico sacode o teco, a Let´s joga os cabelos pra lá e pra cá para ver se o cérebro pega no tranco, engata a primeira, mas a bateria ainda está fraca e o recal é zero.
Num ato de loucura, expulsa a filha do computador para formatar as idéias e organizar o seu sistema de pensamento. Passa a noite digitando e escreve uma massa amorfa desconexa. Lê, não gosta, pensa em milhões de hipóteses para falar no dia seguinte. Pensa: vai dar certo, vai tudo correr bem só tenho que falar do aboutness, do indexador inconsistente que entendo muito bem, do usuário orientado, ainda que eu continue desorientada, da relevância, da informação, dos dados, da recuperação, dos sistemas. Ufa! Respira fundo e vai dormir.
No dia seguinte constada que não tem leite e nem mamãozinho para o café da manhã.
- Filha, hoje só tem pão, esqueci de comprar comida.
- Tá bom mãe, mas o micro é meu, hoje a noite, né?
Chega a maldita hora do seminário e a Let´s vai lá pra frente, na mão o seu roteiro e o coração em disparada. Tenta explicar o maldito aboutness e percebe que todo mundo já sabe, tenta mudar de assunto e vê na feição da platéia alguns desinteressados e em outros, olhares como querendo dizer: “você não está falando nenhuma novidade, mas apoiamos, vamos lá Let’s o seminário vai dar certo”
A voz falha, a mão treme, se perde. O tico cai duro o teco congela, o cérebro congestiona, como São Paulo na segunda-feira de pânico e a Let´s joga a toalha. Sai de cena, cai o pano, cai a ficha, cai o tico e o desgraçado do teco, que nem levantou, continua se fazendo de morto.
E desde então, a professora a lembra que precisa se esforçar, tem que ler, escrever e teorizar em cima da teoria dos metadados dos sistemas de informação, para recuperar a informação ao usuário orientado pelas bibliotecárias desorientadas e inconsistentes, as time goes by, em formatos xml, html, marc, Dublin Core, that no one can denay.
Well, it´s still the same old story, este sistema to be retrieval or not to be retrieval, that´s the question!

21.05.2006.
Música acidental: As time goes by

10 - Paramentada de aparelho

Cena: Eu de boca aberta, óculos de grau, em frente ao espelho do banheiro, passando fio dental en-tre-ca-da-fer-ri-nho-do-den-te.
- Puxa, meus dentes nunca ficaram tão limpos!
Primeiro escova com a escova dura, depois passa fio dental, com uma agulha de plástico.
- Difícil é achar o buraco da agulha....Hããã, foi.
Depois do fio, usa-se uma escova macia, depois aquela de tufo e por fim bochecho com anti-bactericida bucal.
- Como arde essa coisa!!!
- Arre égua! Ufa, acabou, preciso descansar.

Preciso de toda esta parafernália só porque agora, depois dos quarenta, tascaram-me um aparelho nos dentes, para tapar um buraco de um dente extraído. Risco na minha folhinha cada dia passado, como o dentista prevê dois anos e já se passaram 25 dias, portanto só faltam 705 dias para tirar este maldito aparelho.

Esta triste estória começou quando o dentista, muito atencioso e simpático explicou tintin por tintin como consertaria o buraco da minha arcada dentária e que por isso, teria que usar o aparelho por dois anos. Apesar de não conseguir imaginar como seriam os próximos 730 dias da minha vida, achei divertido, como toda criança que quer colocar aparelho. Fiquei animada com a possibilidade da minha fisionomia mudar. Você algum dia pensou mudar as suas marcas de expressão de lugar com um simples aparelho? Nem eu.
Mas quando contei para as minhas amigas a novidade, comecei a desconfiar que a coisa não seria tão divertida assim. A primeira a me animar disse: é sempre assim, o dentista fala dois anos e você fica seis.
A segunda avisou: não use o transparente, pois é arriscado principalmente quando você comer uma beterraba.
A terceira: reserve meia hora de sua vida a cada escovada. Fiz as contas: quatro vezes por dia: duas horas.
Outras opiniões: O bom que emagrece. Geralmente optamos por não comer só de lembrar que temos que escovar os dentes.
Nos primeiros dias tudo dói, aí quando você se acostuma, o dentista vai e crau, aperta e tudo volta a doer.

