quarta-feira, 12 de março de 2008

23 - A Costureira maluca

Lisely, moça fina, criada num dos melhores colégios de São Paulo. Desde cedo aprendeu a cozer, cozinhar, bordar, tocar piano, recebeu a mais fina educação que uma tradicional família paulistana pode oferecer aos seus pimpolhos. Jamais diz um palavrão e se o diz, parece um elogio em seus lábios ( ela é tão fina que a palavra boca não cairia bem nesta frase)
Casou-se com um rapaz de fino trato, bom partido, como mamãe queria.
Tornou-se bibliotecária, mas escolheu dentro desta profissão, trabalhar com restauro e higienização das obras raras e/ou despedaçadas.
Uma das suas atividades é costurar umas malditas pastinhas contendo xerox de textos malditos - viu como é bom aprender a costurar desde criança? E a Lisely adooooraaaa costurar. Costura pasta, costura livro, costura lombada, costura envelope, costura etiquetas, costura, costura, costura.
Num dia lindo de sol, verão, calor, daqueles dias que o vapor sobe do asfalto e tudo treme, sabe? Sim, aqueles dias torrificantes tropicais de sol escaldante em que as nossas cabeças pesam, dilatam-se tanto que as idéias parecem que estão espremidas no cérebro. Pois é, foi num dias desses que aconteceu algo de estranho na FAU:
A Lisely chegou um pouquinho atrasada, com os cabelos molhados e ainda por pentear e começou a trabalhar.
Passou a linha no buraco da agulha, deu um nó e começou a costurar as pastinhas. Como eu precisava de uma dessas malditas pastinhas, me encaminhei à sua sala, mas no caminho encontrei algumas colegas voltando de lá com a boca estranhamente fechada.
Dei bom dia para a Iracema, ela respondeu hum, hum. Dei bom dia para a Neusa, recebi a mesma resposta, encontrei a Rosilene e o mesmo aconteceu, a Rita, a Satiko, a Vânia, todo mundo me respondia Hum, hum!?
- O que se passa? Perguntei a mim mesma....
Quando entrei na sala da Lisely encontrei uma bibliotecária transformada: com a agulha e linha na mão, a vi costurando a boca de mais uma colega!
Pedrifiquei-me.
Com aquela voz suave, me convidou para sentar:
- Oi, Let’s, senta aí que você será a próxima, você sabe como eu adoro costurar..
Mas eis que por um milagre chegou a Mony para me salvar. Só ela poderia nos salvar!.
Só a Mônica poderia catar a Lisely, dar-lhe um esculhambo, a sacudir tanto até seus lindos cabelos molhados secarem e a deixa-la mais descabelada.
E foi assim que a Lisely saiu daquele transe de costureira maluca!
Descosturar a boca de todo mundo foi duro, mas deu tempo de comer o bolo de aniversário de alguém.

(Parece um sonho...mas é bom ter cuidado com essas manias da Lisely...)

Letícia 19/09/2002

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