Voltei no dia combinado, não muito animada, mas aceitando o meu destino cruel. Em quarenta minutos o profissional cascou-me os ferrinhos. Fechei os lábios e já comecei a sentir o incomodo e saí do consultório matutando: Ah! Elas exageraram, não está doendo nada....
Contudo, ao chegar em casa com a barriga roncando, mirei o pãozinho francês e dei-lhe uma bela mordida. Dei não, tentei, pois foi aí que vi as estrelas brilharem na parede da cozinha e pude humildemente aceitar os avisos dos colegas.
- Arre! Não é que elas têm razão! Isso dói! Meu Deus agora faltam 729 dias e 22 horas para tirar essa coisa!!!!

Passado o susto dos primeiros quinze dias, adotei algumas táticas do programa Fome Zero: muito sorvete, Toddynho no lugar do pão de queijo-e-café; purê em vez de batatas fritas; pão quadrado no lugar do querido francês (esta é a pior parte!). Pipoca, só em casa. Prato ideal: arroz com carne moída, nada dói e a pasta desce pela glote na boa.

Outro dia arrisquei comer alface cortada em tirinhas, tive que chupar como tivesse comendo macarrão e por não conseguir triturar os alimentos, aquela coisa verde grudou na garganta e não descia. Tossi, engasguei, bebi água, muita água e aí foi. Ufa. Não como mais folhas verdes.
Mas há o lado bom: emagrecemos e os dentes ficam limpos: quando come, sai correndo para escovar os dentes; se estiver com preguiça de fazer o ritual dentário, simplesmente, não come e passa fome.
Por outro lado, quem tem filho pré-adolescente, como eu, ainda corre o risco de escutar a máxima: Mãe, adulto de aparelho é ri-dí-cu-lo!
Ao vigésimo-quinto dia aparelhada, já sinto minhas calças caírem, estou fechando a boca, a limpeza está jóia, melhor que nos meus últimos 46 anos, mas tenho o retorno marcado para a próxima semana, quando provavelmente o dentista vai olhar, vai falar:
- Huuummm, tá bom, ta jóia! Vai jogar aquela aguinha que espirra pra todo lado e dar o famoso aperto e eu, pobre de mim....voltarei a me alimentar de todynho, suquinho, leitinho, pãozinho mole, sopinha e outros inhos molinhos, só para não revirar os olhinhos de dor.


20/08/2006

11- Extraindo um cérebro

A minha saga de problemas dentários vem de longe, desde criança freqüento dentistas.Lá pelos idos dos meus lindos 15 anos, obturei umas 20 cáries, duas em ouro! Anos passaram, canais e coroas foram executadas, placa de bruxismo, limpezas, extração do sizo, tudo ou quase tudo foi feito em minhas arcadas.
Mas agora no alto dos meus quarenta e seis anos uma coroa caiu, provisoriamente deu para colar de novo, mas segundo o diagnóstico do meu irmão, dentista, seria necessário fazer um implante, então formou-se um pool de profissionais dentários para discutir o meu caso. Primeiro uma radiografia. Verificaram que não tenho osso para um implante, uma ponte? Também não, pois aquele dente que poderia segurar o falso é pequeno demais. Por que meus dentes haveriam de colaborar e facilitar a nossa vida? Não, tinha que complicar.
Aí pediram uma documentação, sem imaginar o que era, lá fui eu ao laboratório de radiografia. Passei a manhã tirando raio-X, fotografia de todos os anglos do meu rosto, boca aberta, boca fechada, de frente, de lado, boca arreganhada, molde e sei lá mais o quê.
O resultado foi encaminhado diretamente ao pool, que discutiram, analisaram e chegaram a magnífica conclusão: arranca o que sobrou do dente e coloca um aparelho.
Como não tenho medo de dentista, recebi a notícia numa boa. Arranca e coloca aparelho. Tudo parecia que seria uma cirurgia simples: anestesia, um corte na gengiva, o buticão, balançar o dente, afrouxar a raiz, um puxão e pronto, extrairia o dente, ou melhor, o pedaço que sobrou.
Cheguei na hora marcada, às 13:30 horas de uma quarta-feira. Sentei na cadeira, o dentista abaixou o encosto, de modo que fiquei deitada olhando ora o teto, ora as janelas. Uma sala clara e bem iluminada pelas imensas janelas, que mesmo deitada, podia ver o sol brilhar à minha esquerda num mês de julho atípico, fazia calor mas lá dentro o ar era fresco. Eu, paramentada de babador e guardanapo na mão, ele, de luvas cirúrgicas, óculos, preparando os instrumentos na bandeja; verifica a seringa da anestesia, mas percebo que são vários tubinhos, respirei fundo e pensei: vamos lá, coragem é só um dente, tudo acabará logo.
Uma picada ali, outra aqui, mais uma, outra no céu da boca, que dói pra burro. Fecho os olhos e tento pensar em outra coisa e idealizo umas férias em Cancun, que se esvai na primeira tentativa do dentista.
Sinto empurrar o dente para cima e para baixo, pro lado e uma lágrima de dor escorre.
- O quê que é? Vai chorar agora?
- Não, não, pode continuar, não é nada....
Mais um pico de anestesia e sinto a mandíbula indo para a esquerda e o maxilar para a direita, minhas atms reclamam, fico em silêncio, não podia levar mais uma bronca.
- Merda, não podia arrumar um dente mais fácil de tirar?
Não ouso responder, afinal de boca escancarada só podia rezar e rezei, rezei para todos os santos, fiz promessas a São Longuinho, à Nossa Senhora de Aparecida e nada.
O dentista fica de pé e muda de posição, com um instrumento que penso ser, uma chave de fenda, empurra o dente e sinto a costura do encosto da cadeira penetrar em meu cérebro.
- Caracoles! Não vai sair? - reclama o dentista
As horas passam, mais anestesia, sinto o sol queimar as minhas pernas, já devia ser três da tarde e a luta continua, meu irmão. Ele forçando o maldito dente, o maxilar quase caindo, a cabeça prensada na cadeira, tufos de gazes, anestesia, buticão, chave de fenda, chave inglesa, suas mão esmagando as minhas bochechas e? e nada, não queria sair.
Escuto o barulho do famoso motorzinho de dentista.
- Tá partindo para ignorância, pensei e rezei, é claro.

Lembro da dor do parto da minha filha. Dizem que é a pior dor que se pode sentir, mas pelo menos podemos gritar e xingar quem nos deixou naquela situação, inclusive toda a equipe médica que nos assiste, mas num consultório é só você de boca aberta sem poder falar nada e o dentista equipado de todos instrumentos de tortura.
O sol enfraquece, ele xinga mais um pouco, solto um suspiro profundo de cansaço, era uma luta quase vencida por um mísero pedaço de dente. Suplico que martele, mas ele responde que não pode fazer isto.
O crepúsculo, que não era dos deuses, tinge o céu de vermelho. E a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar... já dizia o Raulzito, anuncia o fim da luta às cinco e meia, hora de Brasília:
- Até que enfim! Ruge o dentista. Está aqui o maldito!
Olho para aquele pedaço infame de osso, tão pequeno sem saber se sentia alegria, ódio ou a felicidade de um parto, mas ele era como um filho indesejado, não quis saber dele, não quis guardá-lo como lembrança.
Senti então, os pontos sendo dados rapidamente, nem pedi outra anestesia, pois queria que aquela tortura acabasse logo, assim como ele. Cirurgia finda, voltou a cadeira em posição normal para que o sangue voltasse a circular em meu corpo e eu não desabasse ao levantar.
Dispensada corri para o elevador onde haviam dois homens e uma mulher. Me sentido um extra-terrestre com o rosto inchado, me justifiquei daquela situação:
- Está na cara que estou saindo do dentista, né?
A mulher deu um sorriso...
- E olha que é meu irmão!
- Nooossaaa, imagine se não fosse?
- Pois é, acho que vingou todos seus traumas de infância. É que eu tirei o seu posto de filho caçula quando nasci.
- Deve ser....
Térreo. Saí correndo para o carro e um choro compulsivo e descontrolado veio à tona. Dirigi de volta para casa. Meus pais vieram me receber à porta, pensei que fosse uma calorosa recepção, afinal nunca fazem isto, mas devido o adiantado da hora, quase 7 da noite, meu pai, meu querido e bom velho pai, me pergunta:
- você trouxe o jantar e o pão de amanhã?
Minha mãe equilibrando-se na bengala, só coração de mãe podia responder isso:
- Sampaio..... vá à M....
Agora, estou com aparelho nos dentes, mas isto... será uma outra história...

Letícia 29/07/2006

12 - Homenagem ao meu Rei.

Estou deveras triste, pois o meu rei, o meu muso, a minha fonte de inspiração, o Rodi se vai. Vai nos deixar e agora? quem vai encher o meu carrinho de livros, que quando estou prestes a esvaziá-lo, vem e diz:
- Ó, estes são compras.
- Estes têm produção científica.
- Estes estão pedindo com urgência.
- Este, não cabe no armário.....
E assim por diante, sempre com uma desculpa para encher o meu saco, ops, o carrinho. Mas às vezes o meu rei é um doce, me trás, junto com uns livrinhos, um bombom para adoçar a minha vida...
Mas só ás vezes!!!

Pois é, aquele baianinho que um dia largou o sol e a vida lenta de Salvador e veio de mala, cuia e papagaio, para tentar a sorte na apressada São Paulo, se deu bem, de tombador de livros virou um mestre filósofo ou será um filósofo mestre? Sei lá, pergunta pra ele.
Trabalhou por anos numa biblioteca obviamente cheia de mulheres, feito um paxá no seu harém, ainda que este harém não fosse lá essas coisas.

E foi nos primeiros dias de janeiro de 2006, ano do cachorro! que o Rodison chegou para a Emily e disse:
- Emily, ó, assim.. é que, então, eu fiz um concurso para professor...
- Que?! Peraí – arrumou a mesa, fechou todas as janelas do windows, desligou o celular, olhou para aquele ser pensante que a aguardava e disse: - Pode falar.
- Então, como eu estava falando, prestei um concurso ...
- Como? Concurso? De quê?
- Con-cur-so para ser pro-fes-sor no Es-ta-do...- falou meu rei, pau-sa-da-men-te tentando ser o mais suave possível com sua chefe, mas não adiantou muito.
- Mas então você vai nos deixar? Vai pedir demissão, peraí a gente pode ver com a Eliana, ou no DP, ou com o diretor, ou na Reitoria, para não perder o seu FGTS!

Com toda a paciência e a pressa baiana que Deus lhe deu, ele continua:
- É o que estou tentando lhe dizer...e...

Emily se agita, levanta da cadeira e solta um Ai Meu Deus! Não posso ficar sem você!
- Quem vai tombar? Quem vai destombar? Quem vai te substituir? Quem vai me agüentar? Quem vai controlar as compras? Quem vai preencher os pedidos? Quem vai atender o telefone? Quem? Quem? Quem vai?

E continuava agitada, anda pra lá e pra cá, toma um copo d´água, chama a Eliana:

- Eliana! O Rodison vai embora!
- Edla! o Rodison vai ser professor!
- O Rodison vai nos deixar!
- E agora Rodison? Como é que vai ser?

Estava para ter uma síncope cardíaca, um piti dos bons, então, ele suspira um suspiro profundo e diz:

- Diante de tantas perguntas as quais não sei se vou poder responder, assim, então, você Emily, tem que entender. As coisas mudam, a vida muda, as pessoas mudam e eu, não sei, é a vida. Um dia a gente está aqui, noutro ali, qualquer ser pensante é dialético e eu sou um ser pensante. Penso, logo existo e eu existo, sabe? estou aqui, Emily.... em carne e osso, ao vivo e a cores, sabe? assim, então, quero dizer, que todo este tempo que trabalhei aqui foi ótimo (frisando bem o óóó) as pessoas são ótimas, trabalhar com livros é ótimo, mas a minha vida está mudando, eu estou mudando, as coisas mudam. Veja bem, durante anos a minha aparência foi mudando, eu tinha cabelo, por exemplo, no meu interior agora sei nadar, mudei de casa e agora vou mudar de emprego. Então, assim. Ta.

Parou um pouco para respirar. A Edla só foi capaz de responder : É tudo muda....e continuou lendo o email da filha dos Estados Unidos, que mandou uma nova foto da Sofia.
A Emily continuava sem som. A Célia sem palavras, a Eliana bebendo água, a Vila atendendo ao telefone e a Regina sorriu e disse: É isso aí companheiro!

Meu rei olhou para o relógio:
- Então gente, vou tomar café.

E se foi deixando o seu pequeno harém boquiaberto com as suas profundas palavras.
E eu só fico aqui pensando, quem é que vai por ordem naquelas malditas doações.

Ah! Meu rei! Me deixe não.

Letícia 30/01/2006